Se tudo correr como previsto este ano regressarei a uma ilha açoriana que gosto muito. Refiro-me à ilha das Flores que visitei a última vez em... 2018.
A escolha desta vez recaiu num mês mais tarde à daquele ano (será em finais de Julho) até porque naquela época ainda estava no activo.
Serão quatro dias para verdadeiramente repousar e unir-me uma vez mais à Mãe Natureza. Rever cascatas e lagoas, comer lapas e bom peixe e quiçá dar um salto ao Corvo...
Talvez consiga outrossim novas estórias com outras personagens para alimentar o meu outro blogue!
As ilhas açorianas têm um manacial de episódios incrível.
Parece que ainda está longe, mas o tempo passa rápido!
Este quarto dia de visita a três ilhas dos Açores passei-o quase todo em transbordos aéreos.
Compreendo que a SATA tenha necessidade de minimizar custos, mas sair da Flores às onze da manhã e chegar ao PIco perto das seis da tarde parece-me realmente um desperdício... de tempo.
À saída da Fajã acabei por passar pela aldeida da Cuada, um projecto de alojamento turístico, que aproveitou as antigas casas da aldeia que entretanto haviam sido abandonadas pelos seus proprietários e fazer deste lugar um sítio de descanso quase perfeito.
Segui para o aeroporto de Santa Cruz mas só comecei a passear na ilha do Pico eram perto das sete da tarde. Ainda assim consegui dar uma volta pela ilha, obviamente de carro, tendo parado em alguns locais bem simpáticos. Como é o caso de S. Roque do Pico também ela em tempos uma terra de baleeiros.
Do Pico consegue-se ver a Ilha do Faial e a comprida ilha de S. Jorge. Todavia não percebi ainda o porquê da rivalidade que há entre os habitantes das diversas ilhas. Então entre Pico e Faial a coisa parece ser muito evidente.
A segunda maior ilha do arquipélado acoriano viveu muito da pesca da baleia e da agricultura. Desde 1987 data em que a última baleia foi pescada os habitantes do Pico apontaram os seus esforços para a produção de vinho. De tal forma que o vinhedo do Pico foi há uns anos transformado em património Mundial.
Curioso ainda a montanha do Pico,,, Há sempre ao redor da maior montanha de Portugal uma penumbra que nunca nos deixa ver a montanha como gostaríamos. O acesso ao topo é feito somente a pé e recorrendo a guias especializados. Pelo que percebi são necessárias 4 horas para subir e outras tantas para descer.
Nesta ilha, como em todas as outras, as populações procuram a beira do mar para se instalarem, donde retiram muito sustento.
Conforme fui atravessando a ilha apanhei bom tempo, nevoeiro e também muitas nuvens. Acabei por parar para jantar nas Lajes do Pico (já percebi que Lajes é um nome de povoação muito comum nos Açores!!!). Povoação onde se encontra um belo museu em honra dos baleeiros, erigido nos antigos armazéns onde se guardavam as embarcações da faina da pesca da baleia.
À hora a que cheguei já se encontrava encerrado, mas ficou o desejo de ali voltar.
Acabei por jantar no "Café da Ritinha" local bem aprazível e com bom peixe. Preços razoáveis.
Não obstante a hora tardia ainda consegui apanhar um exemplo do que apanhei no Pico.
Estávamos em vésoeras do dia dedicado ao santo de Lisboa. por isso acabei por ser convidado pelos donos do restaurante a participar na festa que eles tinham reservada para essa noite, A costumada simpatia açoriana a vir ao de cima. Todavia declinei o convite tendo em conta trinta quilómetros de uma estrada que não conhecia, ainda por cima de noite.
O espírito enublado que me acompanhou durante todo o dia, a desaparecer com este singelo convite.
Por telefone havia reservado, dias antes, viagem para a ilha do Corvo. Deste modo foi bem cedo que saímos da Fajã Grande para Santa Cruz das Flores, onde chegámos a tempo e horas, já que nos haviam avisado que o transportador para o Corvo detestava sair atrasado.
Cerca de um quarteirão de pessoas, todas turistas e de diversas nacionalidades, entraram à hora marcada na embarcação. Saímos devagar por entre as rochas que há milhares de anos foi lava incandescente.
