A cidade e as serras (versão breve) - III
Todos os anos se repete este sentimento de perda. Ou de angústia do regresso.
Voltar à cidade não me traz a alegria, nem a pujança para enfrentar os novos dias. Reconheço cada vez mais em mim aquela tendência para sair deste reboliço e procurar nas encostas serranas o meu destino final.
A semana passou célere. Dia atrás de dia, jornada a seguir a outra jornada e o retorno enfim consumado. Não me conformo com esta vida feita de pressas e sem nenhum vagar.
Na aldeia um rebanho atravessa a estrada, o pequeno tractor mantém a baixa velocidade, o ti'Manel encostou-se á enxada e dá dois dedos de conversa com o Ti'Albino. Ninguém sabe do que falam, mas imagina-se...
A chuva trouxe uma paisagem plumbea mas ainda assim serena. O ar frio da manhã custa respirar de tão puro. Os cães ladram ao longe. Paira no ar um odor a lareira. E quando a lua regressa é aquela luz que me guia.
Agora na cidade cerro os olhos e revejo-me lá naquela aldeia serrana apaziguando as minhas fúrias citadinas. E cai das mãos a pergunta:
- Ainda faltará muito para regressar à aldeia? Definitivamente!