Cheguei ontem ao fim da tarde à capital após 1110 quilómetros percorridos em quatro dias. Se fizer uma média diária até que nem andei muito... mas as estatísticas servem para isto: diluir no tempo a nossa vida.
Posto isto, levantei-me ontem cedo pois desejava chegar o mais cedo possível a Lisboa acima de tudo por causa do volume de trânsito que sempre surge por estas alturas na estrada, sejam pelas férias, praias ou festas da aldeia!
Mas o dia começaria com uma enormíssima surpresa. A ideia não era nova em mim, mas guardei-a. Porém o meu bom amigo João-Afonso abriu as portas à vontade e ao desejo de constatar uma das mais surprendentes visões deste Douro. Um mar de natureza, um oceano de sensações, uma galáxia de beleza imensurável ou simplesmente uma obra divina. Já vi muitas coisas belas neste país, mas este olhar para uma imensidão e ficar sem saber respirar, deve ser difícil voltar a sentir.
No miradouro de S. Leonardo da Galafura que Torga adorava e escreveu sobre isso um belíssimo poema* é como se se avistasse o Mundo todo de uma só vez. Aquilo dói ao nosso olhar tão pouco habituado à beleza espontânea. E nem os rascos naúticos lhe retiram um mílimetro que seja. Nem o Sol que nunca deixou de brilhar colocando a névoa.
Há montes vísivéis e vales escondidos, mas mesmo assim adivinha-se a beleza nos socalcos rasgados de verde, primórdios de novos espíritos.
Entretanto o local estava repleto de gente. A festa de S. Leonardo e de Santa Bárbara estaria prestes a principiar na aldeia antes. Uma pena... Porque a aparelhagem sonora disparava decibéis de som em todo o redor do monte enquanto os copos de cerveja e "panache" escorriam goleas abaixo na manhã quente e um grupo de bombos carregava mais nas peles esticadas.
Quebrada a magia do momento para mais uma festa popular parti para (re)ver Peso da Régua. Chegado à entrada da ponte velha a opção estava tomada e segui para Lamego. Quilómetros a deixar o belo Douro para trás.
Só que a cidade de Lamego não deixa também ninguém indiferente. A sua velhíssima Sé pode ser o primeiro exemplo, mas a Capela de Esp+irito Santo ali quase ao lado também parece relevante.
onde se misturam diferentes estilos: românico, barroco, manuelino...
Só que Lamego é a cidade de Nossa Senhora dos Remédios. Um imponente templo encrustado no monte e onde se chega de diversas maneiras, mas normalmente a pé!
Mas são necessários 656 degarus para no topo se avistar uma cidade que serenamente se ajoelha aos pés desta sua Padroeira.
A hora do almoço aproximava.se e decidido o espaço encontrei uma mesa... na rua! Nem em casa como no jardim quanto mais num restaurante. Contudo... ou isso ou nada!
Fiz-me à estrada mais tarde do que previra, mas felizmente os emigrantes parece que corriem em sentido contrário. É! Os franco-luso descendentes continuam, e não é de agora, a ser um perigo na estrada.
Cheguei bem e a horas de regar a minha sedenta horta!
* São Leonardo de Galafura
À proa dum navio de penedos, A navegar num doce mar de mosto, Capitão no seu posto De comando, S. Leonardo vai sulcando As ondas Da eternidade, Sem pressa de chegar ao seu destino. Ancorado e feliz no cais humano, É num antecipado desengano Que ruma em drecção ao cais divino. Lá não terá socalcos Nem vinhedos Na menina dos olhos deslumbrados; Doiros desaguados Serão charcos de luz Envelhecida; Rasos, todos os montes Deixarão prolongar os horizontes Até onde se extinga a cor da vida. Por isso, é devagar que se aproxima Da bem-aventurança. É lentamente que o rabelo avança Debaixo dos seus pés de marinheiro. E cada hora a mais que gasta no caminho É um sorvo a mais de cheiro A terra e a rosmaninho!
O regresso na segunda-feira ao Continente foi demorado, como é quase sempre que se sai dos Açores ainda por cima de ilhas sem voos directos para Lisboa. Portanto "check-in! às 10 da manhã em Santa Cruz das Flores e chegada a casa às 20 horas! Posto isto é só para comunicar que as deslocações de e para os Açores dá quase sempre um dia perdido!
Mas regressemos ao que conta.