A viagem não foi directa à ilha e fomos então brindados com uma volta ao redor da costa leste e norte da ilha das Flores, donde destaco as inúmeras quedas de água,
para além dos já falados ilhéus.
Outro dos eventos que sublimou este dia foi sem dúvida a visita a algumas cavernas, destacando delas a "Cathedral Cave" como o navegador gostou de lhe chamar.
Após mais de meia hora nesta inesquecível volta eis-nos então a caminho da ilha mais pequena do Arquipélago dos Açores.
Foram cerca de 45 minutos a uma velocidade constante de 22 nós marítimos (aproximadamente 40 quilómetros à hora), sem sobressaltos nem golfinhos.
A vila do Corvo apareceu finalmente no nosso horizonte. Todavia o cimo da ilha surgia forrada de uma cor plúmbea que nos fez temer o pior.
A embarcação atracou e tentámos logo arranjar transporte para o cima da montanha que sabíamos ser o local absolutamente imperdível. Após algum compasso de espera lá veio o carro que levou dois casais para o topo.
Tenho consciência que o ser humano nem sempre está bem preparado para o belo. E então se for oferecido pela Natureza, ainda menos. Talvez por isso me comovi ao ver este espectáculo,
A fotografia não consegue ser totalmente fiel à beleza do local. Mesmo que as nuvens se dissipem e se tente uma melhor perspectiva,
O que foi uma antiga cratera de um vulcão já extinto tem agora 5 quilómetros de perímetro e dois de diâmetro. As duas lagoas separadas por pequenas elevações no seu interior tornam a paisagem ainda mais bucólica. E o verde... essa cor tão brilhantemente natural é constante.
Senti-me totalmente esmagado pela visão desta paisagem.
Numa descida de mais de um quilómetro acabei por chegar bem perto da água onde as râs, impávidas e serenas coaxavam com alegria.
A vista de baixo é outrossim imperdível e não fosse o carro que nos traria para a vila estaria muito mais tempo naquele lugar. Um verdadeiro santuário de paz.
Aqui e ali salpicado por alguma vaca que na descida e subida nos olha com indiferença preferindo obviamente o pasto fresco e viçoso.
Subimos devagar a encosta, não sem antes voltar a fixar aquela paisagem perfeita.
Já no cimo as nuvens voltaram a cobrir o Caldeirão inibindo mais fotografias. Regressámos ao mundo dos homens onde no restaurante local "O Caldeirão" comi um "peixão" delicioso. A minha mulher optou por cherne. Não foi barato já que não comi entradas nem sobremesa, mas valeu a pena pela qualidade do prato.
Eram 16 horas quando regressámos a Santa Cruz das Flores, agora sem direito a mais brindes. Quiçá a visualização da tão perigosa "Caravela Portuguesa", mesmo a li à beira do cais.
Regressámos à Fajã Grande para já tarde irmos jantar à "Barraca C'abana".
Já conhecia o local do primeiro dia, mas faltava-me ainda ver algo neste dia tão preenchido e tão marcante: o pôr-do-sol!
Uma das curiosidades da ilha das Flores, nesta altura do ano, é o tamanho dos dias. Começam muito cedo, pelas 6 da manhã já é dia alto e às 11 da noite ainda há uma penumbra diurna.
Após o primeiro dia de muitas emoções pictóricas, já faladas no texto anterior, este segundo dia foi essencialmente dedicado a visitar as diversas povoações da ilha, todas elas ribeirinhas ao mar.
Cada aldeia desenvolve-se quase sempre à volta do seu pequeno porto ou ancoradouro. Seja no cais ou nalgum terreno mais alargado é frequente verem-se embarcações para diversos fins mas, essencialmente diria, para a pesca artesanal. Não olvidando algum pequeno veleiro de recreio.
Muito acima no nível do mar porém bem visível de quase toda a povoação eleva-se a igreja. Todas elas muito parecidas com diferentes santos padroeiros mas normalmente bem estimadas, especialmente por dentro.
A costa da ilha quando não tem habitações é porque são as escarpas íngremes que dominam a paisagem. Depois… os rochedos que vão saindo do mar como se procurassem ar e vida. Negros e irregulares.
