De almofada me vesti...
Resposta ao desafio da Mel e da Mula
Um diálogo improvável!
Pego na minha almofada e ando com ela às voltas entre as mãos. Não sei o que dizer ou escrever. Porém, no instante seguinte:
- Olha lá e se me pousasses na cabeceira da cama?
Atónito respondo:
- Tenho de escrever sobre uma almofada…
- Finalmente alguém me dá valor…
- O que é que estás pra’í a dizer?
- Que finalmente alguém me dá o real valor.
- Valor? Tu és uma almofada como há milhões por esse mundo fora.
- Enganas-te! Redondamente!
- Ai sim? E sabes dizer-me qual o teu valor?
- Depende…
- Depende de quê?
- Daquilo que posso dizer…
Atirei a almofada para cima da cama, mas esta acabou por rebolar para o chão. Voltei para trás e apanhei-a.
- Fazes o favor de não me maltratar… Pois não é assim que lido contigo…
- Ai que cada vez percebo menos…
- Companheiro, por muito que te custe admitir eu não sou um objecto… sou um conceito.
- Conceito? Como assim?
- A minha função não é unicamente dar conforto no teu sono, mas descobrir novos caminhos para as tuas dúvidas, dilemas e ensejos.
- Andas a ver muitos filmes…
- Pois ando… mas são longas metragens do quotidiano.
- Oh pá… dramas a esta hora não… por favor!
Um silêncio cresceu entre nós. Só que a minha curiosidade parecia crescer. Desculpei-me:
- Sabes, se alguém estivesse a ler isto diria que estou louco.
- Não temos todos um pouco de loucura?
- Mas falar com uma almofada é, no mínimo, caricato…
- Ai é? E quando te apaixonaste pela aquela miúda da escola e ela te deu uma nega, onde foste chorar? E quando perdeste o torneio de xadrez, com quem desabafaste a raiva?
- Mas não eras tu…
- Pois não… mas era outra… Daí dizer-te que sou um conceito… e não um singelo objecto.
- Tive tantas almofadas na minha vida…
- Eu sei disso, mas a todas elas recorreste para te ajudar na resolução dos teus problemas.
Desta vez o silêncio foi meu.
- Ficaste calado?
- Sim estou a pensar… és capaz de ter razão… Olha... já tenho ideias para escrever.
- Mais uma vez vais dormir sobre este assunto… e em cima de mim!
- É mesmo. – sorri!
- Então fica bem e verás que amanhã já tens o texto escrito.
Não é que tinha!