Entre os meus bons amigos e familiares há muitos caçadores. Algo que nunca fui!
Sei também que esta malta da caça tem perante o seu gosto, vício, desporto ou o que lhe quiserem chamar, uma postura muito própria... Arrisco mesmo a dizer cooperativista.
E nem conta saber se são de esquerda ou de direita, católicos ou ateus, doutores ou simples pedreiros. O único intuito é caçarem e, quiçá, comerem e beberem juntos contando cada um a sua mentira mais afoita no que à arte venatória diz respeito.
Nada disto me aborrece nem me preocupa. Sei que a caça é um desporto caro, a que só alguns conseguem chegar.
Lembrei-me de escrever este postal hoje porque, como sabem, tenho andado à azeitona aqui nestes terrenos inóspitos onde somente os judeus conseguiram que as pedras aceitassem as oliveiras como companhia. Nestas fazendas de alguma (pouca!) terra vermelha e barrenta e muitas pedras de todos os tamanhos e feitios, nasce algum mato que eu tenho tentado controlar com intervenções constantes (e caras!)!
Nestes últimos cinco dias deparei com algo que me entristeceu e cujos autores serão certamente associados de alguma colectividade com interesses na caça.
Aborreceu-me olimpicamente que o chão seja o destino final dos cartuchos que os caçadores disparam, sujando uma propriedade que não é deles. Pior... sei que por lei são obrigados a recolher os invólucros. Todavia não o fazem, ousando alguns em esconder nos buracos das pedras o seu rasto venatório.
Estas fotos são um pequeníssimo exemplo do que escrevi supra. Como já disse não me importo que cacem naquilo que é meu, mas na mínimo o que posso exigir é que deixem o terreno como o encontraram.
Entretando espalhei umas garrafas vazias de 1,5 litros pelo terreno com alguns cartuchos dentro para que percebam o que não deveriam fazer... que é simplesmente abandonar tais invólucros.
Por fim espero que nenhum dos meus amigos caçadores tenha a coragem de deixar o seu cartucho para trás. Se o fizerem, acreditem, ficaria bem desiludido!
Como bom garfo que me considero gosto muito de caça. Sejam lebres, perdizes ou coelhos bravos!
E agora vamos ao que importa.
O ponto acima não faz de mim um caçador. Gosto de apreciar caça sim, mas se não a comesse não me vinha mal nenhum. Todavia algumas peças aparecem-me em casa e eu não vou rejeitar. Nem que seja por educaçãoe cortesia.
No entanto repito: não sou caçador. Nem essa arte marialva me atrai sobremaneira. E cada vez menos!
O caçador é assim como o fumador, uma espécie de pessoa pouco preocupada com o ambiente, só tendo olhos para o seu gosto pessoal (para não lhe chamar vício!!).
Há muito que as nossas matas perderam muitos dos seus predadores naturais. Raposas e lobos estão quase extintos... já para não falar dos ursos, que desapareceram totalmente.
Deste modo os roedores começaram a surgir por tudo o que era lado e a derreter completamente as culturas. A título de exemplo direi que o meu pai, já lá vai algum tempo, semeou um chão de tremoços e não apanhou lá um... Uns simpáticos coelhos destruiram toda a plantação.
Como já referi, sem predadores naturais passou o homem a ser o inimigo do roedor. Só que aquele caça por desporto, por prazer, não por necessidade. Algo impensável! Mas também reconheço que a caça é uma boa fonte de receita para o Estado. Adiante...
No passado fim de semana, andei por algumas fazendas do meu pai. Por entre algumas já tratadas, encontrei outras a necessitar de intervenção humana. Todavia o que realço destas visitas, foi o balde que trouxe para casa repleto de cartuchos vazios, deixados no chão pelos caçadores. Centenas de cartuchos...
Como já referi noutros posts a minha mulher dedica-se aos sacos da praia... eu aos cartuchos de pólvora.
E alguns deles estão ali vai para muuuuuuitos anos. Pelo que sei a actual legislação venatória em vigor, obriga os caçadores a apanhar os cartuchos que disparam. Porém o que fazer aos anos sem lei?
A época da caça já abriu! Creio por isso ser tempo de alertar todos quantos caçam para a realidade dos nossos campos. A caça pode ser "eventualmente" vossa mas os terrenos são nossos! Há que estimá-los.