Greves: a luta que nunca continua!
Em termos teóricos considero a greve com uma forma legítima dos trabalhadores lutarem pelos seus direitos. Sejam por melhores vencimentos, melhores condições de trabalho ou benefícios sociais, desde que justos, a greve fará sempre sentido.
Eu próprio já aderi à greve!
Mas quando a fiz levantei-me à mesma hora dos dias de trabalho e apresentei-me à porta da minha entidade laboral, mas não entrei. Fiquei ali horas a fio, em amena cavaqueira com outros grevistas presentes, até ser a costumada altura de ir para casa.
O mundo evoluiu e a greve deixou de ser unicamente uma forma de luta por mais direitos, para se tornar uma espécie de arma de arremesso contra a tão propalada, conhecida e desejada… paz social.
Reconhecendo alguma infidelidade à minha anciã veia de esquerda, oriunda dos anos setenta do pós 25 de Abril, e agora diluída numa pacata neo-burguesia, sinto que a maioria das greves não fazem sentido.
Os sindicatos, que são geralmente os grandes mentores desta forma de luta, estão quase todos associados a centrais sindicais de reconhecido cariz partidário.
Ora neste sentido é fácil criar-se instabilidade social e política através da assumpção de greves mais ou menos politizadas. Capacidade de mobilização, alguns slogans como chamariz… e temos a “feira” montada.
É por estas e muitas outras que olho para o nosso sindicalismo, e retirando algumas honrosas excepções, repito olho com muito cepticismo e consciente que aquele está cada vez mais afastado dos interesses dos trabalhadores e mais próximos de alguns sectores políticos.
A greve dos médicos que hoje se iniciou não sei se é justa ou não, mas a saúde deveria ser a última arma de arremesso contra um povo já de si tão carente de serviços médicos competentes. Meses à espera de uma consulta que depois não se realiza por causa de uma greve não é, de todo, a maneira mais democrática de lidar com a população.
Haverá certamente outras formas de luta que possam alertar o governo para o problema. Mas jamais à custa dos doentes. Jamais!
É que estes não merecem. E os médicos também não.