Na aldeia onde ainda vivem os meus pais já velhotes fui há uns anos descobrir algumas das fazendas da família no estado que a foto abaixo documenta (acresce dizer que esta fotografia foi tirada na fazenda ao lado da do meu pai!!!).
Mato e mais mato. Aroeiras, carrascos, silvas, alaga-cão, urzes... havia de tudo um pouco.
Com os parcos euros que tinha acabei por contratar gente para me limpar as fazendas. Durante meses os meus fins de semana eram passados a queimar o mato cortado. Depois fiz um pedido de subsídio ao PDR2020. Do valor inicial de investimento orçamentado, que rondou os 15 mil euros, irei talvez, repito talvez, receber... 2500 euros. Mas gastei muuuuuuuuito mais que o orçamentado.
Entretanto a propriedade ficou assim após muuuuuuuuuuuitas horas de trabalho. O chão é pobre pois as pedras quase que crescem em profusão, mas sobram as oliveiras, os medronheiros e alguns sobreiros e azinheiras.
No sábado passado, dia em que tirei estas fotografias e antes de chegar à fazenda encontrei um primo que costuma pastorear umas ovelhas e perguntei-lhe como estava o chão. Respondeu-me com um sorriso onde denunciava uma boca quase sem dentes:
- Está bom, até já cresce erva!
Constatei que para além da erva também já cresciam umas flores silvestres.
Já plantei os primeiros tomateiros, Não sei que tipo são, mas certamente não serão daqueles berlindes que é só casca e semente e quase nem servem para comer, somente para enfeitar.
Há dois anos vi uma plantação de tomateiros que me encheu o olho. Era aquela de uma prima direita que esteve muitos anos radicada nos Estados Unidos e de lá trouxe algumas sementes de tomates que nunca vi em Portugal.
Ficou na altura combinado que me arranjaria uns pés. Estávamos em 2019...
Devido à pandemia o ano passado não pude passar por casa dela, mas este ano não falhei... e de lá trouxe uns pés de tomateiros com os seguintes nomes:
Manitoba;
Brandywyre Black;
Best Boy;
Soldecki;
Ponderosa Pink;
Money Maker.
Plantados que foram acabei por fazer um mapa das linhas, identificando quem são e em que lugar se encontram.
Por aqui só conhecia o chucha, o coração de boi, o tomate maçã e o tal que falei no início e que dá pelo belíssimo nome de... chérri.
Todos os anos vou aqui repetindo as minhas plantações.
Já sem as couves de inverno e após alguns meses de intempérie que deixou a terra num autêntico lamaçal, eis uns dias quentes que enxugaram a chão. Aproveitei assim esta trégua para enterrar dois compostores de estrume doméstico para que as próximas plantações tenham os nutrientes necessários e naturais para crescerem.
Ainda não plantei os tomateiros. Um vizinho disse que mos traria e deste modo aguardo.
O que já estão plantados são os feijoeiros e o cebolo. Este ano experimentei comprar feijão já nascido e plantá-lo em vez da costumada sementeira. A ver como corre!
Faltam os tomateiros, as curgetes e os pepinos, mas a terra, essa, já esta pronta após espalhar o lixo organico. Agora os compostores vão ser lavados e guardados. Durante a Primavera e o Verão não faço compostagem... Os mosquitos mesmo com terra por cima são em demasia.
No início desta semana tive de ir à aldeia num tiro pois fui convocado pelo IFAP para uma visita às propriedades sobre as quais incidia um pedido de ajuda.
Este processo iniciou-se há uma meia dúzia de anos para após uma recusa por falta de verbas, ter sido aceite com direito a uns euros.
A verdade é que desde que comecei a fazer intervenções nas fazendas que ainda são do meu pai já gastei uns bons milhares de euros nuns pedaços de terra que se fossem vendidos não me dariam nem um quarto do que lá gastei.
Porém como também não tenho vícios e acima de tudo gosto de ver as terras arranjadas, fui investindo o que deveriam ser poupanças.
Segundo percebi irei receber uma fortuna que rondará 2500 euros, quando já lá gastei 20 vezes mais.
Mas o pior não está nesta minha situação, mas tão-somente saber que há cerca de 300 mil hectares de terras sobre as quais não incide nenhum subsídio, ao mesmo tempo que há “supostos” agricultores a receberam valores quase pornográficos, sem terem quaisquer terras. Como o conseguiram não imagino, mas foi o técnico que visitou as fazendas que denunciou a situação.
Entretanto parece que em 2023 as coisas tenderão a mudar, mas até lá…
Obviamente que não quero viver da agricultura, mas apenas gostaria de uma ajuda para tratar das terras que durante anos foram desprezadas.
A verdade é que a agricultura continua a ser o parente pobre da sociedade portuguesa. E dos consecutivos governos!
Hoje aproveitei o dia com sol para finalmente dar conta da minha horta. É que contas feitas há mais de uma semana que não tinha consciência de como estavam as couves para este Natal, tal foi a chuva contínua e assaz persistente.
Sinceramente.... do que vi gostei. É que a dez dias do Natal as minhas couves apresentam já este bom aspecto.
Faltou-lhes quiçá o frio e a geada que certamente ajudaria na sua cozedura futura.
