Foi neste mesmo dia de Outubro de 1982 que a minha vida mudou radicalmente.
Do menino quase imberbe que assumiu trabalhar numa empresa de referência saiu ao fim de 37 anos 9 meses 25 dias um homem bem diferente.
Entrei jovem, solteiro e mau rapaz e saí casado, velho e avô para casa e uma pandemia que atemorizava todos.
Liguei a um velho amigo e colega que entrou comigo neste mesmo dia, para lhe dar um abraço telefónico. A vida dele é assaz diferente da minha, mas cada um é que trilha o seu o próprio caminho.
Disse-me uma vez o arquicteto, poeta e declamador José Fanha que a arte cria arte. Que lemos ou ouvimos um texto ou uma poesia e essa atenção exclusiva poderá originar um texto, poema, crónica escrito por nós ou por quem escuta.
Quando o poeta me disse a tal máxima, fiquei um tanto céptico, até porque a ideia de um dia publicar um livro estava a anos-luz da minha própria realidade.
Ao aterrar na blogosfera, especialmente nesta plataforma da SAPO, depressa percebi que a minha ideia de escrever quase só para mim e que ninguém iria interagir comigo estava completamente errada.
De tal maneira que hoje a comunidade da blogosfera tem um ritmo próprio mui longe das frenéticas redes sociais como é o feicebuque, o uotessape e muitas outras, mas foi ao som deste ritmo pachorrento porém persistente que fui conhecendo muita gente com quem troquei muuuuuuuuuuuitas ideias, donde surgiram uma série de desafios que acabaram por resultar em fiéis amizades.
Ora um destes dias andava eu em busca de um determinado livro quando me deparei com a dispersão de obras pela minha estante. Livros assinados pelos autores, alguns, outros nem por isso, mas que cairam nas minhas mãos fruto destas relações blogosféricas.
Acabei por juntar alguns, não todos porque há outros livros e outros autores que estão noutra casa, e tirei a foto infra.
Estes são alguns, repito apenas alguns dos livros dos outros.
Reconheço com a humildade devida que José Fanha tinha mesmo razão!
Calculei, pelos vistos mal, que as reacções ao meu livro estavam encerradas. Assumo aqui e agora o meu desvario pois fui confrontado com mais algumas, qual delas a melhor, ao meu livro "Des(a)fiando Contos" publicado em Maio passado.
Cabe-me de forma venerada e humilde agradecer à Beatriz o seu fantástico postal que publicou no passado dia 6 e que podem ler aqui.
De um jeito bem telegráfico aquela bloguer ligada à educação (mais uma nesta boa comunidade) foi desfiando uma ideia sobre cada um dos meus textos. Muito bem Beatriz, muito bem mesmo! Simplesmente... fantástico!
Só que quatro dias depois foi a vez da Ana D. publicar um postal discorrendo neste as suas ideias sobre o meu livro. Muitas delas nem eu tinha percebido que estavam lá... até agora. Mas tens razão Ana este livro sou eu... mas é bocadinho de todos aqueles que fazem parte da minha vida, seja esta ligada à escrita, à família ou simplesmente pura amizade.
Finalmente sinto-me verdadeiramente honrado pelas bonitas palavras que vão escrevendo sobre este pobre de Cristo.
Sinceramente não me recordo quando nem como nos tornámos amigos. É certo que na aldeia é fáci fazer amigos e muito mais fácil criar inimigos.
O António Ambrósio foi durante muitos anos imigrante em terras gaulesas. Como muitos outros na aldeia. Certa madrugada encontrei-o na padaria do Manuel em amena cavaqueira. Bebemos nessa manhã, cada um o seu café enquanto o padeiro ia dando conta do meu pedido.
O Tonito como muitos o chamavam tinha conjuntamente com o irmão Zé uma horta por detrás da minha casa. Ainda antes de ir à padaria passava muito cedo pelo chão, libertava as galinhas e enchia os comedouros dos porcos.
O curioso é que sempre que passava à minha porta no seu chaço e sabendo que eu estava na aldeia (bastava ver a minha carrinha estacionada perto de casa!!!) apitava, assim como quem diz: acorda que há um café para beber! Algo que a princípio me irritava e mais tarde me divertia.
Foram anos nisto... Até que da última vez confidenciou-me: deixei a França, definitivamente. Tenho um cancro e vim para morrer em Portugal.
Foi um murro no estômago que recebi. Depois encorajei-o com as palavras que não soube escolher e muito menos dizer. De vez em quando telefonava-lhe para saber como estava, mas senti-o a definhar.
Ontem regressei à aldeia beirã e encontrei, por acaso, o irmão Zé! Conversa para aqui, conversa para ali, acabei por lhe perguntar:
- E o teu irmão António?
- Oh esse já foi!