Ponta Delgada das Flores parece, ao longe, ser uma mui pequena povoação. Todavia já dentro do povoado quase que cresce.
Parei o carro num estacionamento e percorri a parte interior do lugar, sempre a pé. Coincidentemente era Domingo e aproveitei para assistir à missa no Dia de Portugal na igraja matriz da freguesia.
A igreja ainda assim estava bem composta de fiéis na maioria mulheres idosas..
Depois… foi hora do almoço. No Pescador comemos cabrito à moda das Flores (parecido com a chanfana da Beira Alta) e bife de atum. E claro está… antes as célebres lapas. Deliciosas. Preço bom, se bem que não tenha comido sobremesa.
No entanto antes do almoço ficara algo para ver: o Portinho. Mas perdemo-nos antes de lá chegar.
O curioso é que quando passara a primeira vez pelo restaurante para tentar saber qual a melhor hora para comer, cruzei-me com um pescador que trazia seguramente nas mãos mais de vintes quilos de um peixe vermelho: as vejas. Meti-me com o pescador que me explicou o que iria fazer com elas: salgá-las e secá-las. Depois serão cozidas como o bacalhau e segundo o pescador é um peixe muito saboroso.
A caminho do carro voltei a encotrar o pescador que me perguntou se conhecera o portinho. Respondi-lhe negativamente até que ele me explicou como ir para lá. Havia que descer 168 degraus e depois subi-los. Que não achei problema.
Regressámos ao sítio e à segunda tentativa encontrámos o passadiço que mais parecia uma parede divisória de um terreno.
Um conjunto de degraus levou-nos finalmente ao tal Portinho. Uma espécie de praia reservada de águas límpidas, tão limpidas que me deliciei tempos infinitos a ver aquele espectáculo.
Após a subida foi a altura de visitar a ponta da ilha e o seu farol do Albernaz. No caminho bom mas tortuoso outra curiosidade. Ao lado da ponte que atravessa uma ribeira eis que encontro um conjunto de galináceos que ao invés do que é costuma se aproximam de mim. Sem receio, sem qualquer temor.
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Ao fim de alguns quilómetros lá surgiu o tal farol, último e luminoso reduto de uma ilha perdida no Oceano.
De volta a Santa Cruz ainda houve tempo de apreciar num parque temático alguns gamos
e uns belíssimos pavões, machos e fêmeas e crias.
O dia terminou em Santa Cruz no pequeno boqueirão que foi em tempos recolha da pesca da baleia.
Saimos de madrugada. O voo para Ponta Delgada sairia às 6 e meia da manhã.
Já na capital açoriana apanhámos novo avião para as Flores. Todavia este ainda haveria de parar na Horta. Nesta aerogare reabasteceu de combustível pois, por vezes, os aviões não aterram e têm de regressar sem sequer poisar na ilha onde “o azul é mais azul e o verde mais verde”.
Chegámos à ilha pelas onze horas locais – menos uma hora que no Continente. Algumas nuvens degladiavam-se com um sol quente.
Levantou-se a viatura e corremos para o apartamento para mudarmos para uma roupa e calçado mais prático.
A viagem de carro entre Santa Cruz e Fajã Grande, local onde ficámos alojados, começou a dar uma pálida ideia da beleza que iria encontrar mais tarde. O verde era constante mesmo que de variadíssimos tons. Um sobe e desce, curvas e a primeira constatação: muito gado bovino espalhado pelas encostas. Por vezes são minúsculos pontos na paisagem.
A foto da Fajâzinha tirada do miradouro da estrada para o Mosteiro é um bom exemplo.
Já no alojamento, mudámos rapidamente de calçado e como havia chegado a hora de almoço procurou-se um local para comer. Entre algumas opções e indicações que tinha, optei um pouco ao acaso, pelo PapaDiamandis. O restaurante é amplo com uma óptima esplanada e vista para o mar, praia e acima de tudo para o poço do Bacalhau. Uma cascata donde cai água permanentemente.
