Ontem estive ausente da escrita como aqui justifiquei.
Tudo por causa da morte de uma tia, na Beira Baixa, com 90 anos, demente e doente. Assim sabida a notícia, tive de arrancar para a aldeia beirã donde havia regressado há 15 dias. É a vida e as pessoas merecem uma derradeira homenagem no momento da sua partida.
No velório encontrei muita família, como é apanágio destes acontecimentos. Conversa para aqui, conversa para ali acabei a noite a falar da campanha deste ano da azeitona com um primo. Falámos dos preços astronómicos a que se encontra actualmente o azeite, mas concluímos que bem vistas as coisas, aquele está demasiado caro para quem o compra, mas quase no preço justo para quem o vende.
A ideia ocorreu-me já de regresso: tentar apurar os custos tidos com as oliveiras. Certo de que a campanha deste ano iniciou quando acabou a anterior...
Assim comecei a apontar as despesas desde o ano passado. Logo que encerrou a campanha de 2022 pedi ao podador que limpasse as oliveiras mais necesssitadas. Trabalho feito eis a primeira despesa: 400 euros!
Depois entrou um tractor de estrume na terra que eu não contabilizo pois faz parte da renda a pagar por um dos rendeiros (se tivesse de pagar seriam no mínimo 150 euros). A seguir falei com um homem para espalhar o dito estrume ao troço das oliveiras. Fê-lo e levou-me 80 euros.
Veio o Inverno seco, a Primavera sem água, mas ainda assim algumas oliveiras cuidaram em ter azeitona. No fim do Verão contratei um homem para ir a cada oliveira e cortar os "ladrões" e algum mato que houvesse. Mais 60 euros!
Finalmente a apanha! Aqui gastei 450 euros em mantimentos para o pessoal presente, 100 em gasóleo para ir e vir e mais 60 para portagens. Finalmente 457 euros para me fazerem o azeite no lagar!
Somemos então:
400 mais 80 mais 60 mais 450, 100, 60 e 457. Dá aproximadamente 1600 euros gastos. Agora vamos dividir por 224 litros de azeite que foi a colheita de 2030 quilos de azeitona. Dará 7,1 euros por litro.
Todavia é bom não esquecer que a azeitona não se apanha sozinha e foi necessário mão de obra. Durante três dias fomos cinco pessoas e dois dias... quatro. Que não receberam um tostão como pagamento.
Tal como não falo dos custos das máquinas de colher, nem a electricidade que se gasta para carregar as baterias, nem os sacos ou os panos. Finalmente a ajuda ao homem que levou a azeitona no tractor até ao lagar!
Na verdade tudo isto são custos... E grandes!
Portanto o azeite fica muito caro... Mas para mim ainda valerá a pena pois fica o gosto e o prazer de estar a comer algo que ajudei a fazer chegar ao meu prato. E esse prazer ninguém mo tira e é impagável!
Eram 11 da manhã desta terça-feira quando olhei o céu e agradeci aos deuses e demais acólitos terem-me ajudado a finalizar esta demanda.
Pelo chão ainda se viam mantadas de azeitona por escolher,
que mãos hábeis rapidamente limparam. Depois ensacar e sacos em cima do reboque para ao fim da tarde partir para o lagar.
O lagar, diria, que é quase um lugar mágico. Aqui se transformam muitas horas, dias, semanas de trabalho num líquido semi verde, semi amarelo, viscoso, mas saboroso.
Há muito que os lagares de ceiras e enormes mós de pedra desapareceram. Poderá haver um ou outro, mas sem creditação legal para o fazer.
No entanto o cheiro dos lagares é bem característico e não obstante ser um tanto forte... eu gosto!
Entreguei neste local 2030 quilos. Se descontar a folha que foi a acompanhar aceito as duas toneladas!
Foi um razoável pecúlio para três dias e meio de trabalho. Com chuva, muita chuva!
É hora de agradecer aos meus filhos e ao meu sobrinho a prestimosa ajuda que me deram. Sem eles ainda estaríamos longe do fim.
Finalmente... o lagar deu o seu veredicto: 243 litros.
Há uns tempos alguém aqui na aldeia onde me encontro por estes dias de Outono me perguntava, quando se falava de azeitona:
- Porque vens de Lisboa de propósito para a apanha?