1 - As Flores e o Corvo são duas ilhas onde o tempo parece ter parado. Não no sentido evolutivo, mas unicamente na forma como se gere esse mesmo tempo. Dito de outra forma há tempo para tudo.
2 - Não há filas de trânsito. E se alguém pára, o carro que vier a seguir aguarda pacientemente. Assisti a um casal que parou a viatura à porta do café, deixou o carro a trabalhar, foi beber o café matinal e entrou no carro sem que ninguém barafustasse.
3 - Os restaurantes são razoáveis, mas anormalmente caros. Não sei a insularidade é uma (má) desculpa.
4 - As pessoas são muito simpáticas e tenho a certeza que se lá vivesse ao fim de pouco tempo conheceria a população toda.
5 - Quanto ao que vi... gostaria de fazer uma lista do mais bonito... todavia tornar-se-ia injusto para outros locais de uma beleza fantástica. No entanto reconheço que viajar para o Corvo acompanhado pelos golfinhos foi algo que deixou marcas.
6 - As hortenses ocupam grande parte da ilha. Dividem estradas, terrenos, cobrem os campos mais inóspitos para as vacas, enfim dão uma beleza quase infinita à ilha.
7 - Muita gente afirma que não gostaria de viver numa ilha devido â falta de assistência médica, por exemplo. A minha pergunta é esta: quantas pessoas morreram e que vivem perto dos hospitais? Teria mais receio de um tremor de terra que do resto. Mas isto sou eu!
8 - Não percebi grande agitação nocturna o que equivale dizer que a malta gosta de se deitar cedo. Os que desejam agitação terão de escolher outra ilha, provavelmente.
9 - As viagens não são baratas mesmo que algumas se possam fazer em "low-cost", mas continuo a dizer que vale a pena uma viagem ao local mais ocidental de Portugal e da Europa.
10 - As Ilhas perfeitas mais uma vez encheram o meu coração de imagens que jamais esquecerei! Ide, ide que não se arrependerão!
Domingo foi o último dia de passeio pela Ilha das Flores. Mas foi também dia de festa em honra de S. Pedro, padroeiro da freguesia e do Divino Espírito Santo. Logo de manhã notou-se movimento defronte do Império consagrado ao Divino. Aproximei-me lentamente e fui percebendo pais e mães de mãos dadas às filhas de branco vestidas... Uma ternura.
Eram dez e meia da manhã, já batia um Sol quente, quando sairam todos em procissão até à Igreja Matriz. Tudo muito bem organizado com direito a fanfarra e poucos fiéis a acompanhar.
No largo da igreja mais gente, mas estranhamente ainda pouca para a conhecida fá católica daquela região.
Não fui à missa desta vez e parti em busca de uma Reseva Natural na Fazenda de Santa Cruz. Este é um local que é outra boa surpresa. Com cerca de três hectares, este local tem uma diversidade de polantas e animais que faz as delícias dos visitantes.
Foi uma volta demorada e pensei como gostaria de ter as minhas netas ali! Nas costas do parque há ainda uma belíssima queijaria gerida pelo senhor Fernando, um beirão radicado há muitos anos na ilha, e pela filha Ana Catarina, onde comprámos uma série de queijos... fabulosos!
Fazia-se tarde e logo dali saí para as Lages onde me esperava um almoço fantástico: boca-negra grelhada com batata doce. E abrótea frita! Ui... como me soube bem!
Entretanto o tempo estragara-se e caía uma pequena chuva. Nada que um bom continental não aguentasse. Por isso mesmo à chuva fui dar conta dos estragos que o furacão Lorenzo fez ao porto em 2018 e não obstante muitas obras ainda visíveis.
Mas há também alguns pedaços reparados e prontos a receber embarcações, se bem que de pequeno calado o que ainda é insuficiente para as necessidades da ilha.
Por ali deambulei até chegar bem perto de um veleiro com bandeira peruana e acabadinho de atracar. Acabei por meter conversa com um dos triputlantes que me disse serem três e que haviam partido bas Bahamas 13 dias antes. Apanharam na viagem uma forte depressão e que agora seguiriam para... a Horta! Só podia, pensei eu!
A povoação teve em tempos um museu da baleia mas desapareceu também com o tal furacão.
Faltava já ver pouco da ilha. Porém as paisagens de Costa, Lajedo e Mosteiro não deixam ninguém indiferente.
A beleza é tanta que quase tenho de parar a cada 100 metros de estrada.
Finalmente encontrei esta estranha formação rochosa a que deram o nome de Rochedo dos Bordões.
