Bloguers Improváveis: ANTÓNIO DA ÁGUIA
Conhecemo-nos naquele dia de Outubro, já no remoto ano de 1982. Não obstante a nossa diferença clubística sempre nos uniu uma profunda amizade, que ainda hoje perdura. Optou por sair (cedo demais, acrescento!!!) para a reforma, mas nem isso fez com que nos afastássemos.
Benfiquista de boa têmpera, aceitou de bom grado a proposta que lhe enderecei, em escrever neste meu espaço. Tem ainda o privilégio de ser o "debutante" nestes meus desafios.
Bem hajas António!
Poderia comentar tanta coisa. Mas digitar as reflexões da memória vivida faz me sentir bem, partilhando.
Depois de tantas etapas percorridas já aprendi muito e quero aprender mais. Não sei se naquela altura terei feito bem ou se hoje teria feito melhor. Mas estar vivo é isso mesmo. Relembrar o bom passado, aprender com os possíveis erros, equilibrar o presente para sofrer menos, se possível, no futuro. Hoje na era do digital , da inteligência artificial, da Big Data, dos 4 G e 5 G etc, etc, etc. eu tenho muitas saudades dos meus tempos de criança e adolescente.
Naturalmente o mundo pula e avança e o hoje é tão diferente do ontem quanto mais amanhã. Mas hoje mudou o paradigma e afinal "os"burros velhos também aprendem línguas" nem que seja numa qualquer universidade sénior. Mas os mais novos desconhecem o passado. Eu aprendi a conviver com os tempos.
Porém, a "minha" Lisboa do passado, deixa-me nostalgia. Lembro-me por exemplo, dos amigos da rua que nos passeios faziam belos jogos de futebol, inadvertidamente batendo com as bolas nas janelas dos andares junto ao "campo da bola" e imediatamente se desfazendo em desculpas; dos experientes jogadores daquele "picado" pião de madeira atirado ao chão e apanhado a rodar na mão; ou das corridas das tampas das garrafas ou "cricas" forradas com os cromos de ciclistas, futebolistas, embrulhados nos rebuçados que era o que menos interessava. O prazer não era comer mas sim ter o "boneco" que todos queriam para forrar a sua "crica", para deslizar naquele lancil do passeio, sem cair até as "metas" definidas entre o espaço entre dois tubos de escoamento das águas pluviais.
Daquele autocarro 31 que hoje passa na mesma rua, rebaptizado 731, com percurso muito mais curto, provavelmente por causa do Metropolitano. De onde pelas 18 horas de cada dia, desses anos 70 saia a minha mãe que eu quase atirava ao chão para dar um beijo, com saudades infinitas, como se já não a visse há séculos, que no entanto apenas representavam algumas horas.
Ou do jornaleiro apregoando os jornais vespertinos, com maior incidência no "Diário Popular" que quase diariamente, fruto da sua capacidade e experiência, "voava" do chão até às janelas do segundo ou do terceiro andar, muito a tempo de ser lido antes do jantar (provavelmente hoje iria de drone). Ou do merceeiro que aceitava fiar os bens a pessoas que lhes dava jeito pagar no fim do mês quando recebessem o ordenado, verdadeiros "cartões de crédito" no entanto sem juros.
Como é bom recordar. E partilhar neste espaço convidado do meu grande amigo.
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E como ele diz " A gente lê-se por ai".
Com saúde.
António da Águia