Ontem à noite li uma frase interessante onde alguém dizia que as árvores são corajosas. Aceitam o que lhe a Natureza tem para lhes oferecer seja chuva, seca, frio ou vento e nunca saem do mesmo sítio, permanecendo imóveis. E morrem de pé!
Transplantado esta ideia para os humanos, somos, ao invés das árvores, geralmente muito pouco maleáveis já que cada um gosta das coisas à sua maneira. Temos uma dificuldade em aceitar o que não queremos ou não desejamos considerando que tudo acontece por falta de sorte ou pior ainda... azar!
Nunca achei que a sorte ou a falta desta influenciasse a minha vida! Sou o que sou, genuinamente falando, seja aqui na escrita seja na vida real e nunca coloquei nos outros as culpas do que me acontece ou não acontece.
No fundo tudo isto para dizer que somos fruto das nossas decisões, sejam estas projectadas no futuro, boas ou más! Depois há os imponderáveis que isso ninguém controla.
Portanto tento ser como as árvores: aceitar o que me é oferecido e tentar viver com isso! Mesmo que muitas vezes a tristeza me abrace!
Um idoso na minha aldeia disse-me há alguns anos que limpar uma oliveira (na Beira diz-se podar) era uma arte. Achei o conceito um tanto rebuscado, mas entendo a génese da ideia.
Na verdade qualquer árvore necessita que lhe retirem os ramos secos ou quiçá doentes. Mas nem todas são assim, já que há árvores que fazem a sua própria limpeza. Um desses casos são os pinheiros bravos que ao crescerem em altura vão perdendo os ramos mais velhos.
Normalmente as árvores de fruto são aquelas que requerem maior atenção e cuidado na poda de forma a não se perderem para sempre, exceptuando as videiras.
Diz então o povo na sua já costumada sabedoria secular que o primeiro podador de uma videira foi um jumento. Este último conceito quer apenas dizer que qualquer pessoa, sem conhecimentos agrícolas, consegue cortar uma videira sem que esta fique estragada.
Mas será mesmo assim? Não haverá sempre uma forma melhor que outra?
Há uns anos quando comecei a vir até à Beira Baixa por esta altura podar as minhas videiras, levei comigo para o terreno, um primo habituado a este tipo de trabalho. A seu lado fui tentando perceber qual a regra ou regras para podar vides. Mas foi infrutífera aquela minha tentativa.
Finalmente ganhei coragem e perguntei como se podavam as vides, ao que ele me respondeu:
- Cortando.
Isso sabia eu... mas quais é que se cortam e acima de tudo saber quais os que ficam. Usei então de um método pouco ortodoxo, mas eficaz para quem quer uma resposta:
- Então corto tudo a eito. Também não lhes dou mais nenhum trabalho senão crescerem.
Foi a vez do outro de assustar e finalmente explicar-me como deveria fazer.
Reconheço que podar uma oliveira ou um salgueiro não acarreta a mesma responsabilidade para cada uma das àrvores, mas não chegando ao exagero de considerar uma arte. concordo que é necessário muito saber e diria mesmo habilidade e olho clínico.
Na vida já fiz um pouco de tudo. Gerei dois filhos, já escrevi um livro (mesmo que seja uma coletâna de pequenos contos) e finalmente já plantei diversas árvores. Para além de outros trabalhos menores.
Mas este fim de tarde voltei a plantar uma árvore. Desta vez uma laranjeira, já que a anterior que se transpôs ressentiu-se da mudança e acabou por secar.
Gosto deste sentimento de dar vida à vida. E uma árvore, mesmo que um citrino, é um momento fantástico.
Agora é aguardar que o frio nocturno não estrague esta mudança.