Neste sobe e desce de estrada íngreme e demuitas curvas, quase se assemelhava aos caminhos para as Fajãs de S. Jorge, a beleza destas serranias verdes é algo inesquecível.
À saída da estrada que vem de Mosteiro ao lado esquerdo há um marco geodésico e um miradouro... Parei, aproximei-me e...
A Fajãzinha e as quedas de água do Poço da Ribeira do Ferreiro e toda azona envolvente e a uma altura considerável.
Esta paisagem autenticamente de bilhete postal é por assim dizer o toque final desta viagem, se bem que ainda aproveitei o resto do dia para visitar as Lagoas Branca
e a Lagoa Seca
Saí deste local bonito para parar mais à frente no miradouro do Bico de Sete Pés.
Regressei a Ponta Delgada onde vim mais tarde a descobrir que faltara ver o farol do Albernaz ali bem perto do Ilhéu Maria Vaz!
Cheguei a Santa Cruz já perto do fim do dia.
Quando a noite caiu consegui perceber movimento de arrumações no Império ao Divino Espírito Santo.
Entretanto a Lua se escondia-se por detrás de uma nuvem tendo como companhia um candeeiro de rua!
A ilha do Corvo é das nove ilhas que compreendem o arquipélago dos Açores, a mais pequena. Talvez por isso é muitas vezes colocada em segundo plano.
Porém quem como eu já conhecia a Ilha sabe que aquele pedaço de terra que se ergue de um mar tão azul merece uma visita. Porque também esta ilha tema sua beleza.
Mas vamos ao que importa. No primeiro dia e assim que cheguei ao apartamento encontrei um número de telefone para onde liguei a marcar viagem para o Corvo. Só tinham disponibilidade para sábado e para mim era totalmente indiferente. Marquei para Sábado e o embarque seria no Porto das Poças.
Assim à hora marcada lá estava a aguaradar a embarcação que me levasse até ao outro lado do canal. Já passava das onze da manhã quando surgiu a lancha.
Foi nesta embarcação aparentemente frágil que embarquei e durante mais de uma hora naveguei pelo belo mar anil dos Açores. A determinada altura os motores reduziram a força e durante muitos e saborosíssimos minutos pude apreciar isto:
Uma alegria esta companhia que durante algumas milhas nos acompanharam. Porém a foto que mais gosto desta singela viagem para o Corvo é esta.
Há neste vôo do cagarro uma liberdade que ninguém tem! Depois a ilha das Flores já distante e o azul do mar... sempre o azul!
Cheguei à ilha do Corvo por volta da hora do almoço. Eu e mais de duas dezenas de viajantes. Achei mais avisado ver o que queria ver e depois mais tarde almoçar. A subida para o caldeirão do Corvo não é fácil. Perto de sete quilómetros pela única estrada que existe foram da povoação.
Depois... bom depois é aquele choque, aquela sensação de pequenez perante tamanha beleza.
Não sei se o léxico português terá palavras suficientes para descrever o que se vê do alto daquele Caldeirão. Umas vezes límpido, outras ata+petado de umas nuvens que desaparecem rapidamente, mas que quase nada deixam ver!
Da primeira vez desci até lá abaixo junto à água, mas desta vez considerei arriscado até porque o chão estava molhado e uma queda naquele tapete não seria coisa de somenos! Fiquei pelo meio caminho... Donde aproveitei para fotografar mais de perto... hortenses!
E vacas!
Há quem faça a volta inteira ao cimo do Caldeirão, mas isso leva muitas horas porque são só... cinco quilómetros de perímetro.
Sair daqui, deste local tão belo quanto pacificador é quase uma violência, mas haveria que o fazer, até porque às duas e meia o restaurante deixaria de servir refeições.
A vila do Corvo é pequena, mas tem quase tudo o que as vilas têm! Supermercado, CTT, duas agências bancárias, para além, obviamente da Câmara Municipal e um conjunto de outros serviços públicos, todos a trabalhar no mesmo edifício onde o azul celeste (a exemplo da Fajãzinha nas Flores) é a cor predominante. Parece que a República aqui ainda não chegou...
A igreja é humilde mas bonita.
A vida por aqui faz-se à velocidade de chegada e partida dos turistas, seja de barco seja de avião, mesmo quw aeroporto seja do tamanho da vila.
Às cinco horas lá estou novamente da embarcação desta vez de regresso às Flores. Levantou-se uma nortada ligeira suficiente para nascesse alguma onulação no mar. Ainda assim nada de preocupante e a viagem fez-se muito bem.
