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Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

A campanha que se aproxima

Há uns tempos li duas notícias contraditórias sobre o mesmo assunto. O tema era o azeite e o preço que se prevê para a próxima campanha, que estás prestes a começar!

Uma delas falava de alguém que acreditava plenamente na descida do preço do azeite para, decorrido pouco tempo, ler o inverso já que o maior produtor de azeite do Mundo, a Espanha, continua deficitária no que respeita a este produto tão mediterrânico.

Lembro-me a este propósito que o ano passado um dos lagareiros a que recorro me contou que dias antes lhe aparecera no lagar um espanhol carregando um saco cheio de euros para lhe comprar toda a produção a um valor bem acima do mercado de altura. Todavia o dono do lagar recusou-se a fazê-lo mesmo tendo consciência que perderia um bom negócio.

Bom azeite a oito euros o litro até que nem é muitio caro. O que é substancialmente caro será o preço da mão de obra especializada. Porque pagar a 80 euros ao dia a um homem, a que se associam outros gastos torna-se um valor quase incomportável.

Mas permitam-me um exemplo: a campanha de um ano principa quando damos por finda a campanha do ano anterior. Podar as oliveiras, lavrar a terra, cortar os rebentos novos, ceifar algum pasto... enfim... uma série de tarefas que serão banais, mas custam muito dinheiro ao dono.

Para esta ano de 2024, já gastei perto de mil euros, sem saber se terei algum retorno na próxima colheita. E quando esta principiar lá estarei a trabalhar de Sol a Sol sem receber qualquer benefício. Apenas o ter a certeza que o meu azeite será para mim e para os meus.

Após uma recente e rápida visita ao olival percebi que o azeite voltará aos preços do ano passado. Até porque a produção será bem menor que em outros anos. O ano é bissexto e nestes anos atípicos a agricultura sofre mais que as outras actividades.

Posto isto provavelmente daqui a um mês já estarei a escrever sobre a novel campanha. Entretanto preparem as bolsas para pagarem o azeite ao valor do ouro!

Uma lição!

Há muitos, muitos anos conheci na aldeia um homem sui generis, mesmo para aquela época. O nosso primeiro encontro foi na estrada quando eu, um rapazola ainda muito imberbe, passava os dias rua acima rua abeixo na minha bicicleta. Como andava sempre a "assapar" certa vez quase me esbardalhava contra o seu enorme rebanho de cabras. Pedi-lhe desculpa, mas aquela figura do ti' António Costa chamou-me à atenção. Já muito entrado na idade, percebi-lhe na voz uma certa deficência: era fanhoso!

A verdade é que esse foi o nosso primeiro diálogo. Alguns outros se seguiriam, poucos, mas de um deles ficou uma lição de filosofia para a minha vida. Quiçá a primeira e que anos mais tarde consegui claramente entender.

O ti' António era um pobre homem a quem ninguém lhe conhecia amizades, mas ele também não as favorecia. Nunca ia à taberna e se alguém por acaso o convidava para beber um copito, ele respondia:

- Não vou, depois queres que pague eu...

Se insistiam lá ia, mas escutava logo um assobio colectivo:

- O ti' António na tasca? Quem será o desgraçado?

Na verdade o velho pastor vivia numa casa que mais parecia um pardieiro. Não tinha água, nem casa de banho e muito menos electricidade. O que comia poucos sabiam, mas não deveria variar muito de batatas, tomates ou feijão que ele fazia questão de cultivar.

Um dia percebi que o seu parco rendimento financeiro advinha da venda do leite a uma cunhada e de alguns cabritos e cabras mais velhas, para o talho. Mas se recebia pouco, também era verdade que não gastava uma moeda.

Das últimas conversas que tive com ele e perante a minha insistência sobre o que fazer com o dinheiro ele deu-me esta lição:

- Quem te dera a ti, meu rapaz, gostares tanto de estrafegar o teu dinheiro, como eu gosto de poupar o meu!

Esta frase que na altura entrou a 100 e saiu a 200, só muitos anos mais tarde, como já observei acima, se tornou numa assumida filosofia de vida.

Transportada para o dia de hoje aquela frase traduz com uma simplicidade quase absurda o que deveria ser a nossa vida: fazer unicamente o que gostamos, sem termos vergonha nem receio.

Ti´António foi encontrado morto por uma irmã, no chão imundo da casa, rodeado de todo o género de bicharada peçonhenta.

Nunca ninguém falou se encontraram dinheiro.

Calor, calor e mais calor!

Espero sinceramente que este calor que hoje se fez sentir não venha para ficar. Na Beira Baixa onde andei quase todo o dia sob um Sol inclemente e feroz não houve água que me dessentasse.

Vale que as terras ainda contêm muita água após um Inverno e uma Primavera bem mais chuvosa que anos anteriores. Os rios ainda correm com fervor e as charcas estão cheias.

O calor beirão é conhecido pela sua pujança que só se consegue amenizar com a modernidade do ar condicionado.

A erva verde principia a secar transformando-se em feno doirado que brevemente será aconchegado em fardos, para gastar mais tarde com o gado sempre esfomeado.

Esta canícula derrete-me por completo. É por estas e por outras que continuo a gostar do Inverno.

O meu 25 de Abril de 24!

Tinha 65 anos e quase dois meses.

Estava reformado.

De quarta para quinta fiquei em casa dos meus pais numa aldeia cravada na encosta da serra dos Candeeiros. Ali estava depois de ter ido, no dia anterior, ao Hospital de Torres Novas com o meu idoso pai a uma consulta de Nefrologia.

Acordei a desoras depois do dia anterior ter andado toda a tarde de volta de um jardim que não via, como deveria ser, mão humana há muito tempo.

