Ora bem... após as eleições deste último fim de semana temos então uma Alemanha a tentar virar à direita e uma Europa toda encolhida, qual cachorro maltratado, e ainda longe de perceber o que irá acontecer na maior economia da Europa.
Angela Merkel tem um grande problema entre mãos. O SPD, companheiro de coligação da chanceler, diz que não pretende fazer parte de um próximo governo passando para a oposição. A verdade é que a extrema-direita, que valorizou publicamente os soldados do terceiro Reich, passou a ter assento no parlamento. Esta postura vai criar um enorme desafio no Reichtag.
Face a esta nova ordem política interna Merkel vê-se obrigada a negociar com o SPD ou com os Liberais, ou até com os Verdes que têm assento parlamentar, de forma a evitar coligações com a AfD. O mais grave desta situação é que alguns destess partidos têm visões opostas às da Chanceler.
Portanto a Europa está obviamente espectante aguardando com alguma ansiedade que geringonça sairá desta nova Alemanha.
No início deste torneio Mundial, provavelmente esta seria a hipótese mais remota de uma final. Todavia como o futebol não é uma ciência exacta (e ainda bem!) temos uma Alemanha demolidora contra uma Argentina trabalhadora e que tem vindo a subir de qualidade futebolística na razão inversa que depende de Lionel Messi.
A selecção germânica não é imbatível. A Argélia, por exemplo, soube montar bem um esquema que atrapalhou os pupilos de Joachim Lowe. E não fosse o aspecto físico a trair os argelinos, nem imagino o que estaria neste momento aqui a escrever...
Por sua vez a selecção do país das pampas começou este campeonato Mundial em velocidade moderada, mas foi ganhando os jogos. Apresentou um futebol de alguma qualidade (não muita), mas teve na união de toda a equipa o seu ponto forte.
Assim esta tarde-noite vamos ver um jogo muito táctico, com ambas as equipas a tentarem colocar em jogo os seus melhores trunfos.
Não aposto na vitória de nenhuma das equipas. Nem tenho qualquer preferencia.
Li com muita atenção a entrevista que o Ministro das Finanças alemão deu ao Jornal de Negócios e que foi publicado no passado dia 27. Lúcido e coerente q.b., tendo em conta os óbvios interesses do povo alemão, Wolfgang Schäulble deixou uma mensagem que deveria ser lida por todos os governantes, especialmente os lusos.
Diz então, o braço direito de Angela Merkel, a determinada altura o seguinte: “As pessoas querem saber a verdade, e a verdade tem de ser dita de forma adequada. Isso quer dizer que as pessoas têm de conseguir entender o que lhes está a ser dito. E há muita gente na classe política a falar de uma maneira que realmente ninguém pode entender”.
Em três linhas o actual ministro do governo germânico definiu a classe política europeia. A verdade jamais é divulgada em toda a sua extensão e apenas são divulgadas meias verdades. É compreensível que o responsável máximo pelas Finanças da maior economia europeia possa serenamente fazer estas declarações. Jamais em Portugal um qualquer Ministro teria esta coragem de assumir que a classe política explica (muito) mal as suas ideias.
Eis a táctica para esta tarde levarmos de vencida a Alemanha. Ingredientes: 3 grelhadores, 50 sacos de carvão (dos grandes), 200 quilos de salsichas de Torres Vedras, Montijo e Rio Maior (convém que haja muita escolha); 90 pães de Alcobaça, 750 caixas de Vinho Mateus Rosé (bem gelado).
Tudo colocado pelo “staff” de Portugal ao longo de uma das linhas laterais do campo. Antes de começar o jogo, botar lume ao carvão já devidamente colocado nos grelhadores e assim que se der início ao jogo colocar as salsichas a grelhar. Resultado: Ala contrária ao churrasco completamente desguarnecida para os avançados lusos. Queixa à FIFA pelo uso de “dopping”. Incremento evidente das exportações portuguesas. E obviamente: Vitória assegurada!
O resultado das eleições do último fim-de-semana devia tornar-se num sinal evidente de alarme para a actual sociedade política, não só portuguesa mas outrossim europeia. É óbvio que a austeridade imposta pela troika, nos últimos três anos, plasmou-se neste resultado, onde a grande vencedora foi uma vez mais… a abstenção.
Retiro assim do resultado português diversas conclusões:
A primeira prende-se com a eleição de Marinho Pinto. Um advogado trauliteiro sem capacidade para se sentar numa cadeira de Estrasburgo. Reconheço-lhe alguma razão… todavia a forma (demasiado) populista como aborda os assuntos e os discute na praça pública, atira-o para aquela franja de políticos que adoram dar nas vistas sem apresentarem grande trabalho.
A segunda é que a esquerda portuguesa nunca se abstém. Uma verdade quem vem de longe!
A terceira – entronca claramente na segunda - e cai numa ideia e que se liga ao meu sentimento de que o voto devia ser obrigatório, tal como acontece em alguns países democráticos da Europa. Se assim fosse, certamente que nenhum dos partidos de esquerda andaria nesta alegria desmedida.
A quarta conclusão é que se pode ganhar sem vitória e perder sem derrota. Falo claramente do PS que ganhou as eleições, mas muito longe de um resultado que poderia e deveria ser histórico e da coligação PSD/CDS que perdendo, ainda assim conseguem após três anos de má governação, não descolar em demasia do partido liderado por António José Seguro.
Finalmente a Europa (principalmente a Alemanha!) parece ter acordado para uma realidade bem diferente daquela que gostaria e desejava. O (bom?) futuro passa obrigatoriamente por uma visão menos economicista e mais humanista da sociedade europeia, sem a qual o velho continente arrisca-se a mergulhar num caos político e financeiro, muito à semelhança do início do século XX.