De lápis me vesti...
Resposta ao desafio da Mula e da Mel
Lanço mão daquele pedaço de lápis, roído e sem graça. Miro e remiro-o, confiro o bico negro e reconheço que com ele, durante anos, desenhei uma vida em palavras. Muitas e muitas palavras.
Através delas falei de amor, tristezas, alegrias e esperanças. Escrevi sobre o passado, o futuro ou as estrelas.
Mas continuo a olhar o lápis… Pergunto-lhe se as minhas palavras fizeram ou fazem sentido para ele, mas não me responde. Arrogante, penso eu!
Dança nas minhas mãos como se buscasse qualquer coisa.
Não… descubro que sou apenas eu que gostaria que ele me desenhasse… Não a minha face desajeitada e sem graça, mas apenas a minha vida numa tela alva.
Imagino-o a subir e a descer sem parar em traços ora finos ora largos. A dar então sentido ao meu vadio coração.
Ali uma montanha que esconde os meus segredos, além as mulheres da minha vida de cabelos ao vento. No outro lado o mar, esse sonho impossível, ao lado uma floresta que não será mais que a minha vontade de ser livre.
O lápis continua a escrever e a desenhar como se tivesse vida própria. É um danado!
De súbito acordo desta letargia e tento recuperar o bom-senso. Procuro o desenho que não fiz nem nunca farei, mas ao invés encontrei isto escrito.
É um lápis no qual não posso confiar!