Mas faltava ainda uma pequena surpresa. O responsável pela embarcação deu-nos a hipótese de ver mais maravilhas...
Para além das cascatas que caiam no mar, pude ver grutas onde o azul do mar ganhava novas tonalidades.
Simplesmente imperdível este fim de tarde no regresso à ilha e que mais uma vez surpreendeu por uma beleza invulgar.
O dia acordou com Sol e uma temperatura branda tão característica da ilha, mas sempre com aquela estranha humidade a invadir-nos!
Tinha a consciência que seria um dia especial e vai daí iniciei pelo Museu da Fábrica da Baleia do Boqueirão onde percebi a razão porque a busca pelos cachalotes era tão importante na economia dos ilhéus.
Tempos duros de um risco sempre patente e a vida presa por um laivo de sorte ou azar! Muitos por lá ficaram, mas os que regressavam, sentiam que deviam agradecer ao Altíssimo tamanha façanha. Daí haver tantas festas, tantos impérios (pequenas oradas) consagrados ao Divino Espírito Santo, quase sempre criadas para agradecer.
Bom adiante que temos caminho para percorrer...
De viatura nas unhas toca a subir montes atapetados de... verde e vacas,
até chegar a um cruzamento de dizia simplesmente: "Lagoas". Incentivo suficiente para virar e procurá-las. Poucos quilómetros à frente eis que surge a primeira lagoa ou como chamam comummente na ilha Caldeira. Esta é a Caldeira da Lomba.
Um sítio calmo, sereno e sem grande aparato turístico. A estrada de acesso apresenta esta singela beleza,
Um caminho ladeado de frondosas árvores. Não percebi se eram cliptomérias ou eucaliptos californianos ou simplesmento cedros. Mas também não procurei saber.
Logo a seguir, um par de quilómetros mais à frente, novas caldeiras com dois miradouros, um de cada lado, onde se observam duas belíssimas lagoas: a Caldeira Funda e a Caldeira Rasa. A primeira está a uma altura de 368 metros acima do nível do mar,
e a segunda a perto de 600 metros de altura.
A foto seguinte demonstra a diferença de alturas das duas lagoas.
Saí daquele lugar tão fascinante para a vista como para o espírito e segui até à povoação mais próxima: Fajâzinha.
Uma aldeia rodeada por beleza por todo o lado, muito activa já que tem uma queijaria muito boa da D. Ilda, uma Filarmónica, restaurante e outrossim algumas casas fechadas e outras abandonadas. Afirmam convictos os mais velhos que os jovens partem para longe para estudar e nunca mais regressam...
No imo da povoação uma belíssima igreja de um azul celeste muito bonito.
No seu interior, ao invés de outros templos açorianos a pedra principal da edificação não é o negro basalto, mas uma espécie de mármore branco com uns singelos laivos negros. O seu interior é singelo, mas encontra-se bem estimada.
Subi a estrada até apanhar o caminho para a Fajã Grande onde iria almoçar. Mas antes uma visita especial para abrir o apetite para o que seria a tarde!
Uma queda de água que só pára numa pequena bacia onde muita gente toma banho...
Depois a água corre por entre pedras, simplesmente até ao mar!
Umas pequenas levadas roubam alguma desta água alimentando o que em tempos terá sido um moínho.
Veio finalmente o almoço e de seguida a visita a um local muito especial: a aldeia da Cuada!
Diria que aqui a vida que os florentinos deixaram nos anos 60 tomou novamente forma e pujança. Um conjunto de casas originais em pedra, num local idílico próprio para quem quer viver a vida em paz. Interior e exterior.
As casas da aldeia mantêm a traça original e à entrada o nome do último residente, Por dentro foram recuperadas de forma a terem conforto. Sei que marcar para esta aldeia um alojamento é deveras difícil e caro, mas pode-se passear por entre ruas e ruelas sem qualquer problema.
Tem uma pequena capela e o sossego do local é fabuloso.
Voltei à estrada principal para parar um pouco mais à frente. Diversos carros edtacionados sinal que muita gente andaria por ali.
Uma seta indica "Poço da Ribeira do Ferreiro", mas os locais chama-lhe unicamente "lagoa dos patos". Cerca de seiscentos metros a subir por um caminho muito irregular e de um grau de dificuldade acima da média! Pelo caminho encontramos diversas levadas com muita água que se cruzam por debaixo das pedras do caminho. Sobe-se, sobe-se e parece que o caminho não vai dar a lado nenhum.
