Faz hoje precisamente vinte e dois anos que eu estava em Barcelona. Dia 11 de Setembro, dia nacional da Catalunha.
Lembro-me muito bem desse dia. Era sábado, jogava o Barcelona e o Espanhol no Nou Camp. As ruas engalanadas de bandeiras condais, os adeptos vestiam-se a rigor do clube do coração fosse a idade que fosse.
Foi das primeiras vezes que fui a Barcelona e a primeira em que fiquei uns dias para passear na bela capital catalã.
A cidade estava em festa e por todo o lado a alegria dos locais era evidente.
Mais de duas dezenas de anos depois destes festejos, por mim presenciados, Barcelona ou melhor a Catalunha é um barril de pólvora pronto a rebentar e para o qual a brigada de minas e armadilhas do governo espanhol não tem solução.
É pena... Tenho realmnete pena que Barcelona se tenha tornado uma cidade demasiado encrespada.
Gosto de quase todos os desportos. Ténis, ciclismo, rugby, andebol, atletismo e obviamente futebol são meros exemplos. Talvez o que menos aprecie sejam os desportos motorizados como F1, ralis ou motociclismo.
Bom isto para dizer o quê? Ontem em Lisboa a equipa do Barcelona foi olimpicamente cilindrada por uma equipa bávara de alto rendimento. O que vai ao encontro do que muitas vezes tenho pensado e escrito: pode-se ter muitos bons jogadores, mas será sempre a equipa que vence... ou perde.
Conheço bem a cidade de Barcelona. Tal como conheço o espirito guerreiro e indomável dos adeptos da maior equipa catalâ. Por isso nem imagino o que a esta hora e desde o final da noite ontem, andarão os adeptos da equipa "blau-grana" a discutir nas milhentas "tavernas", "casas de tapas" e outros lugares de convívio.
O problema não será a derrota em si, mas um ano sem títulos da equipa de futebol. Se juntarmos a tudo isto a velha demanda da criação do "País da Catalunha" estamos perante uma cidade que estará em evidente polvorosa.
Quando desporto e política se misturam, como é demasiado evidente na Catalunha, os momentos menos felizes podem originar misturas explosivas.
Quando em 1999 aterrei pela primeira vez em Barcelona e já no táxi que me levaria à cidade condal vi um enorme placard que dizia: "Bem vindo ao País da Catalunha".
Pela assertividade do texto e da maneira como estava escrito percebi logo que estava numa zona de Espanha muito diferente do restante país.
Este sentimento foi-se adensando sempre que regressei àquela cidade.
Conheci relativamente bem Barcelona, visitei tudo o que havia para visitar e caminhei quilómetros na cidade. O curioso é que, não obstante alguns catalães mais regionalistas, o que eu senti é que todos viviam em boa comunhão.
Dir-me-ão que tudo não passava de uma paz podre. Até pode ser que sim... Todavia era preferível essa paz, mesmo que fictícia, aos gravíssimos distúrbios que vamos actualmente assistindo.
É que os catalães mais radicais nem imaginam o que o futuro poderá reservar à região. Sinto mesmo que não será coisa boa...
A cidade de Barcelona imortalizada por Freddy Mercury jamais será a mesma...
As recentes eleições na Catalunha parecem não ter resolvido um imbróglio em que se meteram os independentistas catalães.
Se bem que tenham sido os Ciudadanos-Partido de la Ciudadanía, liderados pela “muy guapa” Inês Arrimadas a ganhar as eleições catalãs, a falta de uma maioria absoluta por parte do partido “naranja” vai obrigar alguns dos partidos a entenderem-se… ou talvez não.
Os partidos independentistas têm em número de deputados regionais a maioria, todavia as diferenças entre ambos são tão evidentes de dificilmente haverá acordo entre eles para formarem um governo.
Será nestas circunstâncias que Portugal poderá dar uma ajuda na resolução deste imbróglio. Para tal basta ligarem ao nosso Primeiro-Ministro António Costa que ele sabe como criar uma geringonça.
No universo da BD há uma personagem que personifica o líder da Catalunha, Carles Puigdemont. Aquela figura surge no livro chamado “A Zaragata” onde Astérix e o seu inseparável amigo Obélix terão de lutar não só contra as tropas Romanas, mas também contra a maledicência de Tullius Detritus.
Porque faço eu esta comparação? Simplesmente porque o Presidente da Generalitat Catalâ andou meses a incendiar uma região para no momento da verdade fugir à responsabilidade, deixando todos os outros partidos da região e organizações deveras espantadas com o discurso desta tarde.
Sinceramente nem imagino as pressões de Carles terá sofrido para olvidar ou pelo menos adiar este dossier. Todavia esta situação, que não é de agora, foi muito alimentada pelos partidos não afectos ao governo de Madrid.
No entranto com as declarações de hoje. Puigdmont fez com que a montanha parisse um rato.
Percebe-se que uma eventual independência da Catalunha seria uma espécie de “caixa de Pandora” para o celebérrimo autonomismo castelhano. E alimentaria outras ideias semelhantes tanto em Espanha como noutros países (Portugal incluído).
Teria sido, deste modo, muito mais sensato Carles ter negociado uma maior autonomia com o Governo de Rajoy antes de criar esta “Zaragata”..
Mas há quem faça tudo pelos seus cinco minutos de fama.
É mais ou mais conhecido a eterna rivalidade entre Barcelona e a capital espanhola, Madrid. Começa no futebol e termina nos eventos mais ínfimos.
Conheço bem aquela cidade condal e daí talvez entender o amuo entre as duas cidades que, até há pouco tempo era bem conhecido, mas quase sempre apaziguado.
Porém esta espécie de vulcão político teria de eclodir e a questão do referendo para a independência da Catalunha foi o percussor dessa implosão.
O problema é que se Espanha aceitasse a independência da Catalunha, logo a seguir teria o País Basco ou a Galiza (que há muuuuuuuito tempo gostaria de estar ligada a Portugal) a baterem à porta do PM castelhano com a mesma proposta de Independência para as suas regiões. Uma verdadeira caixa de Pandora dos tempos modernos que se abriria…
No entanto a forma mais ou menos violenta como o governo de Rajoy está a lidar com esta causa, não me parece que seja a mais apropriada. Utilizar a força para proibir um referendo só irá criar mais antagonismo contra o Palácio da Moncloa.
E parece ser já uma vitória dos independentistas.
Depois há a questão dos outros países da União Europeia que poderiam ser vítimas de convulsões semelhantes. O caso da Valónia ou mesmo da Escócia poderia ser um desses casos.
Finalmente creio ser tempo do Rei de Espanha, Filipe VI, pegar neste assunto com as suas próprias mãos e levá-lo para uma mesa de negociações onde todas as partes envolvidas estivessem presentes.
Espanha teria muito mais a ganhar e a Catalunha também.