Imagino que os partidos de esquerda lusa estejam à beira de um ataque de nervos tendo em conta a próxima greve dos motoristas de matérias perigosas.
Num país onde a maioria dos sindicatos estão maioritariamente ligados a Centrais Sindicais (CGTP e UGT), aparecer um sindicato independente, representado por um advogado, com uma capacidade mobilizadora fora do vulgar e capaz de parar Portugal pode tornar-se numa nova forma de sindicalismo.
Entretanto o PCP que sempre teve na CGTP/Intersindical o seu braço armado na contestação laboral deve andar em busca nos velhos manuais de como é que tudo isto lhe passou ao lado.
Lamentavelmente o BE vive um dilema interno de gestão política, pois ainda não sabe bem o que fazer ou dizer quanto a esta greve. Por um lado vem ao de cima a sua vertente de "esquerda-caviar" e afirma que os motoristas têm toda a razão para logo a seguir apoiar o governo nas decisões anti greve que Costa vai assumindo. Quase que faz lembrar uma velhinha e conhecida canção de Marco Paulo onde dizia que tinha dois amores.
Decididamente não sei quem tem razão neste diferendo que opõe motoristas à ANTRAL, pois necessitaria de ter comigo todos, repito todos, os dados que envolvem estas negociações, mas de uma coisa estou (quase) certo: o sindicalismo em Portugal jamais será o mesmo.
Álvaro Santos Pereira e diversas organizações assinaram esta manhã um acordo que envolve governo, associações empresariais e confederações sindicais, tendo em conta novas normas de trabalho.
Como era sabido a CGTP não fez parte desse acordo, deixando nas mãos de outros, decisões que também lhe cabiam opinar e decidir. Depois queixam-se de maus acordos…
Já é conhecida a forma obtusa e radical como a CGTP vê estas coisas da concertação e de acordos com o patronato. Nunca está presente nas reuniões finais e prefere a confrontação de rua à negociação sensata e ponderada.
Também há pouco tempo o Bloco de Esquerda não se reuniu com a “troika”, com os naturais resultados negativos nas eleições legislativas, assumidos por Francisco Louçã.
O país vive momentos tenebrosos, é certo. A todos é pedido um esforço (independentemente de algumas excepções) e aqueles cavalheiros, teimosos e agarrados a teorias já desajustadas à realidade querem fazer acordos impossíveis, porque não pretendem abdicar de princípios irrealistas e impraticáveis.
Ontem ouvi a entrevista do Ministro Álvaro e fora alguns tiros no pé dados anteriormente, no que respeita a declarações públicas, aquele governante esteve calmo, sereno, explicando o que havia para explicar.
Não é um político, mais um técnico. E nada de tecnocrata, pelo que me apercebi. Conseguiu esquivar-se com alguma subtileza a questões um tanto incómodas (caso das nomeações na EDP) e assumiu outras sem rodeios (o aumento do desemprego para o próximo ano).
Com certeza, ao contrário de muitos, gostei do que disse, não pelo seu conteúdo obviamente, mas pela forma cordata e calma com que tentou explicar os novos acordos entretanto firmados.