O meu avô que morreu quando eu tinha 12 anos foi, ao que me é dado perceber, um homem sábio. Profundamente católico obrigava os filhos a ir à missa todos os Domingos. Porém alguns (o meu pai foi um deles!) já mais crescidos levantavam-se mais cedo e saíam de casa antes da religiosa sentença semanal.
Dizem quem o conheceu bem que foi um também homem honrado mesmo tendo sido preso num dia 15 de Agosto de má memória para a família, acusado de um crime que não cometera. Veio para Lisboa onde cumpriu pena e donde conseguia, sabe-se lá com que expediente, enviar cestos para a mulher que os vendia para sustentar os filhos..
Regressado à aldeia continuou a fazer filhos à minha avó, dez ao todo dos quais só resistiram sete, e iniciou a sua vida de fabricante de cal. Fez um forno e sempre que necessitava cozia a pedra que vendia nas feiras das redondezas da aldeia.
Com a idade foi ganhando sabedoria, traduzida esta em frases sábias. Recordo apenas três que ouvi e que ainda hoje fazem sentido:
- Dinheiro no bolso não consente misérias! (dinheiro ou cartões de crédito);
- Dinheiro e santidade é menos metade da metade (tão adaptado aos dias de hoje);
- Por este pequeno buraco passam das maiores fortunas do mundo! (o buraco é obviamente a boca!).
Passam por todos nós os dias, semanas, anos, décadas. Porém a natureza humana foi, é e será sempre a mesma! Independentemente da época, local, clima ou recursos.
Hoje encontrei um amigo de muitas caminhadas por esse país. Católico e peregrino como eu, partilhámos muitas alegrias, tristezas e centenas de quilómetros.
Aposentou-se quase quando eu, mas teve a desdita sorte de apanhar covid logo a seguir e ter ficado bastante mal. Ainda por cima meses antes a mãe havia morrido com esta infecção.
Hoje reconhece que está melhor e sente-se quase recuperado.
É também avô de uma menina, razoavelmente mais velha que a minha neta e por isso deu para trocar de ideias, entre outros temas, sobre os infantários e colégios e dos benefícios e malefícios desta escolha.
Ficámos longos minutos à conversa (já alguma vos disse que sou um fala-barato?) para no fim despedirmo-nos e ele acabar por afirmar com um enorme sorriso, que não vi por causa da máscara, mas adivinhei:
Gosto de comemorar este dia do Pai. Porque sou pai e desde há dois anos... avô o que duplica a responsabilidade... e o carinho!
Ter sido pai foi um dos acontecimentos mais importantes da minha vida. Reconheço que foi uma responsabilidade acrescida, mas nunca me arrependi.
Do outro lado do campo sou filho e como tal carrego o pesado fardo de talvez nunca ter conseguido ser o que o meu pai projectou para o meu futuro. Todavia ele talvez nunca percebeu que para eu ser feliz precisava de pouca coisa!
O meu pai é um bom homem no cimo dos seus 89 anos e trabalhou muito para sustentar a família. Os anos pesam agora... Nota-se especialmente nalguma falta de memória mas acima de tudo na teimosia.
Isto de ser avô tem que se lhe diga. Aquilo que não brinquei em criança faço-o agora. Recupero para tal brincadeioras antigas, daqueles que tentei brincar, mas não consegui!
O curioso é que a minha neta diverte-se imenso com as ditas brincadeiras e nem preciso de muitas coisas. Uma vassoura entre as pernas a fazer de cavalo com a respectica correria nos terraços, as escondidas atrás de portas, os balões, as bolhas de sabão e tantas, tantas outras brincadeiras que num determinado instante vou criando.
O que interessa mesmo é que a cachopa se desvie o mais possível das televisões e outros periférios modernos que reconheço serem assaz apelativos, mas deficientemente educativos.
Resumindo e baralhando ninguém consegue imaginar as parvoíces que faço para animar e entreter a criança cá de casa!
Há aproximadamente um mês que passei a ser avô a (quase) tempo inteiro. Ou dito de outra forma todos os dias úteis, logo pela manhã, recebo nos braços a nova mulher da minha vida.
Após quase nove meses de licenças de maternidade, paternidade e férias foi o momento dos pais regressarem presencialmente ao trabalho. Daí esta minha ajuda...
