Há uma vintena de anos passei a visitar a Feira da Ladra em Lisboa com um colega de trabalho, especialmente à terça-feira. Por aquela altura ainda se arranjavam coisas curiosas e engraçadas. Hoje há demasiado lixo.
Entretanto no início deste mês relatei aqui como adquiri uma das minhas caixas de charão que vou juntando. Acabei por prometer à Peixe Frito que um dia publicaria aqui algumas fotos de todas as minhas caixas.
Chegou hoje o tal dia até porque se não o fizesse já acabaria provavelmente por me esquecer.
Junto infra fotografias de 15 caixas de charão e não só. Numa breve explicação que requer obviamente confirmação, diria que as caixas eram maioritariamente usadas por senhoras como caixas de música e onde se poderiam guardar objectos pessoais. Parte delas têm origem na velha China e o charão mais não é que a técnica de pintura com laca. Há de diversas formas e feitios. Pintadas todas só por fora, uma pintada também por dentro, na tampa, e outras com pinturas no tecido interior.
Não diria que é uma colecção, mas tão somente um pequeno conjunto.
Caixa nº1
Caixa nº 2
Caixa nº 3
Caixa nº 4
Caixa nº 5
Caixa nº 6
Caixa nº 7
Caixa nº 8
Caixa nº 9
Caixa nº 10
Caixa nº 11
Caixa nº 12
Caixa nº 13
Caixa nº 14
Caixa(s) nº 15
Características:
Caixa nº 1 - 30 x 20 pintura em laca. Sem pintura extra no interior;
Caixa nº 2 - 15 x 15 pintura em laca. Sem pintura extra no interior;
Caixa nº 3 - 20 x15 pintura em laca. Caixa de música, forrada a tecido, com espelho e divisórios interiores com tampas pintadas;
Caixa nº 4 - 10 x 6 pintura em laca todavia um desenho bordado em tecido e incluído sob um vidro;
Caixa nº 5 - 50 x 20 pintura em laca. Uma belíssima caixa de música muito bem estimada e com uma característica rara: tem chave para a fechadura;
Caixa nº 6 - 30 x 25 não sendo uma caixa de pintura em laca ainda assim tem uns embutidos em marfinite muito curiosos. Mais uma caixa para a beleza feminina;
Caixa nº 7 - 20 x 15 pintura em laca. Caixa de música, forrada a tecido, com espelho e divisórios interiores com tampas pintadas;
Caixa nº 8 - 25 x 14 pintura em laca. Caixa de música faktando todavia a bailarina. Uma caixa bem feminina;
Caixa nº 9 - 25 x 15 caixa de madeira com embutidos em estanho. O interior foi recuperado náo correspondendo ao original que desconheço qual seria;
Caixa nº 10 - 25 x 30 pintura em laca. Caixa de senhora forrada a tecido, com espelho e divisórias interiores;
Caixa nº 11 - 20 x 15 pintura em laca. Caixa de música, forrada a tecido, com espelho e sem bailarina;
Caixa nº 12 - 13 x13 pintura em laca. Sim pinturas extra no interior. De todas esta é a única de quem sei a história.
Caixa nº 13 - 15 x 15 pintura em laca. Tem uma bonita característica pois não tendo divisórias nem espelho ainda assim a tampa está pintada. Poderia ter servido como caixa de chá;
Caixa nº 14 - 20 x 7 pintura em laca. Sem pintura extra no interior;
Caixas nº 15 - conjunto de 4 pequenas caixas pintadas, mas sem ser em laca. Calculo que sejam caixas recentes.Todavia bonitas.
Por causa das pinturas cá de casa, que já aqui havia divulgado, tive de retirar muitos objectos da minha sala. Para além de centenas de livros, medalhas e molduras com fotografias acabei por perceber que passamos a vida a juntar coisas para as quais nunca daremos uso.
No meu caso há uma explicação: a maioria delas têm um componente afectivi já que me foram oferecidas por amigos ou familiares. Todavia outras comprei-as em feiras de velharias, a maioria na Feira da Ladra.
