Estou a escrever este postal em pleno Estádio José de Alvalade. Somos três adeptos que vimos no mesmo carro que ficou estacionado longe, mas em lugar próprio.
A caminho do estádio deparei com muitas viaturas em cima do passeio obrigando os peões a terem de caminhar em plena estrada (eu incluído) com os evidentes riscos.
Todavia desta vez encontrei diversos agentes da polícia municipal munidos de reboques e a multar as viaturas indevidamente estacionadas em cima do passeio. Mesmo calculando que muitas serão de adeptos do meu Sporting, ainda assim não deixam de proceder de forma errada.
Portanto não imagino o dono a chegar ao local e não encontrar o seu carro. Vai ser bonita a conta. E já nem falo da arrelia.
Já por aqui referi o meu imenso gosto pelo tempo de praia. O Sol e o mar são as principais forças que me levam até um areal para desfrutar desta relação. Gosto de longas caminhadas à beira mar, de sentir o astro-rei a aquecer-me, de ler um livro e acima de tudo de dormitar estendido numa toalha.
Só que, como tudo na vida, há na praia situações que não aprecio, diria mesmo que detesto. Se algumas ninguém consegue controlar, outras há que não posso fazer nada mas que me irritam na mesma.
Eis ora a lista:
- Vento. Esta é daqueles fenómenos naturais que ninguém manda, mas chateia-me estar a ser sovado selvaticamente pela areia;
- Os fumadores. Sei que há a tal de liberdade. Mas se há liberdade para os fumadores conspurcarem tudo em seu redor eu também deveria ter a liberdade de não ser fumador passivo;
- Os jogadores de bola. Esta maltinha são daqueles que jogam em qualquer metro quadrado. E nem se preocupam na possibilidade de magoar alguém;
- O chapéu de Sol com vida. Este ano foram diversos os casos de chapéus que sairam do seu lugar e alguns até foram parar dentro de água. Um desses acertou-me, por sorte, no pé... E se fosse num olho? Pois;
- O luso-francês. Aquele emigrante que há um par de anos partiu para terras gaulesas e agora chega cá de "vacances" e só sabe falar a língua de Victor Hugo, olvidando a sua lusa origem.
Portanto sem esta mão cheia de eventos a praia seria um local perfeito.
Como automobilista prefiro andar mais um ou mais quilómetros para fugir aos centros urbanos que atravessar uma cidade em pleno dia. Tudo por causa das passadeiras de peões que, como todos sabem, são para mim horríveis.
É verdade que este meu despeito advém de um acontecimento (leia-se atropelamento) que eu causei numa passadeira vai para mais de uma dezena de anos. Um momento que marcou a minha vida para sempre, não obstante o peão ter ficado bem (esteve uns dias em observação no hospital de Santa Maria, mas saiu sem mazelas).
Todavia há algumas que não posso evitar, como por exemplo ao fim da minha rua onde há uma passadeira sempre com muita gente a passar.
Ora um destes dias parei nessa zebra rodoviária para permitir que uma mãe a atravessasse em segurança, levando uma criança pela mão. Enquanto percorriam os três a quatro metros da rodovia, o menino olhou para mim e fez-me adeus sorrindo, num agradecimento que me envergonhou, já que não o costumo fazer quando sou peão.
Fiquei a matutar naquele gesto tão genuíno e tão puro e concluí que mesmo com esta idade ainda tenho muito para aprender! Mesmo que seja cidadania!
A (boa) cidadania não é um privilégio das pessoas de bem, mas uma (quase) obrigação de todos aqueles que vivem em sociedade. E não importa qual o estatuto que cada um apresenta, estudos que tenha ou dinheiro que exiba. Todos, mas todos devemos perceber que vivemos num mundo que não é exclusivamente de cada um de nós, por muito que isso custe a muita maltinha.
Hoje curiosamente alguém me contou um episódio com um condutor que desejava estacionar num lugar reservado a pessoas com mobilidade reduzida. Outra amiga comum entrou também na nossa conversa e reportou caso semelhante.
Portanto uma... anormalidade quase normal!
Coincidência hoje surgiu-me um caso semelhante. Duas moradias antes da minha é um restaurante. Muitos clientes vêm a pé, mas outros chegam de carro. Estes, sem qualquer problema, têm a tendência de estacionar em cima dos passeios, que já de si não são muito largos, reduzindo o espaço para os peões passarem. Ora como calculam o passeio à frente da minha casa é muito apetecível para estacionar.
