Escapar ao negócio!
Vim à aldeia beirã numa viagem rapidinha, quase só para homenagear o meu falecido sogro que fará amanhá 17 anos que partiu e apanhar alguns marmelos e gamboas para a próxima marmelada e geleia.
Saí cedo da capital, parei na feira do Feijão Frade na Lardosa e continuei para a aldeia, onde almocei. Depois do almoço o calor apertou e fiquei em casa até que a temperatura fosse mais branda.
Voltas para um lado e para o outro era já noite quando parei num café e pedi uma "mine" para amenizar a sede. Estava eu dentro do café quando um homem que conhecia, mas creio nunca lhe ter falado se aproximou de mim e perguntou se eu era primo do C., e sem que eu pudesse responder atirou:
- Tenho ali um pedaço de terra ao pé de si e queria saber se estaria interessado em comprar.
Atacado assim de chofre a minha reacção foi genuína e a resposta mais ainda:
- Não sei se quero... já tenho por aí tanta coisa, e depois não sei onde é...
- É a fazenda pegada consigo do lado norte... a que tem um barracão.
Obviamente que a minha série de aquisições de terrenos rústicos nos últimos anos ficou célebre e apetitosa para quem se quer livrar de terrenos. Ou de trabalhos. (Apostaria na segunda!). Mas para esta gente é necessário ter cautela com o que dizemos. Por isso inventei uma desculpa:
- Eh pá... até poderia estar interessado desde que a fazenda esteja em seu nome. Ela está?
A atrapalhação denunciou a venda:
- Ah, não sei... mas acho que não! Aquilo foi herança do meu pai e só soube que tinha aquilo após a sua morte.
- O costume por aqui... Mas então coloque o terreno em seu nome e depois falamos. Pode ser?
Um ar de desânimo surgiu na face, para logo acrescentar:
- Mas fazemos o negócio, o senhor fica com aquilo e quando tiver os papéis prontos faríamos a escritura. E pagava-me nessa altura.
Escapei outra vez:
- Sinceramente não me sinto bem nessa situação... Trate de colocar tudo em seu nome e só depois poderemos falar em fazer negócio. Até lá nada feito. Não me leve a mal...
O homem ficou desiludido com a minha postura. Mas também não poderia ser de outra forma. Farto de pagar escrituras de usucapião estou eu! Ainda por cima são caras e demoradas na sua conclusão.
A minha fama de tudo comprar vai-se esfumar, acredito eu, mas não me importo nada! Até porque prédios rústicos tenho até até.
Agora se ele quiser tratar vai ter que gastar umas boas notas. E o tempo que irá demorar...
Mas antes ele que eu!