Há alguns anos, por aqui na aldeia, a apanha da azeitona correspondia a duas ou mais semanas de verdadeiro convívio familiar... para além do trabalho, obviamente!
Nesse tempo os mais velhos reuniam-se com os irmãos e percorriam as diversas fazendas que cada um e colhiam a azeitona. Todos normalmente embuídos de um espírito comunitário, amizade e entrega.
Todavia quando os mais velhos principiaram a partir aquele espírito familiar deixou de existir e cada um dos que ainda estavam passaram a apanhar a azeitona sozinhos. Ate porque cedo se percebeu que os descendentes não partilhavam da mesma ideia. Houve um que afirmou perante algumas testemunhas que preferia morrer à fome a apanhar alguma vez azeitona.
Só que deste lado a ideia tem-se mantido pois é frequente os meus filhos e o meu sobrinho deixarem a cidade e subirem à aldeia para ajudar. Porém este ano incrivelmente coincidente pelas mesmas razões, não veio nenhum. Mas o espírito mantém-se e para o ano prometeram estar cá!
A ver vamos!
Na realidade a época da azeitona é um momento duro... muito duro mesmo, especialmente para quem passa o resto do ano entre o carro e o gabinete de trabalho. Basta perceber como o corpo reage ao fim do primeiro dia.
Finalmente hoje foi mais um dia difícil por causa da chuva que caíu durante todo o dia e me deixou encharcado e gelado até aos ossos.
Entretanto o canito, guarda pretoriano de uma bezerra que pastoreia nos meus terrenos, já tem nome: Zangado! Tal é a maneira como reage à nossa presença!
Quando semanas antes da festa natalícia deste ano me perguntaram o que eu qyeria para o Natl respondi de forma rápidae sem qualquer dúvida: um cão!
Pois... parece brincadeira, mas não é. Desde que a minha Lupi partiu já lá vão quase dois anos nunca mais a minbha vida ficou cheia. Toda a vida vivi com cães e deles sempre recebi muito mais do que lhes dei.
Escrevi aqui que quando me reformasse iria buscar uma cadelita, mas tal não foi possível. Entretanto surgiu a neta, a matriarca completamente senil e a necessitar de cuidados permanentes adiaram a vinda de um patudo cá para casa.
Portanto há uma prenda de Natal ainda por receber. Só não imagina quando será!
Havia acabado de almoçar com um alargado grupo de amigos. O restaurante estava cheio e havia já gente na rua à espera. Saí então e aguardei que os outros também abandonassem o restaurante.
Enquanto aguardo vejo um canito normal de pêlo claro que desce a rua inclinada. Traz coleira mas vem solto. Parece-me simpático. Atrás do animal um jovem caminha a certa distância de tal forma que não percebo se é o dono do cão ou não.
O canito passa encostado a mim. Estalo os dedos na vã esperança que pare de forma a fazer-lhe uma festa. Nada... segue em frente.
- Este não dá confiança a ninguém - penso eu, para com os meus botões.
De repente o jovem chama o cão que pára e volta para trás. Depois ordena-lhe:
- Cumprimenta este senhor...
O cão então aproxima-se de mim e deixa que eu lhe faça uma festa. Mais... Como gosto muito de cães e não tenho medo de nenhum deles, baixo-me e o cachorro espeta-me uma lambedela na mão.
Depois parte. Agradeço ao jovem a simpatia de me ter deixado fazer uma festa ao seu animal.
Na minha cidade também há momentos destes... inesquecíveis!