Culto eu? Nem pensar!
Estava eu na Beira Baixa em mais uma campanha oleícola quando à noite, muito cansado, passei os olhos pelas novidades do dia e destas destacou-se a polémica à volta de uma crónica da escritora e jornalista Isabela Figueiredo, publicado num semanário da nossa praça.
A escritora perorou sobre um programa da RTP1 de uma forma pouco ou nada elogiosa, assumindo a ausência de qualquer cultura ou essência de aprendizagem.
Ora bem... cada um tem naturalmente direito à sua opinião sem prejuízo de ser também visado de forma negativa nessa critica. O direito ao contraditório é, outrossim, válido.
O programa em causa chama-se "O Preço Certo" e é transmitido há muuuuuuuuuitos anos num horário quase nobre. Muitos foram os apresentadores deste programa, mas foi com o humorista Fernando Mendes que as audiências cresceram. E para que conste declaro aqui e agora que vi muitas vezes este programa.
Posto isto não apreciei a maneira altiva como a escritora falou do "O Preço Certo" usando entre outras a frase "tem valor cultural nulo". Como se todos os programas transmitidos pelas televisões fossem de cultura ou com eles aprendessemos alguma coisa.
E a tudo isto acrescento esta questão: como se define a cultura de um programa, de uma pessoa ou de um povo? Ou melhor: o que é a cultura?
Este é um tema danado, porque por muito que queiram balizar as definições nenhuma destas corresponderá à verdade. É curioso que ainda há bem pouco tempo vi uma entrevista que o humorista Herman José deu onde referia que tudo era cultura mesmo as coisas mais básicas.
O que me leva a pensar que a escritora Isabela Figueiredo olha do alto do seu enormíssimo pedestal assente na prepotência e na vaidade, e debita uma série de ideias como se a razão estivesse somente do lado de quem é intelectual.
Não é por se gostar do realizador Andrei Tarkovsky ou do poeta António Cabrita que se é mais culto que um pastor em Montalegre. A cultura é um acto único de assumpção do desconhecimento e uma busca de soluções para aquilo que não sabemos. Nada mais!
Para a escritora aqui visada "O Preço Certo" já não deveria existir, mas provavelmente para o pastor de Montalegre o programa deveria continuar.
Por fim ser-se culto não é apenas saber debater Schopenhauer ou Teilhard de Chardin, mas provavelmente perceber que o leite com chocolate não vem das vacas castanhas!