Duas ilhas - duas jóias #2
Vulcão de emoções
A descida da Caldeira correu célere, não porque eu conduzisse depressa, mas porque havia mais confiança no caminho. Entretanto encontro um Faialense de nome Carlos F. com quem falei sobre o belo gado que estava a mudar e num laivo de lucidez perguntei-lhe onde se poderia almoçar, sem luxos mas com qualidade. Eis que a resposta veio a contento com a indicação do restaurante Rumar na Praia do Norte, onde a D. Ermelinda comanda a cozinha.
Encontrado o asfalto logo virei à esquerda para o Varadouro. Desci o mais que pude para perto do mar onde encontrei uma espécie de praia. Mas sem areia... Óptima para jovens e menos jovens!
O azul e a limpidez daquelas águas são deveras impressionantes. Ficava ali, se pudesse, horas a mirar o vai-vém das pequenas ondas a bater nas rochas negras. A memória do que vemos e sentimos perdura no nosso espírito, mas a vontade de levar aquele pedaço de mundo connosco é tentador.
Deixei-me ali ficar por muito tempo, de tal forma que o estômago começou a dar sinal da necessidade de recarga. Peguei no mapa e percebi que a Praia do Norte seria relativamente perto já que a ilha é pequena. Depois voltaria para trás para reiniciar a visita.
O restaurante é simpático com uma vista bonita para o mar e para uns terrenos onde pachorrentamente pastavam algumas vacas e respectivos bezerros. Aqui comi, para além de uma tábua de diferentes e fabulosos queijos do "Morro", a célebre linguiça com inhame. Curiosamente da última vez que almoçara no Faial fora também este belo acepipe. Coincidências...
Após o almoço regressámos (quase) à origem para observarmos e darmos conta do que terá sido a erupção do vulcão dos Capelinhos. Acresce dizer que toda a vida ouvi falar desta erupção, simplesmente porque o meu pai foi testemunha ocular deste fenómeno da natureza e que daria à ilha mais uns hectares de terra cinzenta e originaria um enorme exôdo de Faialenses.
O Centro Interpretativo do Vulcão dos Capelinhos é muito esclarecedor e mereceu visita demorada e atenta.
O próprio farol e após 130 degraus dá-nos uma visão privilegiada de toda uma extensão de terreno inóspito, mas ainda assim muito bonito.
O pedaço de terra mais jovem de Portugal é agora um refúgio para muitas aves, essencialmente os cagarros onde nidificam sem a intervenção humana.
Foi com profunda emoção que palmilhei este lugar. Essencialmente em memória:
- dos que ficaram sem as suas casas e terras devido às cinzas;
- dos que se viram obrigados a partir em busca de melhores vidas;
- dos que corajosamente enfrentaram as vissicitudes;
e acima de tudo;
- por estarmos perante algo que aconteceu há uns meros sessenta anos.
3 - O porto que tem uma cidade