Natal... azedo!
Jorge Luís Borges escreveu que certa vez um pintor amigo lhe prometera pintar um quadro. O escritor argentino cuidou de arranjar uma parede para lá colocar o quadro, que nunca veio por o pintor ter falecido. Todavia o poeta jamais ocupou aquele espaço dando assim azo à imaginação dos donos da casa sobre o que poderia ali estar pintado.
A consoada deste Natal de 2019 foi feita na casa do meu filho mais velho. Estávamos doze pessoas à mesa, que mesmo sem crianças cria alguma confusão. Mas já estamos habituados.
Acabado de me sentar aparece o meu sobrinho com uma garrafa de, imaginem só, Barca Velha de 1966. Vais abrir, não vais abrir e estava nesta troca de galhardetes quando ele diz:
- Já está aberta!
Decantado o vinho para um recipiente próprio aguardou-se um certo tempo para que aquele respirasse, como mandam as regras dos bons enólogos.
Finalmente a prova...
Horror dos horrores, tristeza das tristezas, decepção das decepções... o vinho estava azedo. Vinagre autêntico.
Veio-se depois a perceber que o gargalo algures estaria partido...
Bom fazendo então a ponte entre o texto de Jorge Luís Borges e este acontecimento natalício diria que há semelhanças. Bastava que nunca se tivesse aberto a garrafa para ficarmos toda a vida a imaginar ao que saberia aquele vinho.
Um exemplo que ficou para recordar em futuros Natais!