Haverá pouco mais de um mês escrevi este postal, tudo por causa da maneira como cada um dirima a sua própria doença, especialmente através da quantidade de comprimidos que toma.
O curioso é que ontem calhou a vez ao meu pai que do alto dos seus 91 anos de idade dizia, quase com graça, à médica que o anda a seguir, após esta lhe ter receitado mais um comprimido:
- Ó Dôtora daqui a nada não me chega um dia para todos os comprimidos que tenho de tomar...
Ao sorriso da médica, continuou:
- Mais um comprimido significa que estou cada vez pior...
Para finalizar:
- Acha que vale a pena?
A médica desfez-se em razões quase óbvias, mas o meu pai não ficou muito convencido! Já no carro a caminho de casa, apercebi-me que fazia contas. Nada lhe disse pois já imaginava que seria dele que partiria a conversa:
- Sabes quantos comprimidos tomo por dia?
- Isso interessa? O que realmente conta é que cada um tem a sua função profilática ou curativa.
Um silêncio que estranhei. De súbito remata:
- Curativa? Ou será para adiar o que é certo?
Percebi a sua ideia, mas não lhe respondi... O silêncio nestes casos é de ouro... fino!
É mais ou menos pacífico a ideia de que se vive mais tempo agora que antigamente. As contas da Segurança Social que o digam pois de vez em quando acrescentam mais um mês ou dois à idade da reforma. Parece pouco mas em milhares de pessoas ainda são uns milhões que poupam. Mas adiante...
Isto para dizer que uma das razões para que vivamos mais anos prende-se naturalmente com a medicina e os sucessivos avanços das últimas centenas de anos. Basta lerem o "Físico" de Noah Gordon para perceberem quanto a medicina evoluíu.
Porém se não fizermos outrossim a nossa parte, damos de barato a oportunidade de cá estarmos mais um tempo. E a tal nossa parte está ao alcance da mão. Numa pequena caixa, quase sempre de plástico, e onde residem aqueles comprimidos milagrosos que nos deixam viver.
O mais engraçado é que as pessoas muito mais velhas que eu avaliam a gravidade das suas doenças pelo número de comprimidos que tomam diariamente! Quanto mais comprimidos pior parece ser a maleita!
Por este lado também já aderi à caixa... Mas não vou referir o número, nem a cor, nem sequer o tamanho das minhas pílulas!
Mas uma coisa é certa: ando bastante doente, pois passo as noites todas de cama!