Já o disse algures que o pior que se pode desejar a alguém que gostamos muito... é que ela morra. Esta é uma daquelas assumpções que ninguém gosta de assumir, mas a realidade por vezes é tão horrível que apenas sentimos isso.
Neste momento a minha sogra está entregue aos cuidados paleativos e vai sobrevivendo nem se sabe como. Está profundamente demente, vai para uns anos largos ao que lhe adveio em 2022 um tumor maligno num peito. Sujeita a cirurgia esta não teve o resultado mais desejado e no início deste ano andei com ela em diversas sessões de Radioterapia, não para curar a doença, mas unicamente para lhe dar a mínima qualidade de vida.
Todavia as coisas estão demasido evolutivas e neste momento o melhor mesmo para ela e para a restante família é que partisse de uma vez por todas.
Hoje a filha foi, mais uma vez, visitá-la ao lar onde reside desde 2021. Profundamente prostrada aguarda apenas que Deus se lembre dela. A minha mulher quando saiu do lar não conseguiu evitar uma lágrima enquanto desabafava: porque não parte ela? Sofre ela e sofremos nós!
Este é um triste desejo.
Porque a morte não escolhe dia nem hora. E eu que ainda não estou convicto da eutanásia, aceitaria neste caso presente a sua administração.
Eu sei que a minha sogra de 93 anos é ainda um ser vivo, mas há muito que deixou de ser alguém vivente!
Hoje foi dia para mais uma consulta. Desta vez Dermatologia. Principiaram a surgir uns focos de pele levantada e quase escamada. Depois tenho alguns sinais mais estranhos e pronto enchi-me de coragem e lá fui ter com a médica.
Vesti o meu casaco azul Lacoste que me custou os olhos da cara, umas calças cremes da mesma marca e uma camisa branca de outra marca qualquer (provavelmente da boutique alcofa, já não ma'lembra).
Perante a médica disse ao que vinha e acto contínuo ordena-me: passe para ali dispa-se e deite-se na marquesa, se fizer favor.
Despi a roupa principal, mas deixei as boxers. Vai ela pergunta-me:
- Tem problemas com a nudez?
- Nenhum problema!
Acto contínuo tirei as ditas boxers e fiquei como vim ao Mundo. A médica inspecionou-me todo, mandou-me virar e depois descalçando as luvas sentenciou:
- Tens uns sinais que são queratoses seborreicas sem problema.
Após uns conselhos a ter no futuro e no Verão com a pele saí todo contente da consulta que, sinceramente, temia. Na verdade o "gadjo", como dizem os ciganos, anda por aí e aparece em quem menos se espera. Que o diga o meu amigo que aqui vai falando, e bem, sobre ele.
Tudo isto para falar sobre a... nudez.
Há quem se relacione mal com a ausência de roupa. No meu caso que sempre fui de poucas vestes não tenho qualquer problema. De tal forma que sempre apareci nu defronte dos meus filhos e eles perante mim e a mãe. Durmo sempre sem roupa e nunca fujo a esconder-me se a minha neta me aparecer de repente estando eu sem roupa.
Sei que é uma questão cultural com alguns laivos religiosos. Todavia admito que nunca fui púdico e olho para a nudez como um estado natural do ser humano. Mais... frequentaria sem qualquer problema uma praia ou um local de nudistas, desde que este não fosse tendencialmente de cariz sexual.
Não sei nem imagino como as pessoas geralmente se relacionam com a nudez... a sua e a dos outros, mas por aqui a liberdade é total e não me sinto constrangido por ter de me despir perante uma médica. De certezinha absoluta que a doutora já viu mais gente nua que eu hei-de ver na minha restante vida!
Como adepto de futebol e sócio de um clube tenho por hábito dizer que neste grande desporto nem tudo é válido para se ganharem jogos e obterem troféus. Assumo mesmo que há momentos tristes e impensáveis. Como os há fantásticos.
E não é por adepto ser deste ou daquele clube que não tenho consciência desportiva. Mas isto sou eu e certamente não obrigo ninguém a ser igual.
Um dos enormes senhores do futebol, de 76 anos, é ainda Sven-Goran Eriksson. Pelo que li, há uns meses assumiu publicamente a sua doença, um cancro do pancrêas em fase terminal. Tendo passado, na sua carreira como treinador, por um conjunto de grandes clubes europeus, ainda assim disse que gostaria um dia de treinar o Liverpool, clube de sempre do seu coração.
No sábado passado teve essa oportunidade num jogo entre velhas glórias de Liverpool contra outras tantas do Ajax, clube dos Países-Baixos.
Foi recebido em apoteose, em Alfield Road, sob uma salva de palmas dos adeptos ingleses presentes. Mais uma vez os súbditos de Carlos III a mostrarem porque são pessoas diferentes dos demais adeptos, nomeadamente os latinos.
Eriksson agradeceu a concretização de um desejo.
Um gentleman será sempre um gentleman e será reconhecido por isso, aquém e além fronteiras.
Neste derradeiro desafio do treinador sueco, entre a saúde e o cancro, sabemos de antemão quem perderá. Todavia desejo sinceramente que tal só aconteça daqui a muuuuuuuuuuuuito tempo. É que o Mundo será sempre melhor com gente como Sven-Goran Eriksson!
Não sou monárquico. Melhor seria dizer que nem republicano já que quando nasci não tive direito a escolher o regime.
No entanto, sempre olhei para o Reino de Inglaterra como um excelente exemplo da forma como a monarquia vive e convive bem com a democracia. Algo que alguns republicanos (ainda) não crêem.