Já imaginava este desfecho! Mas custou entender esta dura realidade.
Assim no próximo Outono já não irei escutar a buzinadela madrugadora vinda do chaço do António. Nem beberei o café quente!
Somos feitos de memórias é certo, mas algumas doem mais que a realidade.
A nossa amiga e professora Maribel autora deste blogue alertou ontem a comunidade para o que hoje se comemora: o dia dos blogues!
Pois, na verdade se não fosse aquela bloguer nem me recordaria que há um dia dedicado a esta partilha de escrita.
A primeira vez que ouvi falar de blogues foi através do Abupto de Pacheco Pereira que raramente visitei. Não percebia o conceito e naquele tempo as minhas preocupações eram outras. Todavia fui-me ajustando à nova realidade para só em 2008 assumir a responsabilidade deste pedaço de virtualidade!
Pergunto-me amiúde o que seria de mim se não houvesse esta forma de comunicar onde cada um é responsável pelo que escreve e independente do que os outros pensam sobre os seus escritos. Em termos pessoais esta aventura da blogosfera tem sido fantástica por tudo o que ela já me ofereceu! Uma comunidade de gente boa, amiga, solidária, preocupada, mas outrossim divertida e simpática.
Em termos de escrita a blogosfera foi o rastilho perfeito para eu escrever mais e mais, culminando como é sabido numa compilação que originou a publicação de dois livros.
Por tudo isto os blogues não correspondem apenas a palavras, pensamentos, ideias ou opiniões. São também muitos nacos de vida abertos ao mundo para que todos possamos tirar deles as lições que quisermos.
Cabe-me finalmente agradecer a todos pelos comentários, pelas reacções, pelas imensas leituras. No fundo ser feliz também passa por este mundo.
Digam o que disserem normalmente somos nós que cozinhamos o nosso futuro. Umas vezes conseguimos fazê-lo de forma competente outras nem por isso. Mas exceptuando algumas situações, mantenho a ideia de que cabe a cada pessoa trilhar o próprio caminho.
Ele é mais novo que eu. Uma mão cheia de anos. E se esta diferença em tempos foi enorme agora nem se nota. Ainda por cima porque parece mais velho que o meu pai que já conta 91 anos. Somos amigos há muitos anos. Tantos que já quase me esqueci. Brincámos muito e aprendi muitas coisas com ele. Especialmente espírito de sacrifício.
Eu andei na escola... ele raramente por lá passou. Ele cresceu ao "Deus dará", eu sempre demasiado acompanhado.
A idade foi-nos lentamente afastando, mas sempre que ia à aldeia encontrava-o a fazer aqueles trabalhos que ninguém queria e que só ele aceitava. O caso mais difícil que assisti foi num Verão quente, quente como deverá ser o Inferno. Ele andava a pintar uma parede exterior de uma casa sob um Sol abrasador. Perguntei-lhe o porquê daquela hora e ele respondeu:
- O corpo pode trabalhar e eu preciso do dinheiro.
Doeu-me ver aquele meu amigo entregue a uma tarefa que não merecia. Depois não lhe poderia dizer nada, pois o orgulho é um estado de alma muito difícil de entender.
O tempo passou veloz, como sempre. Eu fiz a minha vida, tomei as minhas boas e más decisões, mas ele, parece que só soube errar.
Revi-o esta madrugada no clube da aldeia onde às 7 horas fui buscar pão. Comia um bolo e bebia um café. Magro como sempre foi a sua vida de muita miséria, devorou o bolo, sem nunca largar o cigarro. Cumprimentei-o como sempre o faço e no fim as acabei por lhe pagar o que comera e ainda lhe dei algum dinheiro.
Quase de certeza que o gastou em tabaco e na cerveja que pode beber.
Finalmente poucos lhe conhecem o seu verdadeiro nome. E mesmo aqueles que sabem nunca o tratam pelo nome próprio usando sempre a alcunha. Ou alcunhas.
Entretanto eu:
- Bom dia Amílcar, como estás?
Ele:
- Vou bem!
Sei de antemão que nunca vai bem. Nunca foi, nunca irá!
Mas não será por isso que deixarei de ser amigo dele.
Desde novos que consideramos amigos aqueles que nos rodeiam, nos abraçam e nos apaparicam, Podem ser e serão certamente, mas há amigos para a vida sem que nunca nos tenhamos cruzado na rua...
E não é por isso que a nossa amizade deixa de existir. pelo contrário! Os elos serão tão fortes que nada estragará este genuíno sentimento.
Como já aqui referi criei um grupo no uotessape e fui juntado boa gente que se tornaram bons amigos. De tal forma que quando alguém fica bem todos regozijam, mas quando a vida nem sempre nos oferece o melhor ficamos tristes.