Até que passado esta espécie de pórtico mágico deparamos com isto:
É um momento único! Simplesmente sublime!
Nem mesmo o cagarro, ave prima da gaivota, que por ali deambulava percebe a beleza do local.
Não sei quanto tempo ali estive, mas se pudesse morreria ali...
Descer tornou-se muito mais fácil,
Finalmente na estrada em busca de mais lagoas. Estas...
A Lagoa Escura e
a Lagoa Comprida!
O dia caminhava para o fim... ou seria para o início de uma paixão por esta ilha?
Quando em 2018 visitei pela primeira vez o local mais ocidental da Europa, fiquei tão impressionado com estas duas ilhas que nem consegui escrever algo como deveria ser. Todavia desta vez não irei fugir à responsabilidade de partilhar com todos o que vi através das fotografias, mas outrossim dar conta das minhas impressões escritas. Termino esta nota aconselhando aos que nunca foram à ilha das Flores e ao Corvo que o façam quanto antes! O Turismo é muito importante, é certo, para a economia da região, mas desde que não estrague!
Chegada!
Cheguei às Flores por volta da hora do almoço. Chovia uma água forte que durou pouco para mais tarde voltar a repetir. Sentia-se uma temperatura muito agradável, no entanto pairava no ar uma humidade, diria que... tropical!
Descarregada a mala no apartamento espaçoso, agradável e central, logo procurei onde comer. Lapas e queijo para entrada seguido de um lírio (ou írio) grelhado.
Como só tinha meio dia para andar decidi viajar pela costa oriental, quase sempre bem acompanhada pela ilha do Corvo que se via perfeitamente no horizonte, se bem que por vezes o tempo nublado quase tapasse a paisagem.
A estrada é boa, mas convém andar devagar para se poder apreciar a beleza das vistas. E logo ali dei conta que as hortenses se sobrepunham em beleza e profusão.
Curioso também a foto seguinte onde as vacas (o superior sustento da maioria dos florentinos) convivem com as flores sem lhes tocarem. Também terão melhores opções...
O verde entretanto é a cor predominante em toda a ilha...
Esta costa é muito recortada, escondendo nos seus recortes e bacias grutas e outras maravilhas que veremos mais tarde.
Os pequenos e grandes ilhéus todos de origem vulcânica parecem nascer do mar.
Pelo caminho encontrei também quedas de água de denunciam a fartura de tão maravilhoso e escasso líquido,
que irá engrossar pequenas ribeiras e desaguar no imenso mar!
Lentamente fui-me aproximando da pequena vila de Ponta Delgada, povoação que se espraia junto ao mar, qual Fajã!
Mas antes Ponta Ruiva, um lugar pobre, humilde, mas com... um museu.
O dono abriu-me a porta com a acostumada simpatia dos florentinos e deixou-me deambular pela pequena casa escura desarrumada e suja, mas ainda assim com alguns objectos curiosos nomeadamente as alfaias agrícolas locais. Contou-me que fora o avô Machado que dera início à junção do espólio. O neto manteve e mantém o ideal!
Como disse aproximava-se a povoação de Ponta Delgada (nota à margem: nos Açores é costume repetiram-se os nomes das povoações! p.e. Ponta Delgada, Lages, Fajã, Faial...) e surgiram diversos miradouros para as terras, fajãs unicamente acessíveis a pé, para o mar e obviamente para o Corvo que na foto infra mal se percebe devido às nuvens.
Entretanto as hortenses continuam a dar razão ao nome da ilha.
Desci a estrada até, ao que parece ser, um pequeno porto para os pescadores artesanais. Num largo onde a estrada acaba, um melro habituado certamente ao homem já nem foge.
A tarde compunha-se e foi a hora de regressar à vila, capital da ilha. Mas ainda deu tempo para visitar uma zona balnear, obviamente sem areia, mas com bons passadiços de acesso.
Até aqui, a meia dúzia de metros da água salgada e por entre a rocha basaltica, as plantas crescem viçosas.
No fundo por esta ilha tudo cheira a vida e abundância!
Até o mar é hoje fonte de vida quando há muitos anos este foi um local de morte com a caça ao cachalote.
Este local, já dentro da vila, chama-se Boqueirão, onde em tempos foi uma fábrica de transformação dos cachalotes e hoje é um belo museu dedicado àquela faina!