Poderia ter-lhe respondido de forma quase filosófica ou então de uma maneira bruta e mais assertiva. Porém respondi-lhe com sinceridade, o que fez com que ficasse mais atrapalhado, já que pensou que teria uma outra resposta para lhe dar:
- Venho porque... gosto!
A ideia de alguém gostar de apanhar azeitona pareceu-lhe provavelmente invulgar, mas acima de tudo uma ideia parva. Imagino mesmo que o terá comentado para si mesmo.
Mas desconhece esta gente que cresci no meio de oliveiras e azeitona, porque na aldeia onde não nasci, mas fui criado era o negócio de quase todos. Desse tempo guardo ainda as pias de pedra onde a minha avó guardava todo o azeite. E quando chegava o inverno e o frio coalhava, o cada vez mais precioso líquido, era vê-la de cafeteira com água a ferver e colocá-la do cimo do azeite coalhado de forma a rapar o suficiente para temperar a comida.
O tempo passou célere e as pias, que ainda existem, têm uma função mais decorativa, já que o azeite vai ficando nas bilhas de plástico até ser utilizado.
Hoje choveu muito por aqui, especialmente de manhã. Todavia a equipa que me acompanha manteve o ritmo que podia, até irmos almoçar.
De tarde tudo mudou e já se pode trabalhar melhor!
Este trabalho fica-me caro. Provavelmente mais caro que ir a um supermercado comprar uma garrafa de azeite.
Só que ter aquela certeza do que estou a comer e do que me custou a apanhar tem um valor incalculável a que muitas pessoas não darão valor!
Desde o ano passado que oiço gente a dizer que o preço do azeite vai subir muito. Posso acrescentar que é a verdade já que no lagar onde fiz a minha azeitona já se vende o garrafão de cinco litros a... 45 euros!
Em termos meramente teóricos diria que este poderia ser o preço justo para este tão apreciado produto. Todavia na prática considero um exagero.
Explicou-me o dono do lagar que o problema vem dos espanhóis que serão o maior produtor de azeite do Mundo. já que a produção por terras castelhanas parece ter uma quebra fantástica.
Ora com este monopólio entre mãos têm força suficiente para gerir os preços a seu bel-prazer. Contou-me outro dono de lagar que a semana passada apareceu na sua casa um espanhol que de notas de euro em riste pretendeu comprar toda a produção de azeite velho a... 8,40 euros o litro.
O lagareiro disse logo que não! E a meu ver fez bem pois assim não inflacionou o preço deste belo tempero!
Não imagino o que terá acontecido na vizinha Espanha para terem tão pouca produção, mas não será inocente a tentativa de alguns agricultores espanhóis em fazerem as pobres das oliveiras produzirem azeitonas... duas vezes por ano! Tal como cá, infelizmente!
Entretanto o meu azeite é bom, mesmo o do ano passado já que é tão fino que nem sabe a... azeite. Tem origem em oliveiras certamente muito centenárias e sobre as quais mantenho uma cuidada postura não as deixando crescer muito ou alargar demasiado.
Cada dia que passa parece que este líquido estará a tornar-se o novo ouro.
Termino hoje este primeiro bloco de impressóes sobre a campanha da azeitona deste ano, na singela aldeia do Covão do Feto, onde tenho umas pequenas mas produtivas fazendas, essencialmente pedras, oliveiras, medronheiros, carrascos e muito mato.
Diz a história da região que foram os judeus que conseguiram povoar esta região quase inóspita de oliveiras. Ora como esta árvore adapta-se a todos os terrenos foi fácil o seu incremento. Resultado: já nesta pequena aldeia trabalharam dois lagares e o azeite é sempre de óptima qualidade.
Faz hoje oito dias que iniciei esta breve campanha. Dei por fim esta espécie de bravata contra o tempo, contra a īchuva e demais engulhos...
Já de tarde fui entregar a azeitona ao lagar que estava estranhamente vazio!
Enfiada no pio, o tapete rolante levou a azeitona para a balança,
Para finalmente surgir o peso...
510 quilos de uma azeitona madura e carregada de azeite. Assim espero!
