Crónica numa aldeia beirã
São sete da manhã de um dia feriado Nacional.
Gosto de acordar cedo na aldeia. Sentir o cheiro da maresia, ou escutar os cães repentinamente acordados por alguém que passa na rua... Eu!
Não há vivalma. A aldeia está cada vez mais idosa e deserta, que os mais novos náo querem a serenidade destes campos, mas o reboliço das grandes urbees.
Finalmente cruzo-me com um homem: o responsável pela Confraria das Almas. Magro, esquálido e de poucas falas percorre a aldeia de lés a lés em passo decidido. Nunca se sabe de onde vem nem par onde vai. É assim o Gervásio a quem nem vale a pena dar a saudação pois a resposta é imperceptível.
Passo por um café já aberto. Atravesso a porta e encontro a costumada ti'Filomena por detrás do balcão.
- Bom dia.
- Bom dia. O que vai ser?
- Um café!
Já na rua percebo porque o estabelecimento tem tão pouco gente. Ali não abunda a simpatia.
As casas de granito cinzento aqui e ali rebocadas a areia espalham-se pelo aglomerado.
Toca o sino na igreja indicando a meia hora certa. Começo a ouvir vozes e gargalhadas.
A aldeia finalmente parece ter acordado.
O dia é de feriado mas há tanta coisa a fazer. Que o amanho não requer dias determinados e o gado tem de comer sempre.
O Sol vai agora brilhando e as andorinhas durante a primavera tão afadigadas foram substituídas por vazios.
Num charca longe há patos bravos em puro descanso. Mesmo ao lado os coelhos e as lebres fogem. Há tiros nas redondezas.
A aldeia desperta já e vai ganhando normalmente vida.
No povoado humilde e pacaro não há sinais luminosos nem passadeiras nerm sentidos proibídos. E são raros os acidentes.
Quem terá ensinado os aldeões a andar na estrada?
A noite cai cedo. Há cada menos gente nas ruas e demasiado no café.