Onde estavas no... 25 de Novembro?
Ao que consegui somente hoje perceber, o Presidente da Câmara de Lisboa deseja que haja iniciativas para a comemoração do 25 de Novembro de 1975.
O Verão Quente desse já longínquo ano poderia ter-se tornado ainda mais quente se alguns militares quiçá mais lúcidos e menos políticos, não tivessem percebido o que se estava a gerar na população.
Nessa altura o meu pai comprou até um rádio, creio com onda curta, para escutar uma rádio que tinha uma emissão em Português e que era a conhecida Deutsche Welle. Através desta estação conseguia-se perceber melhor os acontecimentos, até porque a televisão evitava criar pânico popular.
Recordo de ouvir falar de marchas oriundas do Norte a descer até Lisboa e creio terem sido paradas por militares em Rio Maior. Lembro-me das manifestações pela liberdade e contra o Conselho de Revolução na Alameda D. Afonso Henriques, do sequestro do Governo, na altura chefiado por um Comandante da Marinha de nome Pinheiro de Azevedo, de uma série de pequenos e grandes eventos que obrigaram algumas forças militares, nomeadamente para-quedistas e Comandos, a tomaram posições em sítios estratégicos.
Portugal desde o 25 de Abril de 1974 vivia um ambiente frenético, muito próprio deste tipo de golpes de Estado (mais tarde renomeado como Revolução) a que algumas forças políticas chamaram de PREC (Período Revolucionário em Curso).
Nestes 19 meses que distaram Abril de 74 a Novembro de 75, nacionalizou-se a banca, seguros e as maiores empresas do País. A reforma agrária parecia estar em força para no momento seguinte perceber que nem tudo seria um mar de rosas na agricultura.
Destruíu-se também muito tecido empresarial revertendo os custos desta danosa gestão para um Estado que vivia ainda do que vinha de África.
O 25 de Novembro nasce. como já referi, porque alguns militares rapidamente perceberam que Portugal caminhava para uma ditadura à imagem de Cuba. E sendo o nosso país elemento permanente da OTAN (ou NATO), esta eventual possibilidade poderia originar uma guerra civil com contornos políticos internacionais muito preocupantes. Lembro-me de ter atravessado o Tejo num vetusto Cacilheiro e ter notado na quantidade de vasos de guerra estrangeiros fundeados no "Mar da Palha".
Por esta altura eu ainda frequentava o Liceu Nacional de Almada e dei conta de muitas escaramuças pelas ruas da cidade, rapidamente controladas pela intervenção de elementos da Força de Fuzileiros.
Foram tempos agitados, mas ao mesmo tempo de uma rápida aprendizagem e consciencialização política.
A exemplo do que acontecera em Abril do ano anterior e sendo o meu pai militar, logo fui por este avisado para não sair de casa e nem ir à escola nesse célebre dia!
Portanto no 25 de Novembro eu estive em casa... Mas sinceramente é coisa que já não recordo!
E vocês onde estavam?