Não sei se já vos aconteceu saírem de casa e algures no caminho para um qualquer destino pensarem: será que fechei a porta de casa à chave? Ou pior… será que deixei a panela ao lume?
Mesmo com quase toda a certeza no nosso pensamento a verdade é que entrando o vírus da dúvida no nosso espírito… acabou-se o descanso.
Uma dúvida é um sinal de fraqueza da parte do ser humano. Ou se não é de fraqueza será sinónimo de alguma debilidade… psicológica.
Um dos grandes erros da juventude é nunca terem dúvidas… somente certezas. Sabem tudo, conhecem tudo (ou se não conhecem, sabem de quem conhece!!!), a vida assente em certezas jamais vividas. Do lado oposto da juventude há os idosos que também sabem tudo ou quase tudo. Mas porque viveram a vida e já têm muitos anos!
Uns e outros incorrem nesse erro da certeza e desvalorizam a dúvida, já que esta é, como já referi, um sinal menor!
Por aqui costumo dizer que só tenho duas certezas: a primeira é que partirei um dia e a segunda prende-se com o meu passado, que é obviamente imutável.
Tudo o resto é um mar de dúvidas que vivem comigo permanentemente.
Só Deus terá mais certezas sobre mim… mas não mas pretende revelar!
Tenho um primo na aldeia que é construtor e que sempre que há trabalhos para fazer é a ele que recorro! Seja para arranjar um telhado de um barracão, seja para uma qualquer alteração em casa.
Quando conversamos sobre um trabalho e lhe pergunto se for da maneira que ele propõe se as coisas não correrão mal e devolve usualmente a seguinte resposta: "Nunca na vida"!
Gostaria de, tal como ele, ter a certeza da sua certeza (passe o pleonasmo)!
Nunca na vida é algo que dificilmente direi porque a minha caminhada neste mundo tem sido recheada de tantas dúvidas e incertezas que seria insensato assumir aquela expressão para o futuro. É verdade que há pouco mais de um ano muita gente daria a mesma resposta ou semelhante, se lhes perguntassemos se acreditariam numa pandemia tão limitadora quanto a que ainda vivemos. Provavelmente diriam este "nunca na vida" como se fossem donos de todas as certezas do Mundo. Porém a realidade apressou-se a contrariar os futurismos.
Seria mesmo bom e conveniente que comecássemos a pensar nisso!
Hoje por tudo o que nos tem acontecido estamos todos mais cientes que o futuro é muito incerto.
Os anos que já vivi deixaram-me algumas certezas, não muitas!
Uma delas prende-se com aquele sentimento, totalmente falso, de que tudo podemos e de tudo somos capazes ou pior... que não necessitamos de ninguém. Não há receios, nem temores que nos desviem do nosso pensamento ou ideia. Cremos que tudo somos capazes, que tudo de adapta à nossa vontade.
Um erro clamoroso!
Independentemente da educação, estado social, capacidade financeira ou mérito académico, há quem alimente a ideia de ser... omnipoderoso! Porém o destino, fortuna (ou a falta dela!!!), o mero azar ou para os mais crentes a vontade de Deus ou Karma, podem revirar a vida de qualquer um de pernas para o ar. E o que num determinado instante era pujança, fervor, tenacidade transformou-se em ruína, dúvida, incerteza.
É no preciso instante que adquirimos esta incerteza do nosso futuro, até então certo, é que percebemos quão frágeis e vulneráveis nos tornámos.
Mas nem tudo é negativo nesta (nova) postura. Aprendemos a defendermo-nos, passamos a ser mais calculistas, objectivamente olhamos o Mundo com outros olhos.
E tentamos ensinar…
… que o médico necessita do doente como este do médico;
… que o patrão só é por ter empregados e precisa deles e vice-versa;
… que todos nós, duma forma ou doutra, não vivemos isolados.
A alegria de podermos dar a mão, ajudar o próximo, nem que seja com um mero sorriso, faz com que eu indique mais outra das minhas certezas: a felicidade é naturalmente um sentimento tão subtil que se pode achar no gesto mais simples e mais singelo do ser humano!