Faz amanhã precisamente quatro meses que se deu a tragédia de Pedrogão Grande.
Desde esse trágico dia muito se escreveu e debateu. Mas pelo que se viu tudo não passou de um conjunto de estranhas intenções que culminaram em mais esta humilhação perante o Mundo ao deixarmos morrer cem pessoas às mãos de fogos incontroláveis.
Sei por experiência própria que o fogo assim que toma conta de uma mata dificilmente se deixa apagar. Todavia o problema não é o que está já a arder mas aquilo que ainda falta queimar. E falta cada vez menos.
As sucessivas autoridades há muito que vêm dizendo que é necessário ordenamento florestal e outras palavras atípicas. Mas nada se faz, só se estuda. O fogo, entretanto, que não se peocupa com estas demandas vai devorando tudo que encontra no seu caminho. Até vidas humanas.
A culpa de tudo isto é do calor exagerado, da seca, de dezenas de factores. Nunca é dos incendiários apanhados e logo libertados, nem das entidades competentes em (não) gerir as florestas, nem dos interesses escondidos por detrás destes fogos (que os há, quase de certeza).
O governo continua a assobiar para o lado. Decretas umas calamidades como se com essa iniciativa os incêndios apagassem por si só. A ministra não consegue dar um murro na mesa de forma a mandar mais gente combater os incêndios. As autarquias, passadas que foram as mãos abertas para obras eleitoralistas, refugiam-se na velha ideia de não terem dinheiro para limpar as matas. Histórias conhecidas...
Ao mesmo tempo que tudo isto acontece António Costa não consegue ser um PM à altura dos acontecimentos. Quantas mais pessoas terão de morrer para que a Ministra da Administração Interna saia? Não é que vá resolver nada, mas certamente que o seu CV não ficará mais iluminado com estas desgraças. E necessitamos de alguém que pegue "o touro pelos cornos".
Gosto muito deste blogue porque a Ana consegue levar-nos a sítios fantásticos e de uma beleza rara.
Também eu adoro viajar, algo que não o faço amiúde porque tenho, como tudo na vida, de optar. Todavia, sempre que vou à aldeia onde nasceu a minha mulher é uma viagem que adoro fazer. E sempre diferente.
Adoro não… adorava.
A seguir à autoestrada há uma estrada não muito larg, mas de bom piso que passa por cima de uma ponta da barragem da Marateca. O caminho é mais ou menos sinuoso mas faz-se muito bem. De um lado e do outro campos de pasto, onde podemos observar ovelhas, que pastam serenamente. Há mesmo um espaço onde já vi, pasme-se, avestruzes.
Quando se entra da aldeia há uma pequena rotunda. A seu lado os muros daquele edifício majestoso, abandonado é certo pelo próprio Estado, mas que é visível de quase todos os pontos da aldeia.
Ainda que a sua imponência seja decrépita, o colégio é o ex-libris da aldeia.
Por isso ontem doeu-me profundamente ver o velhinho e secular Colégio de S.Fiel, em Louriçal do Campo, ser devorado pelo fogo. Um espaço onde trabalhou muita gente da aldeia e onde se educaram tantos jovens.
Foto da Beira Baixa TV
Portanto, um destes dias não vou querer viajar para a aldeia. Não vou querer ver um edifício destruído. Não vou querer sentir o odor a queimado.
Não, assim digo, ao invés da Ana: viajar, porque não!
No entanto é deveras importante que ilucidemos as pessoas, que demos a conhecer as mentiras e a demagogia que está instalada na nossa democracia (ainda me questiono se isto é democracia???).
Não posso aceitar que invista milhares de euros em projectos de "Melhoria da resiliência da floresta" de forma a evitar fogos e a sua propagação e depois receba cartas a dizer que não há dinheiro para isso.
Pior... é que há dinheiro para projectos bem diferentes e quiçá mais apelativos ou em que os beneficiários serão entidades com mais força dentra da Autoridade responsável pela distribuição dos dinheiros, mas para mim não!
Não aceito, pronto! E falarei disto até que me calem de vez.
Mas seria bom que os técnicos das diversas entidades fossem ao terreno. Que vissem o que fiz e continuo a fazer.
A expensas próprias.
A verdade é que eu ainda posso alguma coisa. Todavia a maioria dos pequenos proprietários não pode...
Hoje lembrei-me de uma rábula humorística onde o saudoso Raul Solnado era figura central. Nessa peça televisiva dos anos setenta, logo a seguir ao 25 de Abril, a personagem que Solnado representava era um desempregado que se manifestava com muitos outros na rua e com as costumadas palavras de ordem da época: "Trabalho sim Desemprego não". Um suposto empregador chegava perto de manifestante e oferecia-lhe trabalho. Ao que o outro respondia: "Mas porquê a mim está aqui tanta gente".
Esta entrada leva-me para aquilo que tem sido a filosofia deste país nos últimos 40 anos: uma profunda falta de vontade de trabalhar, ao que se junta uma total fuga para a frente quando os problemas surgem, associada à incapacidade de cada um assumir os seus próprios erros, aludindo sempre ao passado mais ou menos recente para justificar o futuro. Maioritariamente vê-se esta atitude na classe política, toda ele muito preocupada com os terríveis acontecimentos, mas incapaz de fazer ou mandar fazer algo que seja realmente eficaz.
O País continua assim a arder. Hoje acaba aqui para logo começar ali. Extingue-se acolá, reacende-se além.
