Quando andei na escola (continuo a afirmar que nunca fui estudante. porque simplesmente não estudava!!!), entre algumas disciplinas que adorava como era o Português e o Francês, outras mais ou menos como era a Matemática e Geografia, havia algumas que detestava. Olimpicamente!
No rol das odiadas estava História, Desenho e Química, se bemk que esta estivesse sempre colada a Física que eu gostava. Resultado: quando os pontos eram para 20, sendo 10 para a Física e 10 para a Química, já sabia que teria, no mínimo, 10 valores. Nunca entendi a química e nunca senti falta dela na minha vida.
Mas adiante!
Hoje andei de volta dos azeites deste ano. Bilhas grandes para um lado e pequenas para o outro, acabei por fazer um teste à acidez do azeite que extraí da minha azeitona.
A operação não é muito complicada todavia requer algum cuidado e olho clínico, já que basta um milésimo e as coisaspodem não corresponder à verdade-
Ora bem... para a dita alquimia temos um tubo de ensaio devidamente marcado, uma pepita graduada, uma seringa simples e mais importante de tudo dois produtos para os testes.
No tubo de ensaio coloca-se o azeite lentamente (daí a necesssidade da seringa!!!) até à marca branca. A seguir enche-se com o produto número (soluto de fenolnaftaleina) antes de se agitar bem.
A seguir carrega-se a pipeta de graduação até ao cimo com o produto número 2 (soluto alcalino).
Por fim e muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito lentamente, diria mesmo gota a gota, deita-se este soluto no tubo de ensaio até que a solução de azeite tome uma cor rosada.
Assim que surgir a dita cor escarlate pára-se e vê-se onde ficou o soluto. O que falta na pipeta dará o valor da graduação.
No caso da foto supra mostra abaixo de 1. O que equivale dizer que terá menos de um grau. Mas basta uma ligeiríssima diferença na quantidade de azeite, soluto ou 2~para o valor ficar muito alterado e obviamente longe da verdade!
Finalmente e voltando ao início deste postal, eu que nunca dei um chavo para a química é que ando envolvido com pipetas e tubos de ensaio.
Tenho um grupo de óptimos amigos no uotessape onde lancei o desafio de darem um título a esta fotografia, obtida na passada segunda-feira no lagar onde entreguei a minha azeitona para transformação.
Só obtive duas respostas: da MJP e da Maria. A primeira deu o sugestivo título de "Ouro líquido" e a nossa minhota lançou "Do fruto se faz ouro". Curiosamente ambas referem o ouro como ordem de grandeza.
Para quem como eu anda nesta vida de (quase) agricultor, este é o momento mais sublime e a razão da nossa demanda. Diria mesmo que é mui difícil de explicar por palavras o que sentimos quando nos apercebemos que esta bica vai lentamente despejando num tanque todos os nossos trabalhos, os nossos anseios e porque não dizê-lo as nossas canseiras.
Foram nove longos dias com direito a quase tudo do que ao tempo metereológico se refere: chuva, muita chuva, frio, vento, calor.
Para tudo finalizar neste belíssimo instante.
Nota Final:
Se alguém que por aqui tenha a simpatia de passar poderá, se assim o entender, dar um título a esta foto. Para tal basta colocá-lo nos comentários.
A campanha de azeitona de 2024 terminou ontem, como aqui escrevi, mas após a apanha há mais coisas para fazer com a azeitona nomeadamente levá-la ao lagar e aguardar que a azeitona seja bem transformada...
Foi o que fiz hoje. Transportaram-se todas as caixas que havia arregimentado para a função num só local... de forma avulsa, poupando com isso espaço, muito espaço.
Cheguei ao lagar à hora do almoço, mas ainda a tempo de fazer a azeitona entrar antes da tarde, quando se previa uma chegada atípica de produtores, até porque o céu plúmbeo prometia chuva.
Já passava das três da tarde quando a minha azeitona entrou em produção e mais duas depois principiou a sair de uma bica o tal líquido pelo qual tanto se trabalhou.
Finalmente chegara a hora de medir o azeite novo, quente e quase perfumado. Na foto infra estão apenas 200 litros divididos em bilhas com 25 litros cada uma. Os outros 28 litros da produção total vieram em bilhas pequenas de 5 litros.
Muitos se admiraram com tamanha produção já que a maioria das pessoas com quem falei davam valores de média quase absurdos de tão inferiores.
Agora sim fecha-se mais um capítulo desta campanha de 2024 versão beirã. Para mais tarde recordar!
Dei por finda a minha campanha de apanha de azeitona! Anda nisto há 9 dias e mesmo descontando que um desses dias foi feriado e não fui apanhar azeitona (dia 1 de Novembro), ainda assim foi uma campanha dura. Especialmente porque a maior parte do tempo fomos só dois: um a apanhar e estender e a recolher os panais que apararam a azeitona e o outro a escolher, isto é, retirar os ramos das montadas de azeitona.
