Cabe-me comunicar que as mais de cem páginas do seu livro “Camilo e os de Pindela” já fazem parte do passado.
Lido e relido entre a pacatez deste astro abrasador que quase nos tisna e o som sempre maravilhoso das ondas do mar e espalharem-se no areal, tenho que foi uma leitura fantástica.
Diria que “Camillo” (ou será Visconde de Correia Botelho?) relacionou-se afectuosamente com os seus antepassados. A Casa Pindella parece ter sido de enorme suporte ao grande escritor. Ainda bem!
Esta sua busca genealógica e a sua divulgação faz todo o sentido já que com ela temos uma maior consciência da vida atribulada de Camilo Castelo Branco plasmada muitas vezes na sua rebuscada escrita tantas vezes controversa (aquela resposta de Eça a uma missiva do escritor é simplesmente sublime!). De tal forma, creia-me, que jamais me passaria pela minha tonta cabeça que o Queirós soubesse da actividade asinina a sul de Lisboa.
Meu bom amigo João-Afonso, este é um daqueles livros que deveremos guardar com o cuidado devido, não só pela estima que me invade quando me refiro a si, mas outrossim pela importância histórica e humana que nos transmite.
O Sul também teve e terá os seus bons escritores, mas está para lá do indomável rio Douro a essência real do que foi (ou ainda será?) Portugal como foram exemplo Camilo, Eça, Torga, Sofia ou Agustina. Ou ainda é hoje Mário Cláudio e obviamente o autor deste fantástico livro.
Finalmente sinto-me profundamente honrado por fazer parte do seu rol de amizade!
faz muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito tempo que não escrevo uma carta. Nem de amor, desamor, amizade ou somente uma daquelas formais em que iniciamos com V.Exª.
Mas esta não vai ser nenhuma das anteriores.
Vamos ao que aqui me trouxe.
Há uns dias lembrei-me de lhe escrever. Olho para dentro do meu espírito e fico a cismar como consegui chegar até aqui... Depois comento com os meus botões: não fosse a Esperança quiçá estivesse aí num qualquer buraco ou, quem sabe, morto. Muita coisa mudou dentro e fora de mim desde que ganhei consciência. A juventude ficou lá atrás, longe muito longe dos dias que ora se desfiam. Palmilhei nesta vida de pobre de Cristo caminhos estranhos. Uns ínvios, tortuosos outros rectos e simples. Corri demasiadas vezes atrás de diversos sonhos para quase sempre agarrar desilusões.
Aceitei também desafios que vou tentando diariamente ultrapassar. Chama-se a isto simplesmente viver, não é?
Pronto... o tempo passou, mas a Esperança continua, não obstante tudo o que me aconteceu, a viver dentro de mim. Para sempre.
Gostei de a rever nem que seja através duma mera missiva e de uma lembrança, professora Esperança. Eu sei que nunca fui o seu melhor aluno, mas creia-me que sou aquele que mais se recorda de si!
Faz muitos anos que não recebia uma carta destas... Daquelas manuscritas por uma mão firma e decidida, com uma caligrafia muito bonita e perceptível e que nos comove até às entranhas.
Todavia uma missiva simples que percorreu milhares de quilómetros até chegar à minha mão.
Não falava de trivialidades, mas da vida tal como ela é, de bons e menos bons momentos, dos filhos e dos netos, de alegrias e tristezas, de solidão e companhia.
Recebi hoje uma carta!
De alguém que me diz muito, que sempre me apoiou e estendeu a mão. Lembro-me das matinées no cinema Avis e a seguir aquele lanche! Lembro-me dos poucos brinquedos que tive e que ela me ofereceu.
Hoje tem muita idade... mas ainda consegue escrever uma carta!
Bela... como são todas as cartas escritas com o coração!