Hoje andava a tirar ervas do dito passeio. Não tenho muitas, quase nada, mas mantendo assim tenho menos trabalho. De repente percebi um carro parado na estrada. De relance vi que estava à espera que eu saísse para ocupar o lugar. Mantive-me a trabalhar. Até que de súbito sinto tocarem-me no ombro:
- Bom dia, diga! - perguntei.
- Vai ficar aí muito tempo?
- O que isso o incomoda?
- Ah preciso de estacionar aí...
- Ok. Então deixe-me lá ir dentro buscar a máquina de Multibanco. Ou se preferir pode pagar via MBWay.
Completamente desarmado com esta minha atitude, ainda ousou:
- Mas aqui paga-se?
- Claro! Então o senhor quer ocupar indevidamente um espaço pedonal, ainda por cima à borla! Nem pensar!
Terminei com esta tirada:
- Mas fique já ciente que vou cortar a minha relva (mentira), mas não serei responsável por algum vidro partido vindo da máquina.
O homem dá um salto para trás, mete-se no carro e não sei se foi estacionar noutro lado ou simplesmente foi embora. Nem me preocupei!
Este foi um caso entre centenas ou milhares que assistimos diariamente.
Os condutores a par dos fumadores serão, quiçá, das pessoas menos conscientes com os outros. Eu sei que esta é uma bravata minha bem antiga, mas de vez em quando gosto de lembrar às pessoas que viver em sociedade não é só ter muitos amigos no feicebuque, mas simplesmente aceitar algumas regras tão básicas como "apenas" respeitar os outros cidadãos!
Já por diversas vezes falei aqui da minha má relação, para não dizer péssima, com as passadeiras de peões e mais ainda com os próprios peões.
Por via das dúvidas consultei há tempos um advogado amigo que me esclareceu que as passadeiras são sítios próprios onde os condutores de veículos, motorizados ou não, deverão dar prioridade de passagem aos peões que se encontrarem na berma da estrada com o desejo evidente de a atravessar.
Até aqui, goste ou não se goste, é a lei e portanto "dura lex sed lex".
Todavia a prioridade é dada nas faixas listadas quase sempre a branco na estrada, não deve ser em qualquer lugar duma rua.
Falo disto porque o meu pai, um destes dias atravessou a estrada sem ser na passadeira. Por acaso não vinha qualquer viatura e não teve problema. Como o meu velho pai todos os dias sou testemunha de muitos idosos a atravessarem as ruas sem se preocuparem em fazê-lo nos lugares devidos e forçando a paragem do condutor no meio da via, arriscando o peão a levar com uma qualquer motoreta, dessas de entregas de comida que se esgueiram por todo o lado.
Sinceramente... ainda não consigo entender qual a pressa do idoso que o leva a colocar em risco a sua própria vida e quiçá estragar a vida de um condutor.
Para piorar a coisa noto que quanto mais limitado em andar a pessoa idosa está, mais se afoita na estrada!
Nestes dias de pluviosidade incomum o trânsito na capital, já de si assaz caótico, tende a piorar. Ou seja pela muita chuva que obriga a andar mais devagar ou seja pelo estado das ruas sempre muito deterioradas e raramente remendadas.
Os artistas que comandam as áreas dos pavimentos têm pouco senso para a possibilidade de dias com muita chuva, como são os de agora. E esta insensibilidade vê-se na maneira como os arruamentos são feitos, sem escoamentos capazes de evitar os lagos de água que vamos encontrando.
Não me venham com a ideia de que a cidade é centenária pois há zonas novas onde o problema das inundações das ruas também acontece! A maioria das vezes porque as sarjetas encontram-se entupidas e só ajudam alguns condutores imbecis que ao verem uma poça de água junto ao passeio adoram acelerar. Percebem para quê, não percebem?
Por causa desta postura de alguns automobilistas vi alguém, há muito tempo, no passeio com um calhau na mão... Nem imaginam como as velocidades se reduziram!
Não imagino o que será irmos, em tempo de férias até à praia e depois ficarmos apeados... por mau estacionamento!
Escrevi que não imagino porque tenho por hábito arrumar sempre bem o carro e nos sítios devidos. É a pagar, mas não me importo. Antes pagar diariamente dois euros que apanhar o susto de ficar com o carro bloqueado ou rebocado.
Trago este assunto porque no passado Domingo reparei numa série de veículos estacionados à beira da estrada ultrapassando a linha amarela de proibição, já para não falar do sinal vertical indicativo da inibição de parar e estacionar. De volta de alguns deles estava já a autoridade a ajudar o reboque a levá-los dali para fora. Estão a imaginar a cara dos veraneantes quando não encontraram o seu carro, não estão?