É desta feira bisemanal e de um negócio que fiz que hoje vos venho falar.
Todavia o primeiro negócio que ali assisti foi com o meu pai quando nos anos setenta por ali andou em busca de um selim para uma égua que o meu avô havia comprado. Lembro-me que encontrámos uma que na altura pediram dois contos, ou mais ou menos 10 euros na moeda corrente, e que após muita volta à feira acabámos por levar para casa. Recordo este caso porque na altura, quando o meu pai foi buscar o selim, o vendedor ter dito:
- Se eu soubesse que queria comprar teria pedido mais dinheiro.
Muitos anos mais tarde sou eu que numa manhã cedo de terça feira entro no Largo de Santa Clara. Vou calcorreando as ruelas olhando aqui e ali alguns objectos mais invulgares, perguntando preços apenas por curiosidade.
Entretanto alguns dos vendedores já me conhecem e ao ver-me passar apontam para este ou aquele objecto.
Estava eu neste meu caminhar lento quando dou de caras com a dona A. uma senhora idosa com uma loja bem perto da Praça do Chile e que adorava estar na feira a vender. Naquela manhá encontrei-a a limpar uma caixa de charão em tons cinzentos.
- Bom dia d. A. como está?
- Bem e o senhor?
- Também, obrigado.
Para logo lançar:
- Que bonita caixa, essa...
Gesto automático entrega-me a caixa.
- É para mim? Obrigado... - disse a rir, para logo questionar - Quanto quer por ela?
- Cinco contos, para me estrear.
Devolvi a caixa.
- Não ando a roubar. Isso é muito caro.
Sem mais segui o meu caminho. Andei mais de uma hora pela feira para voltar à dona A. onde a caixa dormia agora no chão entre muitas coisas velhas.
Insisti:
- Pensei que já a tivesse vendido...
- Quanto dá por ela? - avançou então.
"Temos negócio" pensei eu. Agora bastava regatear o preço.
- Eu nem digo o que ofereço porque a senhora ofende-se...
- Vá lá quanto dá por ela?
- Dois contos.
- Isso nem pensar... é pouco.
- Então para a semana dona A. - devolvi eu.
No momento em que lhe viro as costas diz:
- Mais 500 escudos e fica com ela.
Parei, retirei o dinheiro da carteira paguei-lhe e trouxe a caixa para casa.
Uma delas é grande, sem ser de música tem, todavia, um interior muito bonito. Outra coisa é a chave original.
Comprei esta caixa na Feira da Ladra há alguns anos. Não obstante não ser das minhas caixas mais antigas é deveras muito bonita.
A segunda foi uma verdadeira caixa de música a quem retiraram a bailarina. Mantém o motor de corda por baixo mas sem a singela boneca "a coisa" não tem graça.
Tem algumas partes menos boas mas a técnica de restauro de charão não é fácil, já que a pintura é acima de tudo laca.
Um amigo costuma ajudar-me nesse restauro. Eis as imagens:
Hoje trago para este espaço um conjunto de caixas de origem Orientel e que commumente se denominam como "Caixas de charão".
Este gosto por estas caixas adveio de um amigo que nas nossas normais visitas à Feira da Ladra sempre que via uma caixa destas acabava por comprar.
Estes recipientes tinham diversas utilidades mas segundo apurei (sem muito rigor, é certo!) eram geralmente usadas no Oriente pelas senhoras para guardarem os seus objectos pessoais, fossem eles jóias ou simples sacos com perfume e outras essências.
Depois havia aquelas que eram somente meras caixas de música! E outras caixas de chá!
Trago aqui fotos de algumas das minhas caixas, geralmente vazias, mas que guardo quase com regiliosidade.
Eis a mais nova de todas cá em casa. Adquirida ontem!
Segue uma que comprei há muitos anos e que se encontra na aldeia (começo a ter o meu património realmente muito espalhado).