Mas como diria o meu sábio avô: a oliveira dá a azeitona, mas é o lagareiro que dá o azeite!
Touché!
Nota final: para os Santos haverá mais! Não aqui... na Beira Baixa!
Hoje não consegui ir à azeitona. A chuva que caíu durante todo o dia devido à tal depressáo Babet inibiu-me de ir até ao olival onde panos estendidos me aguardaram em vão.
Assim decidi ir entregar alguma que já tinha colhido ontem e antes de ontem. Não seria muita, mas antes que aquecesse (pois é a azeitona metida em sacos, ao fim de uns dias ganha muito calor!!!) fui ao lagar entregá-la.
A verdade é que se não levei com chuva a apanhar azeitona acabei por levar com ela ao carregar a minha carrinha.
Portanto às oito e meia estava já em fila no lagar. À minha frente apenas cinco carros, mas era como se estivessem 50, pois o lagar estava fechado. Após mais de uma hora lá chegou o patrão ao lagar antes dos empregados (onde já se viu???).
Finalmente entregue os meus 417 quilos procurei saber se a anterior estaria já pronta. Estava mesmo!
Foi com inesquecívcel alegria que percebi que a minha colheita de sábado (recordo que haviam sido entregeus 573 quilos!!!) haviam produzido... 93 litros de azeite. O que equivale dizer que fundiu a 16,2 por cento (ou... por cada cem quilos de azeitona deu 16,2 litros de azeite) ou fazendo as contas de outra maneira foram necessários apenas seis quilos de azeitona para esta dar um litro de azeite.
Parece pouco desta vez mas foi muito melhor que em anos anteriores.
Entretanto amanhã há que teimar... mesmo que chova a cântaros!
Estou prestes a dar início à campanha de azeitona que como em anos anteriores se compõe de duas fases.
A primeira principiará no próximo sábado por terras ribatejanas onde o meu pai já apanhou 484 quilos tenho a safra resultado em 69 litros de azeite. O que perfaz a boa média de sete quilos de azeitona para dar um litro de azeite. A segunda só para o fim do mêse será já na Beira Baixa.
Só que as minhas campanhas de azeitona têm uma característica comum todos os anos: chove sempre! SEMPRE!
Pelos diversos sítios no mundo da internet e que devolvem informação metereológica todos confirmam que no próximo fim-de-semana as temperaturas irão cair e a chuva reaparecerá com força.
Quase sou forçado a dizer: querem chuva? Entáo enviem-me para a azeitona e verão como ela cairá! Tanto faz que esteja no Ribatejo ou na Beira Baixa...
No entanto o que conta mesmo é que eu vá à azeitona! Gosto de comer bom azeite!
A minha experiência diz que no dia de levar a azeitona ao lagar será sempre um dia duro, devido especialmente à enoooooooooooooooooooorme espera.
Portanto hoje as coisas demoraram apenas ... sete horas, desde que cheguei até que saí de tal local. Um sítio que conheço bem assim como as pessoas que lá trabalham, de tal forma que sou sempre bem recebido.
Falemos então de... resultados. Sinceramente pensei que os 38 sacos me brindassem como mais peso, já que 800 quilos pareceu-me exageradamente pouco.
Eram 19 e 45 quando a azeitona deu entrada no pio,
Aguardei com toda a serenidade a vez da azeitona de entrar no labirinto de tapetes rolantes. Perto de hora e meia depois eis que o tão ansiado líquido começa a surgir de uma bica metálica,
No final da noitada e contas feitas com o lagareiro trouxe 87 litros de azeite para casa. Calculo que deverá chegar para temperar as nossas couves natalícias.
Nota final:
Uma campanha rápida e sem o ensejo de outros anos tal foi a consciência da miséria franciscana da azeitona.
Agora é arrumar a trouxa e esperar que o próximo ano seja muito mais produtivo.
Hoje foi dia de regressar ao lagar de azeite para recolher a recompensa.
Trinta e cinco litros em 219 quilos de azeitona. Uma das melhores médias dos últimos anos...
Como diz o povo: a oliveira dá a azeitona e o lagareiro o azeite. Só que actualmente já não há lagareiros encostados às tarefas de varinha e conhecimento na mão tentando descobrir onde acabava o azeite e principiava a almofeira.