Já falei por diversas vezes neste espaço sofre a desconfiguração da Baixa pombalina da capital.
Quem, como eu, ali trabalhou tantos anos sente que aquele centro citadino deixou de ter o charme, a beleza e acima de tudo a vida humana que caracterizou a Baixa durante uma enormidade de anos.
É verdade que o turismo voltou à cidade de Ulisses, após muitos meses de inactividade, mas ao mesmo tempo deixei de ver as lojas que foram referência na minha vida.
Lembro aqui algumas:
Old England, Casa Africana, Central da Baixa, Casa das Limonadas, Palmeiras, Camisaria Moderna, Loja dos Pneus, Restaurante Vitória, A Regional e tantas outras casas ora substituídas por restaurantes de comida luso-italiana ou "fast-food".
Muitos hotéis, muitas lojas de bujigangas na maioria sem graça nem qualidade, muitos bares, enfim muito nada!
Curioso é que numa altura de autárquicas só vi o PCP em acção de campanha. No largo do Intendente!
Durante anos trabalhei na Baixa de Lisboa. Um local cosmopolita tanto em pessoas como em lojas, de todos os géneros e para todos os gostos... e bolsas.
Bom... depois houve o incêndio do Chiado... no Verão de 1988. E este golpe foi realmente fatal.
Grande parte das grandes empresas (leia-se bancos) acabaram por fugir da Baixa e deste modo, o que fora durante dezenas de anos, o centro financeiro do país transferiu-se para outros locais, alguns deles até para fora da cidade..
Lentamente toda aquela área foi assim definhando, não obstante as tentativas de reanimar a zona rainha do Chiado: Os Grandes Armazéns! Com relativo exito...
Mas a Baixa é muito mais que a rua Garrett e ruas envolventes. Desde o Tejo até ao Rossio e desde a rua do Cruxifixo à rua da Madalena, há um conjunto de pequenos negócios que a evolução dos (novos) tempos tem vindo a encerrar.
A maioria dos prédios acabaram por ficar devolutos o que originou naturalmente enormes e radicais intervenções nos edifícios.
São estas intervenções que estão a determinar o fim da Baixa. Hoje todos aquelas lojas, comércios, locais históricos e não só, que durante anos conhecemos, estão todos transformados em hotéis. E há para todos os gostos e carteiras.
Hoje soube que a cervejaria Caracol que me recordo desde muito miúdo, fechou também. Porque naquele lugar vai nascer, imaginem... um hotel!
O charme da Baixa desapareceu. Olvidando ainda algumas lojas que tentam resistir a esta nova invasão, certo é que a Lisboa está a perder, dia a dia, a sua normal identificação. As casas de souvenirs e os restaurantes de qualidade duvidosa são outra doença na Baixa.
Um verdadeiro casamento entre a cidade e o rio jamais se fez, E agora parece-me demasiado tarde.
O pior é que, se um dia alguém coloca uma bomba nesta cidade o turismo, que agora literalmente invade e alimenta a capital, desaparece num ápice.
Lisboa deixou há muito de ser a "Menina e Moça" de que falava Ary dos Santos. Hoje a Baixa passou a ser uma idosa a quem fizeram uma (má) operação plástica.