O azar da sorte!
Já por aqui fui referindo por diversas vezes que não me preocupam os bens. Prefiro ter saúde ou no mínimo preservar a que tenho actualmente, ter bons amigos e acima de tudo ter paz de espírito.
Se para a saúde o dinheiro (ainda) pode ser mais ou menos importante, para o restante por muito dinheiro que se tenha há valores que nunca se compram… apenas se conquistam.
Abordo este tema porque esta semana houve um prémio chorudo no Euromilhões. Desta vez até joguei e, acreditem ou não, até tive medo que me saísse alguma coisa… É que isto de dinheiro do jogo não é coisa com a qual eu lide facilmente, tendo como exemplo a história seguinte, que aconteceu em 1982 a um amigo e colega de trabalho.
Nesse longínquo ano só havia dois jogos da responsabilidade da Santa Casa: o totobola e a Lotaria Nacional. No início do Verão o meu amigo A. conseguira acertar num 13 que correspondia a ter acertado nas apostas todas.
Na época o sorteio da Lotaria Nacional fazia-se à quinta-feira! Nessa quinta o A. vai à loja onde entregara o boletim premiado e recebeu na altura a módica quantia de 30 mil escudos (150 euros).
Pode parecer pouco nos tempos que agora decorrem, mas à época era algum dinheiro. Basta dizer que eu nessa altura ganhava 18 mil escudos por mês. O administrador da empresa ganhava 50 mil.
Só que o A. era um jogador nato. Com o dinheiro na mão oriundo do prémio do totobola, perguntou na loja se tinham algum bilhete inteiro para a Taluda. Respondendo negativamente A. subiu a larga Avenida e procurou um cauteleiro que tivesse um bilhete inteiro. Encontrou-o no cimo da avenida e comprou-lhe o bilhete.
A sorte estava com o A. (estaria?), pois após a hora do almoço o meu amigo descobre que no bolso traseiro das suas calças moravam 42 milhões de escudos (aproximadamente 210 mil euros). Uma pequena fortuna.
Nessa tarde fui com ele a um banco onde depositou o jogo como de dinheiro vivo se tratasse.
Passado pouco tempo despediu-se e eu acabei também por abraçar um novo projecto de trabalho e deixámos de nos ver. Mas continuei a saber dele por outros colegas.
Vim então a tomar conhecimento que o A. certo dia, conduzindo um carro que na altura era uma bomba, numa viagem para o Algarve tivera um acidente com mortos e feridos muito graves. O pai e o irmão de A. haviam sido as vítimas mortais, um amigo ficara numa cadeira de rodas. Ele próprio ficara gravemente ferido.
Nunca mais o encontrei… Nem soube mais nada dele! Mas a sua história marcou-me profundamente… Permanece no entanto, qual cicatriz no coração, a seguinte pergunta: e se nunca tivesse saído a taluda ao A.?
Ninguém poderá ou saberá responder com propriedade.
Assim prefiro que a sorte ou o azar venham ter comigo sem que eu tenha feito nada por isso a não ser… existir!