Depois do duríssimo dia de ontem com os dados mais actualizados a dizerem que foram colhidos 37 sacos em vez dos 35 que falara ontem, hoje colhi mais sete ou oito sacos.
À hora da partida é necessário tudo recolher. Panos grandes e pequenos, sacos cheios e vazios, baldes e demais alfaias. Tudo será levado e lavado antes de entrar em barricas herméticas evitando que roedores manhosos destruam o património.
Só falta mesmo entregar a azeitona no lagar e dele receber o meu azeite, seja ele bom ou mau!
Finalmente e pela primeira vez em muuuuuuuitos anos não tive a presença da juventude nesta campanha. As crianças deles a serem mais importantes. Faz sentido,
Hoje fui a um supermercado comprar diversas coisas quando de repente deparo-me com este pedaço de erro! Ou má publicidade!
Compreendo que o "marketing" seja uma (quase) ciência no sentido de se vender produtos sem qualidade ou ideias sem interesse a qualquer um. Mas isto não é "marketing". Diria que é publicidade enganosa.
Digo-o porque sei quanto custa um litro de azeite, sei quanto custa a apanhá-lo e mais que tudo sei que a qualidade deste jamais se comparará àquele que sai do próprio lagar. Nem falo do meu... pois seria ser juiz em causa própria!
Mas sete euros e meio por sete decilitros e meio de azeite feito com azeitona tratada e depois de passar por todos os filtros e mais alguns não me parece nada uma pechincha.
Deixem-me contar-vos uma estória que aconteceu comigo recentemente. O ano passado apareceu na aldeia um jovem em busca de azeite para comer. Acabou por ir até à casa dos meus pais e teve a oportunidade de escolher entre azeite novo e velho. Levou um garrafão de cada.
Semanas mais tarde confessava-me que a sogra não gostara do nosso azeite porque não sabia... a azeite! Dito de outra maneira provavelmente a senhora estaria habituada a comer azeite com muita acidez (sim sabe mais ao dito!!!) e quando provou um que tinha menos de meio grau de acidez (o extra virgem)... considerou que não prestava.
Não obrigo ninguém a apreciar o meu azeite, era o que mais faltava. Todavia gosto pouco de ser enganado e ainda menos de ver as pessoas serem enganadas debaixo de um rótulo de oportunidade única!
Bem vistas as coisas nem imagino quanto teriam de pagar por um litro do meu ótimo azeite, feito de azeitonas colhidas sob calor, frio, chuva e muuuuuuuitas canseiras!
Quando na passada sexta-feira sob uma chuvada intensa. mesmo com oleados vestidos andeoia colher azeitona, um dos pensamentos que me passou pela mente veio em modo pergunta:
- Quanto deveria custar cada litro do azeite que sairá daqui?
Só um quase louco passaria a manhã sob uma intémperire danada para apanhar meia dúzia de sacos de azeitona e assim sendo ninguém é culpado desta minha loucura. Ou se tem de haver serei apenas eu!
Nos últimos dois anos o preço do azeite no lagar escalou como nunca. Recordo aqui que na campanha de 2021, quando houve fartura de produção, o azeite chegou a vender-se a três euros em contrapartida ao ano de 2023 que paguei a sete euros e meio o litro. Mais... o ano passado o dono do lagar perguntou-me se não quereria vender-lhe o meu azeite e que mo pagaria a oito euros.
Não sei qual o caminho que levará o preço do azeite este ano. Já li que irá manter-se alto, li o inverso, mas por enquanto aguardo os novos preços no lagar.
Certamente não irão descer como muitos gostaria, mas a produção deste ano estará em alguns lugares a anos -luz de outros anos.
Hoje não choveu. A minha mãe celebrou o seu aniversário, os meus filhos e netos estiveram com a avó e a azeitona chegou finalmente ao fim desta campanha.
Às seis horas da tarde entreguei no lagar do costume 605 quilos de azeitona madura e pronta a dar azeite. Depois regressei a casa onde arrumei toda a tralha que necessitei para apanhar a azeitona: varejadoras, baterias e panais, caldeiros e sacos. Faltou o calçado que foi a lavar de tão sujos que estavam.
Encerra-se desta maneira mais um capitulo de uma actividade se bem que o dia foi muuuuuuuuito complicado. Não por causa da chuva que como disse no início não caíu, mas pela vontade de dar a volta a uma série de oliveiras com óptima azeitona.
O chão repleto de muitas pedras também não ajudou e foi por um triz que não me espalhei em cima daquelas, sem sequer imaginar as devidas consequências de tal eventual trambolhão.
Mas valeu a pena o esforço final com as mantadas a surgir assim,
prontas para serem limpas das folhas.
