De vento me vesti...
Sob a égide da Mula e da Mel eis a resposta ao desafio desta semana.
Escalei ao cimo da serra onde diziam que o vento tinha forma. Chegado ao cume lembrei-me curiosamente deste poema.
Sentei-me numa pedra cinza presa ao chão, nem imagino há quantos séculos, e observei ao meu redor toda aquela distância… de quase tudo!
Lá em baixo as casas eram ínfimos pontos alvos e as árvores, mesmo que enormes perto delas, dali pareciam quase nada, um mero borrão verde. Uns singelos traços na paisagem longínqua traduzi como fossem as estradas e os caminhos. Tudo tão distante…
Inspirei o ar frio da manhã, não obstante sentir estar mais perto do Sol. Mera ilusão…
Eólo circundava por ali com uma pujança invulgar. Até o falcão de asas a abraçar a paisagem parecia parado no ar. As poucas árvores que por ali resistiam eram arduamente sacudidas quais leques sevilhanos.
A ideia que ali me trouxera prevalecia: o vento naquele cimo tem forma! Haviam-me dito…
Forma, forma como?
Ao longe o Sol elevou-se num horizonte anilado, por vezes escondido aqui e ali por uma almofada alva. O rosmaninho crestado pelo frio matinal e pelo vento agitava-se com fervor, assim como um pequeno arbusto de alecrim que odorava o local numa fresquidão selvagem.
Esperei serenamente que a forma do vento surgisse algures. Tinha essa esperança… de ver… de perceber… de descobrir.
Um nano pensamento, entretanto, introduziu-se no meu espírito e foi crescendo, crescendo até tomar… forma!
Pois... num instante percebera tudo!
Com um sorriso ergui-me do meu lugar pronto para partir, repeti o olhar em redor e descobri que ali o vento tinha mesmo forma...