Os meus dias dividem-se agora entre brincadeiras para bebés, dar de comer, mudar fralda ou simplesmente ajudá-la a adormecer.
Nunca fui pessoa onde o tempo abundasse tal era a quantidade de "burros" que tocava diariamente, como sói dizer-se. Deste modo para chegar a muito lado roubava horas ao sono. Porém agora o tempo parece escassear ainda mais. Sempre me imaginei a escrever serenamente longos textos durante a minha reforma. Mas tal não tem sido possível.
Tudo por uma causa maior que é alguém que entrou na minha vida sem pedir licença e ocupa já todo o espaço que havia livre no meu coração.
Finalmente a minha neta não é só uma linda e simpática criança, como é um anjo que vai iluminando o meu caminho.
O resultado da primeira semana de avô a (quase) tempo inteiro salda-se de forma muito positiva.
Faz muitos anos que não dava comida a um bebé, que não mudava fraldas que... não brincava "às crianças".
Nem queiram saber como me sinto... Pareço um miúdo a quem ofereceram um brinquedo novo e que olha para este com devoção sem lhe tocar.
Também é verdade que a minha neta é um doce. Conhecida já na família mais próxima como "miss simpatia", o mais recente elemento do clã é um encanto de criança. Não chora, ri-se sempre e só resmunga quando tem fome ou sono... O que me parece perfeitamenteu natural.
Até quando tem "brinde" na fralda nada transparece.
Está a nascer entre nós uma relação forte. Mesmo tendo somente 9 meses já sabe quem é que este que se assina e teve hoje mesmo o desplante de perante pai e mãe requerer o colo do avô!
Agora durante três dias regressa ao seu ninho de origem. Para voltar terça-feira.
Sempre disse que me contentava com muito pouco, porém esta criança é já muito na minha vida tendo conquistado o meu singelo coração.
Hoje tive a felicidade de ter a minha neta comigo quase toda a tarde.
Os pais precisaram de sair e deste modo deixaram-na aqui comigo e com a avó, que ficou encantada.
A menina é sossegada, simpática e nada de fazer birras. Deu-se biberon, mudou-se fralda, dormiu, brincou-se, enfim uma alegria...
Hora e meia depois de ter cá ficado telefona-me o pai:
- Estão vivos?
- Âhhhh! Vivo? Porquê vivo?
Não obstante estarmos no século XXI a verdade é que crianças são crianças. E sê-lo-ão sempre até crescerem. Ainda por cima uma criança de meses... não difere do que foi o pai, tio e primos.
Esquece-se esta minha malta que fui pai de dois rapazes e tio de uma menina e um rapaz e que também ajudei a criar. No fim de contas eduquei quatro. E com trabalho em cima das costas e noites muuuuuuuuuuito mal dormidas à "pala" das crianças.
Perguntar-me se estava vivo só por ter aquele inocente, que é uma paz de alma, comigo quase me ofende.
Quiçá daqui a uns anos as coias sejam diferentes, todavia até lá... serei sempre um avô sereno e sem sobressaltos.
Finalmente será bom não esquecer que avô é pai duas vezes e a nossa paciência é ilimitada!
Como já referi num outro postal há poucos dias fechou-se uma das páginas da minha vida. Para logo se abrir uma outra com novos e renovados motivos. É a natural regra da vida. O pior será quando pararmos de ter novos ensejos na nossa vida.
Nunca falei aqui do que me estaria para acontecer. Foi-me solicitado que não o fizesse e eu cumpri com a minha parte. Porém a promessa manter-se-ia até a um determinado momento.
Que aconteceu hoje…
Eram 3 e 29 da madrugada quando o meu filho me ligou para lhe ir buscar a cadela pois teria de ir para o hospital com a mulher grávida a quem haviam rebentado as águas.
Já adivinharam o que me aconteceu neste dia 4 de Janeiro do ano da graça de 2020…
Pois, fui avô!
Não poderia começar melhor este novo ano.
A minha vida foi muito influenciada pelos meus avós. Especialmente pela parte paterna que faleceu cedo, quando eu tinha somente 12 anos, mas que mais tarde veio a tornar-se uma referência pela vida que teve e exemplo do que foi.
Agora toca-me a mim… Espero estar à altura!
Pensando bem tornei-me verdadeiramente avô no dia em que fui pai pela primeira vez! Só que nessa altura não o imaginava sequer.