O almoço foi naturalmente peixe. Não sem antes haver uma entrada de lapas que estavam uma delícia. Sabiam a verdadeiro mar. Depois o tal peixe: uma garoupa e um boca-negra assados na brasa. Muito bom. Mas o melhor estaria para vir, pois com a chegada da sobremesa o meu palato foi confrontado com um dos mais saborosos pudins de ovos que comi em toda a minha vida. Sublime!
O preço da refeição pareceu-me na altura, um tanto exagerado, mas mais tarde percebi que era um valor mais ou menos normal.
Saciados era tempo de procurar... aventura.
Começei pela Lagoinha ou Poço da Caldeira do Ferreiro ou ainda a Lagoa das Patas, esta última porque segundo afirmam pela manhã é possível avistar bandos de patos selvagens que pernoitam na lagoa.
Ao local chega-se através de um caminho pedregoso que com chuva ou apenas molhado deverá ser perigoso, especialmente a descer. Daí no início do caminho encontrarmos uns bastões, que deverão ser devolvidos no final e que eu pensei poderem ajudar na subida. Porém depressa percebi que a descida poder-se-ia tornar muito mais perigosa.
Sincera e dificilmente estamos preparados para a beleza do local. Parece uma dessas paisagens retiradas de um qualquer filme de Hollywood. O sítio obriga por isso ao silêncio. Porque a água, o chilrear dos pintassilgos e dos melros são mais fortes que a nossa voz. E imperam... tal como o coaxar das rãs...
As fotografias não fazem justiça à real beleza do local, pois até as árvores, em profunda veneração, se vergam a esta obra quase perfeita da mãe natureza.
A saída não sendo íngreme deve-se ter cuidado, porque o chão não é macio. As levadas ladeiam em parte o caminho transportando a água para a ribeira.
Muitos turistas, especialmente estrangeiros, costumam fazer a volta das lagoas a pé. Serão alguns quilómetros, primeiro sempre a subir, mas sem nunca se ter a certeza de se conseguir ver, tal é o nevoeiro que por demasiadas vezes inunda o cimo das encostas. No entanto ao todo vi sete lagoas. Para além da já referida Lagoa do Paço do Ferreiro, nesta tarde conseguimos ver as restantes seis.
Lagoa Negra
Lagoa Comprida
Lagoa Rasa
Lagoa Seca
Lagoa das Lombas
Lagoa Funda
Dizem que a Lagoa Comprida tem vindo a perder água. É evidente a diferença.
Algumas delas são visivéis de pontos diferentes o que nos dá uma visão realmente muito diferente das Lagoas.
Reconheço, especialmente pelos dias seguintes, que tive muita sorte em conseguir numa tarde vê-las todas. Tirando a das Lombas onde o nevoeiro ia pregando algumas partidas as restantes foram bem apreciadas.
Curiosamente terminei o dia muito perto de onde almocei.
Durante cinco dias fui aqui colocando uma palavra associada com uma foto, tentando de forma sucinta com ambas ilustrar cada dia vivido nos três ilhas do arquipélago dos Açores.
Cinco dias que, não fossem os transbordos de avião, teria dado tempo para ver muito mais. Mas enfim é o que temos.
De uma forma muito geral direi que as ilhas que visitei não são aquele reduto escondido algures no mar. Bem pelo contrário.
Vi muuuuuuuuuuuitos turistas, portugueses e não só. Gente que procurou encontrar beleza natural, desportos especiais e que não ficou certamente defraudada.
As Flores e depois o Corvo são dois monumentos à natureza. A água é uma constante e não fosse algum calor provavelmente seria ainda mais. Os ilhéus relacionam-se bem com o gado e com o mar. De um lado e de outro há riqueza e sustento. Basta trabalhar o suficiente.
Assim como o turismo que cada vez mais se torna menos sazonal.
Uma aposta na diversidade de oferta de lazer parece ter sido ganha. Já que descidas de falésias, mergulho e visitas temáticas às baleias têm tido um grande incremento. Faltarão alguns detalhes, quiçá menores, mas quem vive no Continente nem sempre tem tudo o que deseja.
Nas próximos textos vou alargar a ideia que transmiti cada dia. Para que percebam que no meio do Atlântico a Natureza ainda é a rainha.