Fechei por fim o dia (ou foi a noite?) a escutar o ensaio dos cantares dos "irmãos da confraria do Divino Espirito Santo", festa que se realizou neste fim de semana!
Hoje foi o último dia de passeio na bela Ilha das Flores que terá mais para a frente direiro a crónicas mais desenvolvidas e certamente assaz detalhadas.
Este Domingo iniciou-se com uma procissão que levou as Coroas do Divino Espirito Santo do Império a este orago consagrado até à igrela Matriz.
Segui atrás da procissão, mas acabei por não ir à missa pois teria de contar que não estava sozinho. Depois seguimos para a Fazenda onde visitei um parque com muitos animais, certamente muito didático e que mereceu uma atenção cuidada.
Já se fazia tarde para chegar a tempo às Lages onde almocei sumpipamente um boca-negra que se assemelha ao nosso canteril, mas achei-o inferior.
Faltava o resto da volta à ilha: Lagedo, Mosteiro, Rocha dos Bordões e finalmente o Miradouro do Portal.
Antes de sair das Flores já sabia o que esperaria. Mas estava longe, muito longe mesmo sequr de imaginar que veria e teria como companhia... golfinhos.Faltaram à chamada os cachalotes, mas paciência... não quero partir deste mundo sem ter um encontro com estes cetáceos.
Saímos às onze horas da manhã do Porto das Poças numa embarcação bem preparada para o efeito. Eu e mais de duas dezenas de passageiros. Saiu-se a boa velocidade para a meio do imenso tapete azul a embarcação perder o gás (ou a força) para termos todos a oportunidade de podermos observar e fotografar os golfinhos. Eram dezenas deles e durante cerca de vinteminutos andou-se (quase) à deriva.
Depois, bom depois... a pequena ilha do Corvo. Lá contratámos uma viatura (a do celebérrimo Fernando Maravilha estava demasiado ocupada) para nos levar até ao cimo.
Perto de sete quilómetros sempre a subir.
Como já referi já sabia o que me esperava, mas digam o que disserem o Caldeirão do Corve é um sítio profundamente arrebatador. Impossívelficar indiferente à paisagem, aos diversos verdes, à água...enfim arrisco a dizer que o léxico luso não terá adjectvos suficientes para qualificar isto.
Hoje foi um dia cansativo. Especialmente para quem me acompanha que com mais idade e ilustres proprietários de um belísssimo sedentarismo, logo percebi que iria ser um tanto complicado.
Principiámos por ir ver o museu da transformação da baleia. Um local bem organizado e que deu para percebermos como as campanhas daquela actividade piscatória eram tão importantes na economia local.
Depois saímos em busca das já célebres lagoas. Locais muito bonitos onde a Natureza é preservada. Fajãzinha foi a terra seguinte onde perguntei onde seria a Fajã de Santo Eloy ao que me responderam não existir o que confirmou o que Elizário certo dia afirmou peremptoriamente:o "Gugle" estava errado.
A manhã passou assim rapidinho, mas ainda antes do almoço uma visita ao Poço da Cascata do Bacalhau, sítio muuuuuuuuuito bonito.
Após um belo almoço (peixe claro está!) visitou-se a aldeia da Cuada para finalmente subirmos mais de 500 metros num terreno difícil e sob uma floresta densa para extenuados (nomeadamente os mais velhos!!!) chegarmos a este paraíso...
Creio que não necessito dizer mais nada, pois não?
Como muitos já saberão parti hoje de Lisboa para a belíssima ilha das Flores no também fantástico arquipélago dos Açores.
Zarpei cedo de casa pois já sei que por estas alturas o movimento nos aeroportos é de loucos e Lisboa náo foge a essa regra.
Durante os próximos cinco dias apenas virei aqui rabiscar um breve apontamentoe colocar apenas uma fotografia que resumirá o dia! Fica já prometido muitas fotos em crónicas futuras, mas nestes dias serão mais simples.
Por isso esta fotografia das hortenses que proliferam pela ilha açoriana mais bonita de todas (esta com a particularidade de mostrar ao longe a ilha do Corvo). São quilómetros de estradas sempre ladeadas por bonitas flores. Depois nas encostas onde as vacas comem, passeiam e ruminam a erva fresca há extensões de paredes de pedra negra cobertas por cores lilazes.
A ilha mantém o seu recato e aqui a civilização tem demorado (e ainda bem!) a chegar. Para dar um exemplo estou alojado no centro da vila e às dez horas da noite o silêncio era tão profundo que quase poderia escutar os gatos vizinhos... a respirar!