Tomei o pequeno-almoço e abalei para dar fé de como estariam as fazendas após a intervenção competente de uma equipa de sapadores florestais.

Os terrenos estão na sua maioria alquevados pelos focinhos e presas dos javalis. Terrível pois é impossível ter algo semeado

Numa fazenda encontrei à sombra de um pequeno carrasco um ninho com três pequenas cotovias, muito imóveis. Uma beleza da natureza.

Veio a hora do almoço que decorreu num restaurante onde me debati com cabrito assado devidamente acompanhado com arroz de miudezas e uns grelos salteados.

Tudo bem regado com um tinto do Douro.

Já em casa preparei o regresso à capital. À saída ainda encontrei um primo que viera fazer uma visita aos meus pais. Despedi-me e pus-me a caminho via A1 até Lisboa.

Chegado, ainda fui ao lar ver a minha demente sogra, para logo a seguir buscar num supermercado alguns víveres para o almoço de hoje.

Quando, finalmente, aterrei em casa já passavam das 18 horas.

Deveras cansado desisti de ir para a rua comemorar o dia de ontem.

Ficará certamente para o ano!

Todo partido!

Hoje estou a escrever na aldeia, acompanhando pelo meu pai e mãe. O meu já muito idoso antecessor teve a sua consulta de nefrologia de rotina no Hospital de Torres Novas e tem conseguido escapar, por entre os pingos da chuva, ao duro tratamento da hemodiálise a que foi condenado há uns meses.

Já em casa na aldeia atirei-me a um jardim que há muitos anos não via mão humana. Muito mato, muita erva e as flores a pedirem intervenção urgente (no meio de tanto mato até nasceram uns pés de couves, agora já sem folhas, mas como muuuuuuuuuuuitos caracóis)

Depois fui podar uma árvore que cresceu muito mais que devia até quase tocar os fios da electricidade. Portanto uma tarde inteirinha a dar conta de um espaço que necessitava uma anormal intervenção.

O monte de inertes crescia. Por sorte passou um primo com uma carrinha de caixa aberta e pedi-lhe se me ajudava a libertar daquele monte. Aceitou a tarefa mas seria mais tarde.

Eram já seis horas da tarde quando apareceu. Carregámos a carrinha por duas vezes e fomos largar tudo numa fazenda minha para secar e depois queimar.

Uma tarde muito trabalhosa e como já não estou habituado a esta actividade sinto agora o corpo cada vez mais dorido e a pedir repouso!

Fui ali e voltei!

Hoje fui à aldeia!

Ver os meus pais, as fazendas, os canitos e os gatos.

Tomar consciência que os velhotes estão quase no fim da linha (é a vida!). as fazendas estão repletas de erva (com a chuva recente, pudera!), os canitos continuam barulhentos (bons guardas, eles!) e os gatos continuam distantes (nunca me deram muita confiança!).

As oliveiras começam a vestir-se de uma cor verde clara, para daqui a umas semanas se transformar em ínfimas flores brancas e mais tarde, se a metereologia deixar, em pequenos bagos que irão eventualmente crescer para mais tarde enviuvar. Chamam aqui candeia,  na Beira apelidam de chora. Seja como for é a Primavera a dar as verdadeiras boas vindas à vida, após umas semanas de chuva que tudo atrasou!

A erva alta e verde de agora esconde muitas outras plantas, algumas curiosas e usadas com fins terapêuticos. É o caso desta que ainda está demasiado verde para ser colhida. Daqui a mais umas semanas, após a floração, estará pronta para secar e mais tarde servir óptimas infusões.

Sabem de que planta se trata?

Salva_.jpg 

Regressei ao fim do dia à cidade. Na aldeia ficaram apenas memórias!

À volta de uma porta!

1 foto1texto

Resposta a este desafio!

A foto infra foi tirada na aldeia onde vou amiúde e que fica no sopé da serra da Gardunha. Tanta vez que passei neste local e só agora me lembrei de fotografar este espécie de portal... para qualquer lado.

Não imagino se neste sítio houve alguma vez uma casa ao redor desta entrada, mas a verdade é que a estrutura, para quem como eu adora imaginar... coisas, dá para tudo ou quase tudo.

Provavelmente fizeram neste local apenas uma entrada para a propriedade ou para um qualquer barracão... Todavia gostaria de imaginar construir algo a partir deste portal granítico. Da mesma maneira que de um pequeno desejo pode sair algo imenso.

Portanto deixem a vossa imaginação vaguear... 

Porta de pedra.jpg

Olha a bela tangerina!

Resposta a este desafio!

Na última ida à aldeia na Beira Baixa, no início deste mês encontrei num terreno que agora é meu esta minha tangerineira. Na altura creio ter partilhado com alguns amigos daqui...

20231208_123927_resized.jpg 

Pena que os frutos ainda não estivessem maduros, pois de outra forma a carrinha viria ainda mais carregada do que veio.
Decididamente nesta aldeia só morre à fome quem quiser. 

Calma no campo!

Não me lembro de ter uns dias assim na aldeia: calmos, serenos e a fazer aquelas coisas que sempre que aqui estou digo que farei... para a próxima vinda.

Plantei uma nogueira, cerquei-a de aramada,

20231103_112733_resized.jpg

desbravei a erva e o mato por debaixo de uma laranjeira e alarguei a sua cerca,

20231103_112653_resized.jpg 

cerquei um dióspireiro antes que as ovelhas o descubram

20231103_112803_resized.jpg 

e repeti a acção da laranjeira com uma macieira de Bravo-de-esmolfe!

20231103_112813_resized.jpg 

Finalmente alguns dias menos agitados para alguém já de si bem acelerado.

Amanhã regresso à cidade. Pelo menos matarei saudades das netas!

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