Peregrinar é isto - V
Quinto dia...
Saímos de Minde cedo como nos outros dias. Previam-se 17 quilómetros até à Mãe Santíssima, quase sempre em estradas de terra batida, para terminar em alcatrão.
O caminho fazia-se devagar tal era o esforço da maioria dos peregrinos ao fim de quase 150 quilómetros. Acabei esta minha viagem a conversar com o Padre J. que me escutou... escutou... escutou...
É preciso ser-se um enormíssimo pastor para conseguir levar este rebanho pelas estradas, em busca do consolo de Virgem Maria.
Uma peregrinação não pressupõe somente andar... Há nesta opção, que nos é tão familiar, um misto de sentimentos, onde o espírito de sacrifício de cada peregrino, a teimosia, a persistência e a verdadeira fé se conjugam numa espécie de mistura rica, muito bonita e assaz sensível.
Chegou-se à Cova da Iria ainda antes do almoço. Coletes amarelos entregues, surgiu então uma mancha laranja, já que cada peregrino foi brindado com um bonito camisolão, referente a esta peregrinação. Rezámos o terço ainda antes de entrar no santuário. Por fim...
Ao centro a velha Basílica, para do lado esquerdo se observar a Capelinha das Aparições. Fomo-nos aproximando em silêncio. Um silêncio que teve o condão de fazer despertar muitas lágrimas. Duzentos metros.... cento e cinquenta... cem...
A cadência dos passos é sempre a mesma. Ninguém corre nem recua. Há ali uma atracção serena por aquele espaço.
Cinquenta metros... trinta... vinte. Há quem olhe para aquela mancha colorida de forma estranha. Outros mais habituados, nem ligam.
Por fim a imagem de Nossa Senhora envolta numa redoma de vidro, ali a aguardar por todos nós. Pelos nossas dores, aflições, desejos e orações. São torrentes de lágrimas sentidas, choradas com fervor, partilhadas com os outros peregrinos.
Veio o almoço seguida da eucaristia onde a homília foi quase toda substituída por partilhas dos que viveram esta aventura. A maioria dos que falaram foi a primeira vez que peregrinaram!
Peregrinar resume-se neste permanente dar de mão, naquela questão ao que caminha sozinho "estás bem?", nas muitas horas de partilhas nos chãos desses pavilhões, dos banhos mal tomados.
Peregrinar é assim tudo isto e muito, muuuuuuuuuuuuuuito mais.
Diria... uma bem-aventurança!