O primo A.!
Na aldeia onde residi recentemente duas semanas há um parente mais velho que durante muitos anos nos valeu nas diversas bravatas que tivemos, especialmente na azeitona.
Ainda antes de haver varejadoras eléctricas o primo A. era chamado para nos ajudar e fazia-o sempre com gosto e competência.
Funcionário da CP na capital rapidamente foi reformado regressando definitivamente à aldeia que o viu nascer. Em má hora, acrescento eu! Porque a partir dessa altura o primo A. começou a "gastar muito álcool aos 100". Com produção própria lentamente ficou preso no vício do vinho. Melhorava quando lá íamos. mas eram só meia dúzia de dias.
No último ano que nos ajudou era mais o tempo que nada fazia que aquele que trabalhava. Ainda por cima levava a 50 euros ao dia!
No ano seguinte optou-se por outra equipa e o parente ficou definitivamente de fora.
Sendo um homem pobre e reformado tudo aproveita para a casa ou para si mesmo. A horta parece mais um pequeno centro de objectos inúteis que um lugar de cultivo.
Como qualquer aldeão, não obstante a sua condição financeira, é orgulhoso e resiliente. Assim sem que ele o perceba (creio eu) sempre que o encontro encomendo umas coisas que ele me vende. A maioria das vezes... aguardente. Peço sempre cinco litros e pago-lhe o valor sem qualquer negociação. Ora como não necessito daquela forte bebida, até porque estou proibido de o fazer, no fundo tento oferecer-lhe ajuda sem que ele se sinta ofendido.
Assim nos últimos anos repito a encomenda que ele me entrega num garrafão e eu pago-lhe o que me pede.
Dito por outras palavras acabo por demonstrar solidariedade sem que ele sequer perceba e mais importante que tudo, sem que se ofenda!
A gente lê-se por aí!