Eu, que nunca estudei, muito cedo percebi que muito do que se dizia nas ruas, tv's, rádios e jornais não correspondia à verdade, o que me obrigou a aprender a separar o trigo do joio. Esta aprendizagem fez com que rapidamente começasse a pensar pela minha cabeça e a não seguir a manada.
Tudo isto para dizer que desde cedo e com a oportunidade que tive segui com interesse a vida da Rainha Isabel II. Nada de revistas cor-de-rosa, mas as diversas bravatas que a monarca, entretanto já falecida, teve de travar durante o seu longo reinado. E foram muitas...
Dou agora o salto para a nova realidade. Em poucos meses dois elementos da família real Inglesa foram diagnosticados com cancro. O primeiro foi o Rei Carlos III, seguindo-se a sua nora, Kate Middleton, esposa do Principe William.
Mais uma vez a coroa Britânica a mostrar ao Mundo que a família real é constituída por gente quase normal! Que têm problemas e doenças como qualquer um dos seus mais pobres e reles súbditos.
O Mundo ficou em choque com a divulgação pública feita pela Princesa de Gales da sua doença, dando com isso coragem a quem estará a passar por situação semelhante.
Bem... depois vêm aqueles que, do alto da sua douta sabedoria, consideram que Kate deveria ter divulgado a sua situação há mais tempo evitando especulações. Uma ideia que a meu ver não fará sentido, tanto mais que Kate deve ter mais em que pensar (e sentir) que vir logo à rua dizer que estava cancerosa.
Ao invés destes comentadores de meia tigela, a Princesa de Gales fez o que devia e quando achou por bem fazê-lo. Esquecem-se alguns que nas Monarquias as eleições são para os súbditos elegerem os seus representantes e não os reis e rainhas, principes ou princesas.
Só desejo a ambos (Rei Carlos III e Princesa Kate) que recuperem rápido destes novos desafios, de forma a mostrarem à saciedade de que massa é feita a monarquia britânica.
Por vezes também tenho os meus dias maus. Daqueles que gostaria de estar sozinho, não ver ninguém e pensar unicamente em que momento do meu passado eu errei para ter chegado aqui neste pobre estado: cego de lado esquerdo, completamente surdo do ouvido direito.
Depois tudo passa e a minha neta carrega consigo tanta alegria que fico a pensar que no fundo sou um felizardo, já que há muitos nem os netos conseguem conhecer!
Hoje chegou-me um video através de uma rede social. Geralmente não os abro pois são parvoíces e sinceramente já não tenho pachorra...
Porém o filme infra, nem sei porquê, chamou-me à atenção. Vi-o e ouvi-o uma série de vezes.
Para finalmente ficar a matutar na frase dita pela cantora: sou muito mais do que aquilo que de mau me acontece!
Uma frase que me deixou perplexo por ser uma enormíssima verdade dita de uma forma tão simples.
Durante alguns anos fui fumador. Se no dealbar fumava daquilo que cravava porque não tinha dinheiro para mais e portanto consumia pouco, anos mais tarde, e a partir do momento que comecei a ganhar dinheiro, passei a fumar muito mais. Natural...
Cheguei a consumir diariamente três maços de cigarros. Mais o tabaco de cachimbo que também marchava...
Entretanto em 1984, estava eu numa esplanada na Costa de Caparica com um (agora) velho amigo, quando peguei num cigarro e aquele me pergunta:
- Quando é que deixas de fumar?
Coincidentemente aquela era o último cigarro do pacote. Fumei-o normalmente, mas quando o acabei devolvi ao meu amigo:
- Não volto a fumar!
Nem ele nem eu próprio acreditámos piamente na minha promessa, mas...
A verdade é que deixei mesmo! Nunca mais peguei num cigarro nem no cachimbo (que ainda guardo). Todavia para que o tabaco passasse a fazer parte do meu passado tive de perceber que teria de deixar de beber café e de beber álcool às refeições e fora delas.
Hoje recordo aqueles tempos não com saudade, porém como prova provada de que se quisermos, repito se quisermos mesmo, tudo conseguimos. Até deixar de fumar. A partir desse tempo passei a alinhar numa luta para tentar que os meus mais próximos deixem de fumar. Há quem me chame fundamentalista anti-tabagista, mas eu apenas quero o bem das pessoas.
Trago este meu exemplo porque ontem recebi a notícia que um ex-colega e muito meu amigo, fumador inveterado, foi internado com um grave problema pulmonar que logo se descobriu ser um cancro.
Ele é muito mais velho que eu, mas a amizade que nos liga foi sempre enorme, cimentada com o andar dos anos. Muitas vezes tentei convencê-lo a deixar de fumar. Nunca aceitou a minha ideia convicto de que tudo não passava de um mito urbano.
Infelizmente não foi nem é. O tempo de vida que lhe restará será claramente pouco. Quando poderia ter sido tanto...
Não tenho um disco de vinil, um cd, uma mera cassete do popularíssimo cantor Marco Paulo. Mas soube recentemente que se encontra doente com um raríssimo cancro na mama.
Independentemente de se gostar ou não da sua música há que dar o devido valor a um artista que é seguido por milhares de fãs. E não são só mulheres…
Todavia o que acho fantástico é alguém com a sua visibilidade, ou quiçá por isso mesmo, ter vindo publicamente assumir a sua doença e num acto de enorme humildade pedir que os seus seguidores o ajudem em mais esta bravata, contra uma doença que para além de ser altamente mortal é profundamente limitadora.
Cada um no seu íntimo assume os seus receios, as suas dúvidas, as suas incertezas. Só que Marco Paulo mostrou que para além de ser uma referência na música popular portuguesa é outrossim um ser humano de enorme coragem.
Daqui deste que se assina e que publicamente não é seu fã, envio-lhe um forte abraço para que mantenha a coragem e a lucidez.