Em princípio regressarei amanhã após o almoço à urbe que é a nossa capital. Após alguns dias de azeitona!
Sinceramente já tenho saudades dos meus netos, das suas brincadeiras, dos seus gritos e até das suas teimosias.
Depois é tempo de dar algum descanso a este corpo tantos dias sacrificado a tamanho trabalho.
Entretanto desta vez tive companhia nestes últimos nove dias. Gente que nunca tinha abraçado uma aventura deste calibre. No entanto ficaram com a consciência mais real da dureza destes dias, alguns com mais de doze horas de trabalho.
Quando por vezes oiço alguém dizer que o azeite está caro reconheço que sim, é caro! Porém gostaria de saber quantas pessoas estariam dispostas a deixar o conforto de casa e vestir uns oleados e seguir para o olival sob uma chuva inclemente? Quantos aceitariam trabalhar uma dúzia horas seguidas e sair do olival de mãos negras de tão sujas?
Se juntar, a este trabalho sem remuneração, os gastos que tive com o olival sem sequer saber se teria azeitona suficiente, provavelmente muitos que ora criticam o preço do azeite, talvez evitassem assumir esse descontentamento.
Um euro por decilitro é caro, já o assumi! Mas acreditem não paga um décimo do esforço e da tenacidade que temos de ter para levar este "navio a bom porto".
Espero que para o ano haja mais! Este ano encontra-se encerrado este processo!
É costume, por aqui, guardar-se para o derradeiro dia a fazenda mais longe do povo ou mais aborrecida de colher a azeitona.
Hoje também não variou e depois de ir ao mecânico das varejadouras eléctricas apresentei-me na fazenda tentando terminar o dia e esta caampanha da melhor forma, não obstante alguns percalços rapidamente sanados (leia-se quedas!).
Bom, finalizo este diário com a certeza de que quem leu as crónicas anteriores ficará com uma ideia diferente da colheita da azeitona.
É curioso que falámos do fruto, sem nunca o especificar com propriedade. Há diversas tipos de azeitona em Portugsl. A mais comum é a galega ou verdeal (nomes assaz diferentes para a mesma fruta). Por aqui há também a lentrisca, um tipo de oliveira desigual das demais e com a árvore a mostrar-se, também ela, diferente.
A melhor característica deste tipo de oliveira é que dá um azeite muito, mas muito especial. Hoje de tarde corri uma série delas que se apresentavam mais carregadas. Como esta,
Para além da azeitona galega ou verdeal e da lentrisca, conheço a cordovil e a bical, estas duas óptimas para a conserva. Obviamente que pelo país haverá novos e diferentes tipos de olivas
O céu entretanto foi salpicando alguma chuva e até deu para ver este espectáculo,
Quem sabe um convite a regressar a casa por este ano!
Todavia desta vez obedeci.
Onze dias duros, muitos duros, mas para mais tarde bem recordar.
Obrigado a quem esteve por aí. Agora até para a semana com nova bravata, desta vez em Castelo Branco.
O trabalho de moer a nossa azeitona tem custos. E não são nada baratos! Também calculo que a despesa para manter um lagar de azeite a funcionar como "manda a sapatilha" europeia não deva ser coisa de somenos
Para pagar o serviço há diferentes formas de o fazer. A este pagamento chama-se maquia. O mais comum é pagar-se com o próprio azeite extraído da safra de cada cliente, deixando no lagar uma percentagem. Todavia pode-se outrossim pagar um xis por cada quilo de azeitona entregue, levando o azeite todo. Mas há outra opção que é aquela que normalmente opto na Beira Baixa e que se baseia na tal maquia.
Quando entrego a minha azeitona no lagar espero pacientemente que esta seja transformada. No final é apurada uma quantidade de azeite sobre a qual recai a percentagem da maquia.
Porém não deixo esse azeite no lagar, mas acabo por o comprar. Isto é se a maquia para o meu azeite for por exemplo 20 litros como compromisso de trabalho feito, para o levar terei de o pagar como se fosse um normal comprador de azeite
Todas estas formas de pagamento vão entroncar naquele postal de ontem onde escrevi sobre médias e estranhos campeonatos.
Entretanto escrevi este postal na fila para o lagar com a minha carrinha carregada. Esperam-me muuuuuitas horas.
A ideia é a mesma... a forma como o conseguir é que é diferente.
Vamos ao que realmente interessa.
Todos os anos a campanha da azeitona acarreta consigo uma espécia de torneio ou campeonato entre os inúmeros produtores de azeite. Todos querem ser aquele que teve a azeitona a fundir melhor.