Esta situação das multas e reboques nesta zona balnear é recente! Mas durante aaaaaaaaaaaaaaaaaaaanos aquilo era um "ver-se-te-avias" de carros estacionados causando inúmeras vezes graves transtornos na normal circulação do trânsito!
Já nessa altura estavam lá os sinais e linhas contínuas que o tempo foi desgastando. Mas tenho a certeza que em consciência quem ali parava sabia que estava a fazer algo incorrecto.
Só que este ano tudo mudou. Os avisos são muitos, as linhas contínuas deixaram de ser brancas e passaram a amarelas, mas o condutor xico-esperto considera que nada daquilo é para si! Porque normalmente a xico-espertice vive e convive bem à margem da lei.
Vi diversos carros a serem rebocados no Domingo, mas hoje estranhamente (ou talvez não) já lá estavam outros! Como saí cedo da praia não sei o que lhes terá acontecido, mas estas poderão ser umas férias inesquecíveis para muitos destes condutores armados em xicos-espertos!
Um destes dias li algures uma estória (não imagino se verdadeira ou falsa, mas gostaria de acreditar que será verdadeira) relatando que numa cidade da Suécia as estações do Metro têm uma porta permanentemente aberta para acesso gratuito ao transporte. Alguém perguntou o porquê ao que responderam que servia para aqueles que não podiam pagar o metro ou que tivessem esquecido, por exemplo, da carteira em casa com dinheiro. Questionaram ainda se aquilo não levaria a outras pessoas a aproveitarem-se e andarem gratuitamente ao que o sueco deixou uma questão: por que fariam isso?
Sinceramente não consigo imaginar um português a comprar bilhete tendo ali uma oportunidade de se deslocar gratuitamente. Não imagino. Ponto.
Mas tudo é uma questão de mentalidade, educação, urbanidade e... civismo. Que se plasma na ideia de que para os suecos os outros são mais importantes que eles mesmos!
Uma filosofia impossível de implementar em Portugal, já que os maus exemplos principiam, infelizmente, por cima!
Não me compete fazer qualquer campanha para as dádivas de sangue, mas entendo que é um recurso escasso e que necessita de permanenente incremento de reservas.
Durante alguns anos fui também dador. A empresa onde trabalhei tinha um acordo com o Instituro Português do Sangue e de seis em seis meses lá aparecia uma enorme carrinha transportando um conjunto de equipamentos para recolha. Eu e os meus colegas tinhamos uma manhá dedicada à iniciativa.
Hoje por motivos clínicos jã não o posso fazer, mas tenho muita pena!
Esta é uma daquelas iniciativas que deveriam ser mostradas, elucidadas e fomentadas nas escolas. Não na idade infantil, mas um pouco mais tarde. Se a juventude está tão capaz para fazer e decidir tanta coisa na sua vida, também acredito que seriam capazes de se tornarem dadores de sangue.
Formar bons cidadãos não corresponde somente a ensinar o que foi o 25 de Abril de 74 nas escolas, mas explicar que aquele acontecimento histórico serviu para nos tornarmos melhores cidadãos.
Conhece-se um povo pela forma como aceita a cidadania... do outro. Bem vistas as coisas um cidadão só o é verdadeiramente na relação que mantém com as outras pessoas.
Dito isto há muito que por aqui vou defendendo a ideia de que a cidadania deveria ser uma disciplina obrigatória desde a escola primária. Já que muitas vezes os próprios pais não a sabem ensinar.
Diz o povo que "burro velho não aprende", mas nem sempre é verdade. Por isso diversas vezes toca-me um sino cá e aí vou eu tentando mostrar a outros o que é essa coisa da cidadania.
Duas moradias ao lado da minha há um restaurante. Assim às horas do almoço a rua enche-se de carros cujos condutores os estacionam quasem sempre em cima do passeio, obrigando os peões a sairem para a estrada pondo em risco asxsuas vidas.
Ontem alguém estava a estacionar no meu passeio e encostou tanto o carro à parede que mais uma vez impedia que um peão passasse.
Perante a situação disse ao cidadão, ironicamente:
- Pode encostar mais, sem problema! Os peões que vão para a estrada.
O cidadão retirou o carro do meu passeio, para o ir estacionar... em cima do passeio do outro lado da rua.
Portanto não percebeu a minha ironia. De todo!
E agora como se ensina esta gente o que é a cidadania e o respeito pelo próximo?