Não haverá adiafa como era antigamente. Talvez para depois da segunda temporada!
Já náo é a primeira vez que sou enganado pelas oliveiras. Por isso procuro muitas vezes o olhar mais habituado e conhecedor como deveria ser o do meu pai. Mas seja pela idade avançada ou pela própria preguiça que a doença o obriga, já não disponibiliza informação credível.
Passo a explicar: em vésperas da saída de Lisboa para a aldeia pergunto se a azeitona estará madura e pronta a colher. Depois onde é que haverá mais e assim sucessivamente.
Pensava eu ontem mais ou menos por esta hora da noite que neste momento estaria fazer contas ao azeite que adviria da medura entregue no lagar hoje.
Mas tudo falhou... Primeiro a chuva dura e persistente que me forçou a regressar a casa mais cedo e completamente encharcado e a ideia de que no Vale (nome do pedaço de terra e pedras) só três oliveiras teriam alguma azeitona.
O problema é que de tarde corri mais de uma dezena de árvores e ainda tenho pelo menos mais 15 para colher. O resultado está lá dentro do barracão com um conjunto de caldeiros de plástico todos cheios até quase bordar. E amanhã lá regressarei ao terreno de maquinaria em punho tentando despachar trabalho.
Portanto o meu experiente e velho pai errou este ano nas previsões da campanha da azeitona pois estão muito acima do que era previsto.
Ainda bem para os apreciadores de azeite cá de casa.
Em todas as campanhas da azeitona há um momento chave. Não, não é quando termina a safra diária ou quando se faz aquela festa da adiafa símbolo de encerramento da campanha. Simplesmente reflecte-se naquele dia em que se vai buscar o azeite ao lagar.
Tanto trabalho, tanta canseira, tanta preocupação para tudo se resumir naquelas vasilhas cheias ou vazias…
Este ano já havia entregue ao lagar dois carregos de azeitona oriunda de fazendas diferentes. Pode parecer um tanto indiferente ser a azeitona desta ou daquele pedaço de terra, mas creiam-me pela experiência que tenho, que faz muuuuuita diferença. Tanto no peso, na qualidade e mais importante na fundição da azeitona em azeite.
Deste modo estava curioso em saber como correra o trabalho do lagar. Será que alguém conseguirá imaginar a sensação?
Dias, horas, minutos, molhas de chuva inclemente, cargas aos ombros, máquinas pesadas e um cansaço que não se consegue esconder para tudo terminar… assim.
Finalmente a alegria e as médias que iremos quase levar a concurso… contra outros produtores!
Gosto destes momentos e para 644 quilos recebi 82,62 litros de azeite. Feitas contas as azeitonas brindaram-me com uma média de 12,8%. A seguinte foi mais pobre, outros terrenos, outras pedras, outro azeite.
Há uns tempos li duas notícias contraditórias sobre o mesmo assunto. O tema era o azeite e o preço que se prevê para a próxima campanha, que estás prestes a começar!
Uma delas falava de alguém que acreditava plenamente na descida do preço do azeite para, decorrido pouco tempo, ler o inverso já que o maior produtor de azeite do Mundo, a Espanha, continua deficitária no que respeita a este produto tão mediterrânico.
Lembro-me a este propósito que o ano passado um dos lagareiros a que recorro me contou que dias antes lhe aparecera no lagar um espanhol carregando um saco cheio de euros para lhe comprar toda a produção a um valor bem acima do mercado de altura. Todavia o dono do lagar recusou-se a fazê-lo mesmo tendo consciência que perderia um bom negócio.
Bom azeite a oito euros o litro até que nem é muitio caro. O que é substancialmente caro será o preço da mão de obra especializada. Porque pagar a 80 euros ao dia a um homem, a que se associam outros gastos torna-se um valor quase incomportável.
Mas permitam-me um exemplo: a campanha de um ano principa quando damos por finda a campanha do ano anterior. Podar as oliveiras, lavrar a terra, cortar os rebentos novos, ceifar algum pasto... enfim... uma série de tarefas que serão banais, mas custam muito dinheiro ao dono.
Para esta ano de 2024, já gastei perto de mil euros, sem saber se terei algum retorno na próxima colheita. E quando esta principiar lá estarei a trabalhar de Sol a Sol sem receber qualquer benefício. Apenas o ter a certeza que o meu azeite será para mim e para os meus.
Após uma recente e rápida visita ao olival percebi que o azeite voltará aos preços do ano passado. Até porque a produção será bem menor que em outros anos. O ano é bissexto e nestes anos atípicos a agricultura sofre mais que as outras actividades.
Posto isto provavelmente daqui a um mês já estarei a escrever sobre a novel campanha. Entretanto preparem as bolsas para pagarem o azeite ao valor do ouro!