Também na aldeia da Beira há esse desiderato porm com medidas diferentes, mas que no fundo dará o mesmo resultado.
Por aqui tudo se mede em percentagem de azeite em cada conjunto de sacos entregues no lagar. Ou melhor a tabela será saber quantos litros de azeite saem de 100 quilos da azeitona. Uma conta meio estranha já que estamos a dividir quilos por litros... Mas enfim.
E quanto maior for o valor da percentagem mais feliz fica o produtor. Eis um exemplo prático: eu recebi azeite que prroduziu a 13,6% e outro a 15,2%. Obviamente que o último foi melhor.
Mas reparem agora na visão, postura ou norma na Beira Baixa onde se pretende saber quantos quilos de azeitona serão necessários para obter um litro de azeite. No exem+plo que referi no parágrafo anterior os valores foram: 7,6 e 6,5 respectivamente.
Como se percebe o que num tem de ser mais alto (em percentagem) no outro tem de ser mais baixo (em quilos) para que o prrodutor não vá para a taberna vociferar "cobras e laratos" contra os homens do lagar.
E já não meto nesta conversa a célebre maquia que só vem para esfagegar todas estas contas.
Mas isso será certamente tema para um novo postal!
Pelo menos enquanto não tiver a azeitona toda colhida.
Dizem por aí à boca-cheiaa que se aproxima a chuva. Pode vir, mas gostaria ques e atrasasse uns dias.
É que estou quase a terminar a camnpanha ribatejana deste ano e não me apetecia nada molhar. Enfim se tiver de ser...
Ontem ao fim da noite vim para casa, depois de entregar mais uma carregada de azeitona, bem inchado com a azeite angariado das minhas oliveiras.
porque já 259 litros de azeite. E ainda faltam os resultados do último carrego e ainda daquelees que estão preistos de entrar.
Há anos assim que nem Deus nos consegue acompanhare. Calculo que criar o Mundo também não seja coisa de somenos. Mas dias de trabalho com 18 horas também não será para todos.
E ainda não acabei esta campanha e já estou a pensar no próxima em Castelo Branco...
Eram sete e qurenta ee três minutos desta manhã qunado tirei esta foto.
Pois é a esta hora quase madrugadora preparava-me para pegar na ferramenta adequada ao trabalho. Uma varejadoura ligada a um bateria, que ajuda e de que maneira a colha da azeitone.
Um breve pormenor: as baterias hoje amuaram e tive de me socorrer de outros para conseguir trabalhar. Um contratempo que atrasou a apanha.
Durant e todo o dia houve muito calor. Até demais, Mas isto não impediu que a azeitona caísse denytro dos panos previameente estendidos ao redor do pé da oliveira.
Oliveira colhida e logo outro pano terá de estar estendido sob a árvore. Entretanto vamos levantado os panos e juntando a azeitona para ser escolhida, retirando os galhos secos, grandes e deixando unicamente as folhas que o lagar fará desaparecer.
Mas antes do lagar há que ensacar a azeitona. Entre ontem e hoje levei 26 sacos ou 543 quilos de zeitona limpa.
Cumprindo uma espécie de tradição eis-me hoje e durante os próximos dias a esgalhar umas palavras no sentido de dar a conhecer esta azáfama anual.
Dizia o meu sábio avô, lagareiro durante muitos anos, que em tempo de azeitona vimos o dia nascer. Eu acrescento: vimos a noite esvanecer.
Por isso quando o sol nasceu já eu andava a colher azeitona, ainda não eram oito da manhã.
Durante todo o dia andei fazenda acima, fazenda abaixo a dar serventia a um colaborador que aceitou ajudar-me. A preocupação dele era somente botar a azeitona ao chão onde os panos previamente por mim estendidos recebiam os bagos.
Desta vez com uma nuance: a azeitona está quase toda verde.
E o pior é quando amadurece cai num instante ao chão. Portante optei por a apanhar da árvore... verde. Dizem que dará menos azeite, eu acredito que terá um gosto mais forte até à proxima Primavera.
As mantas recheadas sucediam-se a uma velocidade quase vertiginosa, que só abrandou quando as oliveiras passaram a ser maiores e com muito mais trabalho. Deu tempo para reorganizar a escolha e a distribuição dos panos.
À seis da tarde o meu amigo partiu para o seu mereceido descanso, mas eu lá fiquei até ser noite a estender panos para amanhã.
Também fiquei a ver o Sol a por-se.
Regressei a casa doze horas depois de ter saído com a certeza de que 500 quilos já estão apanhados. Pelo menos trouxe 10 sacos e ficaram ainda por escolher outros tantos.