Termino hoje esta série de textos sobre a campanha da azeitona deste ano.
Devo desde já esclarecer que estes textos têm unicamente uma função didática, já que há muita gente que não tem conhecimento de como o azeite chega âs nossas mesas.
Sei que as grandes empresas do sector terão menos preocupações e menos trabalhos que eu, mas isso não tira, obviamente, as minhas dores nem o meu cansaço e muitíssimo menos o meu empenhamento..
Nasci e crecei quase no meio da azeitona já que os meus avôs, tanto paterno como materno eram grandes produtores. Na aldeia onde me criei era normal, por esta altiura, a chegada de ranchos de gente vindas de longe com o único intuito de apanhar azeitona.
Nesse tempo nem um bago ficaria no chão, estivesse ele em óptimas condições ou quase podre. Recordo até uma frase da minha avó a dizer para o marido:
- Não mistures o azeite... O desta medura vai somente para casa.
Acresce dizer que o outro serviria para quase tudo, Desde alimentar as candeias com as quais iluminavam as noites ou tão-somente conservar os enchidos ou os queijos.
Como já escrevi num postal anterior fiquei desliludido com os quilos apanhados e a sua transformação em azeite. Sempre pensei que teria mais peso e obtivesse mais azeite. Erro de cálculo...
Todavia o que conta é reconhecer que este trabalho não é fácil, nada mesmo, mas no final fica sempre aquela nostalgia por já ter acabado.
Recupero hoje uma velhíssima máxima do meu avô, homem muito sábio. Dizia ele que em tempo de azeitona o patrão deve esperar pelo nascimento do dia... no olival.
Sempre achei esta ideia demasiado radical, mas a vida tem o condão de nos ensinar.
Digo isto porque era ainda madrugada e já estava no olival concordando com o meu avô!
Não obstante a luminosidade da foto afianço-vos que o sol ainda não havia aparecido. Todavia minutos mais tarde dei conta de uma cor alaranjada na linha longínqua do horizonte...
eram 7 horas e dois minutos. Finalmente nascera o dia.
Tirando esta madrugada a jornada foi um conjunto de factos normais na apanha da azeitona: estender panos, colher, levantar panos, juntar a azeitona em mantas para limpeza, limpar a azeitona retirando os ramos e folhas, ensacar e finalmente arrumá-la até ser levada para o lagar.
O dia esteve bom sem calor com um capelo cinza, sem nunca ter chovido.
Aproxima-se o fim desta campanha. Creio que amanhã poderá ser o último dia de apanha. Faltará, no entanto, levar a azeitona para o lagar e esperar que o azeite nasça como que por milagre.
Confeso que ao fim do dia gosto de olhar o chão e perceber os diversos pontos brancos que correspondem aos sacos cheios de azeitona.
Bem cedo cheguei ao olival e logo estendi os panos por baixo das oliveiras
antes que o meu colaborador chegasse. Este ano tive a sorte de arranjar alguém que me ajudasse nesta espécie de demanda.
Sinceramente já vi gente muito trabalhadora, mas reconheço que como este homem nunca assisti. Reparem como trabalha ele com a varejadoura eléctrica.
Eu que deveria estar a seu lado para colher azeitona também com uma máquina, acabei por andar o dia todo a estender e levantar panos e juntar os montes de azeitona como este.
Não imagino o que aconteceu às oliveiras beirãs, mas este anos de 2020 cada árvore dá fruto com fartura. Por isso os sacos acumulam-se no aramazém.
Contam-se já perto de 90 sacos o que dá aproximadamente 2000 quilos. E ainda há muitas para colher.
Hoje para variar... andou-se o dia todo na azeitona!
Mudou-se de fazenda, mas não de actividade. Há que aproveitar os dias de sol e a abençoada (neste dias) ausência de chuva.
Ainda ontem ao fim da tarde, já a noite entrara, acabei por transferir todo o aequipamento para outra fazenda para que hoje tudo se iniciasse sem mais demoras. É que as oliveiras são muitas e requerem alguma atenção especialmente na pode.
Ãssim que chegámos npotou-se o chão molhado da noite húmida.
Chegaram os homens e depressa se chegou a isto.
Para se fazer um pequena ideia esta mantada deu cinco sacos cheios de azeitona negra e bonita. Como já aqui havia falado se não fosse isto,
muito provavelmente estaríamos muito atrasados. O video não é muito feliz em primeiro plano, mas se repararem bem no segundo há outrém.
Voltava eu a espalhar pela terra os panos que irão recolher a azeitona,
enquanto outros cuidavam em podar as oliveiras colhidas.
A azeitona cai em quantidades fantásticas e três horas depois há novo pano repleto
somente que mãos hábeis retirem as folhas antes de ensacar.
A chão está tão atapetado de panos que houve quem brincasse com a situação.
Entretanto a poda das oliveiras resultava nisto,
Após o almoço a azáfama mantém-se para chegar o fim do di e olhar-se o terreno e vê-lo assim.
Há baldes, sacos cheios, mantadas com mais azeitona, rama da poda espalhada, oliveiras bem despidas.
Depois foi arrumar o que se pode para finalmente recolher os sacos.