Cheguei ainda antes do almoço e o ar por aqui já queimava. Tórrido, seco com um vento suão a soprar que tudo seca.
Passeio pelas fazendas loiras de restolho após a erva cortada e enfardada. Os grilos cantam ao desafio com as cigarras e num muro cinzento e quente um lagarto olha-me quase com desdém! Percorro devagar o caminho que me leva às oliveiras de forma a perceber como estão de azeitona. Estala a erva seca, tisnada por este sol de Estio inclemente e quiçá duradouro.
Cães e gatos procuram sombras! Um burro deita-se no chão e espoja-se freneticamente tentando livrar-se da bicharada que o atenta. Um nuvem de pó é levada pela força do vento.
Bandos de pardais, piscos, cartaxos esvoaçam por cima da terra acabada de lavrar em busca de alimento.
O ar parece irrespirável e nem os traçadinhos de vinho e gasosas fresca na taberna fazem abrandar o calor.
A Beira Baixa e o seu calor quase doentio, mas que os naturais aguentam estoicamente.
Devido à ausência de rede wi-fi em casa dos meus pais, fujo quase sempre em busca de um local com rede.
São quase dez da noite e encontro-me sentado num banco no Largo da Regueirinha, local onde durante muitos anos decorreram as festas da aldeia.
A noite está branda, mas o céu parece estar fechado de nuvens soltas. Na estrada da ladeira que atravessa a serra oiço um veículo a passar. Ao longe um cão ladra preguiçosamente.
Depois um enorme silêncio.
Daqueles silêncios campestres, pesados quiçá na sua essência, mas leves para o espírito.
Se juntarmos o perfume natural da terra molhada da chuva de ontem e da erva que paira no ar, temos um local perfeito para sermos... só nós!
Falta o aroma da lenha a arder, mas o tempo ainda está (demasiado) quente.
Diziam os velhos por aqui que quando os medronheiros carregavam, o ano seguinte seria de farta azeitona.
Estou na aldeia onde a rede de telemóvel é quase inexistente. Ainda assim consegui uma janela de oportunidade e vim aqui num ápice apresentar o medronheiro infra e que cresce num terreno meu que é pobre, mas fértil para este género de árvores.
Como este tenho cá muitos. Pena que os medronhos ainda estejam meio verdes.
Ficará para provar mais tarde. Mas poucos... que isto dá... dor de cabeça!
O tempo foi pouco, a pressa foi muita, mas ainda assim acabei por fazer algumas fotos no meio do campo.
Não obstante os dias serem sempre quentes, aqui e ali a coberto do sol uma teia húmida surgia no meio da erva.
Não tem chuvido muito e há quem assuma que todos os cogumelos são comestíveis (alguns apenas uma vez!!!), mas estes têm uma cor tão outonal que não resisti.
Quando a fartura de azeitona é muita o zambujeiro é totalmente desprezado. É pena... pois estavam bem carregados.
Fui num saltinho à Beira Baizxa resolver assuntos inadiáveis. Mas levantei-me cedo para ainda dar uma volta pelas terras.
Para além de um conjunto de javalis - seriam mais de uma dezena - e que não tive oportunidade de filmar ou fotografar, consegui ainda assim capatar este som junto da charca ainda cheia.
Na aldeia onde ainda vivem os meus pais já velhotes fui há uns anos descobrir algumas das fazendas da família no estado que a foto abaixo documenta (acresce dizer que esta fotografia foi tirada na fazenda ao lado da do meu pai!!!).
Mato e mais mato. Aroeiras, carrascos, silvas, alaga-cão, urzes... havia de tudo um pouco.
Com os parcos euros que tinha acabei por contratar gente para me limpar as fazendas. Durante meses os meus fins de semana eram passados a queimar o mato cortado. Depois fiz um pedido de subsídio ao PDR2020. Do valor inicial de investimento orçamentado, que rondou os 15 mil euros, irei talvez, repito talvez, receber... 2500 euros. Mas gastei muuuuuuuuito mais que o orçamentado.
Entretanto a propriedade ficou assim após muuuuuuuuuuuitas horas de trabalho. O chão é pobre pois as pedras quase que crescem em profusão, mas sobram as oliveiras, os medronheiros e alguns sobreiros e azinheiras.
No sábado passado, dia em que tirei estas fotografias e antes de chegar à fazenda encontrei um primo que costuma pastorear umas ovelhas e perguntei-lhe como estava o chão. Respondeu-me com um sorriso onde denunciava uma boca quase sem dentes:
- Está bom, até já cresce erva!
Constatei que para além da erva também já cresciam umas flores silvestres.
Levantei-me muito cedo. Eram pouco mais das seis da manhã. Mas tendo em conta a previsão daquilo que seria o meu dia, havia que despachar algumas etapas.
Estou na Beira Baixa. Num local abrigado pela Serra da Gardunha sempre tão devastada com os incêndios. Todavia ainda assim aqui respira-se bom ar, colhe-se boa azeitona (eu que o diga!!!), a fruta é de excelência e as couves têm um sabor a terra pura.
Gosto de deambuar pelos terrenos da família. Perceber algum pinheiro caído, um murro derrubado, algum silvado para cortar.
Sendo alguém que foi criado numa povoação onde a água era (e ainda é) um bem muito escasso, quando chego a esta povoação beirã e noto os poços repletos, as charcas cheias e as ribeiras a correr sinto-me imensamente feliz.
Depois... há aqueles ruídos que a natureza nos brinda, nos afaga, nos eternece; o trinados dos pássaros, a água que foge por entre as pedras num qualquer leito de uma ribeira, o coaxar harmonioso das rãs, o doce sibilar do vento por entre as árvores... ou então não e nada disto e a Mãe Natureza prefere o silêncio!
Aproveitei este fim de semana húmido mas pouco chuvoso para queimar alguns inertes da agricultura que sobraram da altura a azeitona.
A lenha estava tão seca que bastou uma breve igniçao para logo o fogo atear e arder toda a lenha em breves minutos. Só para mostrara a diferença para outros anos, o trabalho que fiz numa manhã, noutros anos demora horas a fazer.
Pior foi a aldeia que ficou cheia de cinza, tal foram as quantidades de fogueiras que fiz.
Mas tudo aconteceu na maior segurança e sem colocar nada em risco.