Soube hoje que uma dessas pessoas e indispensáveis decidiu parar de escrever no seu estaminé. Obviamente que está no seu real direito, mas também cabe a quem gosta dela dizer que sente uma profunda tristeza pela futura ausência.
Mais um blogue que fecha portas, nem que seja temporariamente, mas como sempre refiro aqui houve o cuidado de o comunicar publicamente, algo que é deveras salutar e que prova o respeito que o escritor tem para com os seus leitores e comentadores.
Assim sendo desejo à Cotovia as maiores felicidades e ficarei a aguardar o seu ressurgimento.
Diz-se no futebolês que só faz falta quem está! Todavia na escrita não se pode nem deve aplicar esta ideia futebolística... pois quem não está faz naturalmente muitíssima falta.
A distribuição que fiz pelos meus amigos aqui da blogosfera do meu mais recente livro continua a arregimentar reacções. Num mês mais cinco postais diferentes incidindo sobre o "Des(a)fiando Contos" dado à estampo no passado mês de Maio.
Começo pelo mais antigo publicado a 6 de Julho pela minha amiga de coração a Di, no seu fantástico blogue! Como poderão ler aqui. Nem sei como lhe agradecer!
Dois dias depois coincidentemente duas referências. A primeira de uma outra amiga de longuíssima data, a Maria Araújo, minhota e avó por devoção. Escreveuistono seu bonito espaço. A segunda é da Carla que conheço recentemente destas traquinices de escrita e a quem também ofereci um volume. Rematou o final da leitura com este belíssimo postal! Muito obrigado Carla!
Entra Agosto e eu de férias. Boa! Porém no dia 7 eis que a nossa professora, educadora e bloguer Maribel no seu blogue, apresenta um bonito naco de prosa que me deixou sinceramente comovido. Por vezes nem é preciso escrever muito... basta deixar as mãos falar com a caneta (ou teclado!!!).
Finalmente a Marta não deixou os seus créditos por mãos alheias e toca a esgalhar um postal muuuuuuuuuuuuuuuito bonito e simpático para com este pobre. Não estava à espera Marta. Muito obrigado.
Finalmente remato com a ideia de que isto não fica por aqui... Mas se ficar, acreditem, já valeu a pena!
Desde jovem sempre tive boa relação com o sexo feminino, não obstante ter vivido nove anos escolares em turmas só de rapazes.
A minha interacção com as “meninas do meu tempo” foi sempre baseada num respeito profundo e mútuo, salpicado aqui e ali por algum cavalheirismo marialva. Tudo dentro da normalidade da época.
Esta minha postura respeitadora levou-me a fazer grandes amizades com muitas jovens da minha idade e outras mais velhas e até mais novas.
No entanto e passados todos estes anos (mais de 40) perdi o rasto à maioria delas, se bem que algumas até tivessem ido ao meu casamento. Mas a vida não pára.
Vem este postal ao caso de que uma dessas amigas de antanho faz hoje anos. Sessenta pelas minhas contas. Como já referi nada sei dela desde aquele tempo. Um tempo onde não havia telemóveis, correio electrónico e muito menos feicebuque ou uotessape e daí ter perdido o contacto.
Estejas onde estiveres, minha amiga I., espero que vivas muitos anos e envio-te daqui os meus sinceros parabéns e votos de muita saúde. Calculo que nunca lerás este postal... não importa!
Porque podemos deixar de nos ver, falar, mas não foste, nunca, esquecida.
A ideia, já quase generalizada de que os verdadeiros amigos são aqueles que advêm dos bancos da escola não tem cabimento no meu espírito.
Acontece que durante o nosso palmilhar pelos caminhos da vida cruzamos com pessoas de quem nos tornamos amigos e que se tornam tão ou mais amigos que aqueles que nos viram crescer.
Digo porque aconteceu comigo e ainda acontece. Acresce esclarecer que na amizade a antiguidade não é um posto, já que um amigo recente pode tornar-se muito mais importante que outros mais antigos. No fundo é tudo uma questão de sensibilidade.
A blogosfera caíu-me nos braços (até parece aquele trecho humorístico do Toni numa das Conversas da Treta) e durante algum tempo pareceu-me um ambiente distante e frio. Enganei-me redondamente! E ainda bem!
Já em tempos falei desta amizade blogosférica neste texto recente.
Entretanto criou-se uma comunidade de bons amigos e que eu, faz hoje precisamente um ano, acabei por juntar num grupo de uotessape! Não me lembro do primeiro nome que o grupo teve, mas actualmente chama-se, e muito bem, "Desgovernados".
Somos apenas 15. Com maior ou menor actividade sei de antemão que estão todos presentes. Uns para os outros. No fundo, no fundo é isso que realmente conta.
Ora como o grupo está de parabéns venho agradecer: