Hoje a meio da manhã a minha neta que andava a cirandar pelo jardim chama-me num tom de voz estranho:
- Avõ, avõ vem cá depressa!
Não fui qu'isto dos miúdos andarem sempre a chamar por nós por qualquer coisa menos vulgar tem de acabar. Entrou na cozinha onde eu ultimava o almoço e puxa por mim, enquanto dizia:
- Encontrei um ninho...
Entrei na brincadeira:
- A sério?
- Sim... outro!
'Pera aí! Outro? Segui a miúda!
- Olha ali - e apontou-me para uma enorme cameleira.
Coloquei-me sob o arbustro e na verdade lá estava o ninho, mais pequeno que este, mas ainda assim com "gente" dentro (leia-se ovos... ainda!).
A cachopa andou todo o dia esfusiante, mas a determinada altura expliquei-lhe que os animais desejavam mais sossego que visualizações. Algo que ela compreendeu!
Esta pequena crónica matinal fez-me lembrar um caso muito recente na minha aldeia e que se passou com a minha mãe. Reza assim o episódio:
A aldeia é um ponto de passagem quase obrigatória para os peregrinos que se dirigem para Fátima com origem na zona de Lisboa e arredores. Muitos sobem a serra por um trilho ingrato mas com uma paisagem bonita, outros preferem contornar a serra. Mais quilómetros mas menos desnivelado.
Durante muitos anos a minha mãe foi quase a única cuidadora da igreja. Daí ainda muita gente quando passa na aldeia vai bater-lhe à porta pedindo acesso à velha capela. Hoje já se escusa amiúde, mas de vez em quando lá faz o jeito de escancarar as portas do templo. Naquele fim de tarde surgiu-lhe um jovem que se identificou como sendo peregrino e a solicitar se a minha mãe poderia abrir a capela.
Respondeu que sim, mas teria de ser rápido pois tinha de dar de comer às galinhas e o sol estava quase a esconder-se. Entusiasmado o jovem questionou se via algum inconveniente em ele ver as galinhas. A minha mãe respondeu que não e levou-o às capoeiras onde o rapazito ficou, ao que parece, encantado. Depois:
- Posso lever uma delas?
- Para que queres uma galinha?
- É só para mostrar aos miúdos peregrinos.
- Hoje não que já é tarde, mas amanhã podes aparecer e levar uma delas.
O miúdo feliz levou a chave da capela para ainda antes da noite a entregar. A verdade é que no dia seguinte bem cedo o rapaz lá estava à porta de casa da minha mãe em busca da ave que levou... para mostrar aos miúdos. Passado uma hora veio devolvê-la e agradeceu!
Ora tudo isto leva-me a pensar na maneira como muiutas crianças são, não só educadas, como instruídas. A minha neta tem quatro anos, já viu galinhas, coelhos, patos, borregos, cabritos e demais animais. Não teme as lagartixas e aranhas que por aqui convivem e lida bem com todo o tipo de bichos que encontra. Agora deu conta que as aves nascem nos ninhos. Uma aprendizagem empírica que só lhe fará bem para o resto da vida!
Ao invés as crianças de e da cidade só conhecem alguns animais de os verem no pequeno ecran. Talvez por isso tenham menos consciência animal... e um escusado e bizarro receio da Natureza.
Independentemente do dia ou da hora a que chegue a casa é certo que passado um pedaço o Aparecido... aparece. A miar!
Sei que ele não olha para mim como amigo e muito menos como dono (ninguém é verdadeiramente dono de um felino!!!), mas como alguém que lhe dará algo que ele gosta. Quase sempre ração que compro de propósito para ele e uma ou fatia de fiambre de perú, que ele devora num ápice.
Mas hoje houve avanços e de repente este malando, após se ter lambido com os acepipes que lhe dera, saltou para o lava-loiças. Logo percebi que estaria com sede. Abri a torneira e ele não se fez rogado!
Ontem a minha neta após a hora do recreio matinal e já no jardim veio chamar-me:
- Avô. avô, gato!
Apontava para um canto do jardim onde cresce uma planta enorme. No início não vi nada mas de repende percebi que algo se mexia por detrás de alguma folhagem.
Na verdade um mui pequeno felino de cor amarela andava por ali cheio de medo e obviamente arisco como são quase todos os felinos, nomeadamente quando são pequenos e nascidos ao "Deus-dará".
Não o persegui nem tentei agarrá-lo tndo mesmo ido buscar uma embalagem de plástico com água para que ele bebesse. Todavia sempre que eu entrava em casa ele aparecia no jardim. Eu saía e ele voltava a fugir. Num instante percebi que fugia para o passeio por debaixo de um portão.
Assim nesse local de fuga coloquei uns pedacitos de carne muito pequenos para que ele os pudesse comer.
Num ápice ele encontrou-os e devorou-os.
Consegui ainda apanhá-lo a cheirar onde estivera a comida.
Não o consegui nunca apanhar e durante a noite desapareceu.
Poder-se-á dizer que foi mesmo uma visita de médico.
Já aqui havia falado dele ou dela (reside ainda a dúvida!) em Maio passado. Mas sempre que aqui vinha a Aparecida surgia como se pressentisse a nossa presença, mesmo que fosse por pouco tempo.
Tenho consciência que os gatos não são os meus animais caseiros favoritos. Todavia sei, por experiência própria, que são os gatos que adoptam os humanos e não o inverso. E talvez por isso admirei-me que este gato, durante as minhas férias, tenha aparecido todos os dias. De manhã e ao fim do dia. Religiosamente!
Por tudo isto acabou-se por comprar comida a contar com esta visita diária. Que damos sempre que aqui aparece.
Tendo em conta que a partir de amanhã à tarde a Aparecida vai ter concorrência, já que o meu filho trará outrossim a sua estouvada cadela, achei por bem fazer este pequeno filme da gata a comer a sua refeição da noite. Que tão depressa não terá!
Reconheço que os gatos não são os animais da minha preferência. Prefiro cães.
Mas em casa dos meus pais sempre houve gatos. E claro cães!
Há uns anos ainda na constância da minha velhinha Lupi veio para casa uma gatita. Aqui foi crescendo e ganhando o seu espaço e território.
Porém como qualquer gato que se preze, esta nunca se deixou confinar a esta casa. Basta ver uma janela ou porta aberta para a rua e ei-la que sai disparada, procurando na vizinhança algum aconchego.
Hoje é dia mundial dos gatos e a Alani é neste espaço... a estrela!
Entrou hoje em vigor uma nova lei que considera os animais “seres vivos dotados de sensibilidade e objeto de proteção jurídica”.
Sempre tratei bem os animais mesmo aqueles que não aprecio e sou incapaz de matar ou fazer mal a qualquer bicho. E nunca necessitei de qualquer norma para tal.
Com esta nova lei a minha cadela deixou de ser um simples canino de quatro patas como sempre foi, para se tornar um ser vivo, também de quatro patas, só que desta vez... por decreto. É obra.
E depois há aquela questão jurídica da partilha dos animais de companhia, num caso de separação dos donos. Resumindo: a nossa legislação já é suficientemente complexa no nosso dia a dia, ainda foram acrescentar esta lei.
Mais uma vez Portugal na vanguarda da legislação europeia.
Ah! só uma dúvida... tenho uma cobra que comeu três pequenos ratos que estavam no quintal... Poderei ir preso?