Os bombeiros andam numa roda viva. Depois, parece que não há uma voz de comando, para além do SIRESP que continua a (não) fazer das suas.
Em 2003 Mação foi vítima dos fogos. Nessa altura falou-se, como hoje se fala, em reordenar a floresta e mais uma série de iniciativas. Resultado 14 anos depois? Novo incêndio com porporções gigantecas.
Em 2005, a aldeia que não me viu nascer mas crescer, foi também vítima de um incêndio de enormes proporções. Uma dúzia de anos passados ainda são visiveís os cadáveres de árvores queimadas, já que ninguém do Parque Natural que envolve a povoação, se preocupou em cortar e limpar.
No meio deste enorme parque de características muitos especiais, o meu pai tem alguns nacos de terra. Que nessa altura do incêndio ficou com tudo queimado. Especialmente oliveiras, azinheiras, medronheiros e pinheiros. O meu pai é neste momento um homem com muita idade, o que originou que algumas dessas fazendas abraçadas pelo fogo fossem mais ou menos despresadas.
No entanto, recentemente tenho sido eu a avançar com trabalho e dinheiro para cortar o mato que cresceu a seguir ao fogo. Neste sentido apresentei um projecto ao PRD2020 de forma a captar alguma ajuda financeira. Ora quem ouviu falar os Ministros da Agricultura ficou a ideia de que agora é que haveria dinheiro para limpar matas e os terrenos semi abandonados. Profundo engano...
Como sempre a demagogia barata venceu e o meu projecto não vai ser elegível. Isto é, já gastei o dinheiro mas não vou ser ressarcido desse gasto.
Entretanto os terrenos à volta do que é meu estão, neste momento, repletos de mato, pois os seus legítimos proprietários não podem ou não querem gastar dinheiro qu eu gastei em algo que nunca será rentável.
Mais uma vez o Estado diz uma coisa todavia a realidade é bem diferente. Cortar mato, recolhe-lo, queimá-lo e depois manter o terreno livre de mais mato custa muuuuuuuuuuito dinheiro. Para dar um mero exemplo, só para o herbicida já gastei mais de 1000 euros. E ainda não está tudo. Falta pagar ainda a mão-de-obra.
Tenho que não caberá ao Estado fazer tudo... mas pelo menos não mintam. Não prometam o que sabem que nunca irão cumprir.
Certa vez ouvi um comentador televisivo dizer: um político que diga somente a verdade nunca ganhará eleições.
No pouco tempo que andei na escola tive um professor que um dia disse aos alunos, já não me recordo a que propósito: “Errar é humano, permanecer no erro é estupidez”.
Esta máxima, que não era obviamente da sua exclusiva autoria, acompanhou-me todo este tempo. Tenho, por isso, tentado aprender com os erros cometidos, de forma a não os repetir.
Já andava desconfiado que este professor não havia sido mestre de nenhum dos actuais políticos portugueses, tal é quantidade de erros que constantemente se comentem. Repetidamente. Mas este fim de semana tive a certeza disso.
Após os trágicos acontecimentos de Pedrogão Grande eis que é a vez da Sertã se ver também abraçada por diversos incêndios de grandes dimensões.
Não obstante até agora não terem existido vítimas, a verdade é que os bombeiros e a Protecção Civil não conseguem dar conta do recado. Isto é: os erros cometidos em Pedrogão Grande continuam a perpetuar-se nestes novos fogos.
Não percebo nada das técnicas para apagar incêndios, todavia custa-me aceitar que perante a evidência da história se voltar a repetir, o Estado ou a Protecção Civil não tenham reforçado os meios de vigília das nossas florestas.
Cada vez estou mais desconfiado que há demasiados interesses paralelos nestes fogos. Culpam-se muitas vezes os madeireiros, mas por este andar até esta profissão desaparece, tal é a velocidade com que se queimam florestas.
Depois não se admirem, que daqui a uns anos, Portugal seja uma continuação do deserto do Saahra.
Ontem continuei a obrigar-me a ver os noticiários. Acima de tudo para perceber como estavam a correr as coisas e como a sociedade política ia reagindo aos nefastos acontecimentos.
A determinada altura dei por mim a escutar esta fantástica frase de um comentador televisivo:
"O Estado deverá expropiar as terras que não são limpas pelos donos".
Ora bom... isto dito assim, num horário nobre, até pode fazer com que muita gente concorde e ache bem. Todavia, e conhecendo eu como conheço o panorama luso no que diz respeito aos Sapadores, só me apeteceu sová-lo selvaticamente. Fi-lo ainda assim mentalmente...
Há uns anos, não muitos, contratei na aldeia uma equipa de cinco Sapadores para limparem uma pequena mata. Combinados os preços da mão de obra e os dias de trabalho eis que surge um pedido estranho. Um deles solicitou que lhe adiantássemos algum dinheiro pois havia alguns meses que não recebiam o seu vencimento e já deviam muito dinheiro no posto da gasolina mais próximo.
Nessa altura peguei em mil euros e entreguei-lhes de forma a que pudessem fazer o dito trabalho. No final acertámos as contas.
Entretanto hoje li, nalgumas plataformas, que no Minho mais equipas de Sapadores não saíram por não terem viatura por estar avariada e não haver dinheiro para a reparar. Mais... alguns também ainda não haviam recebido o vencimento de alguns meses.
Perante estes factos como pode vir alguém para a televisão dizer que o Estado fará melhor trabalho que os particulares? Se nem para o mínimo há dinheiro... Ou será que sou só eu que estou a ver mal?
Seria bom que os comentadores antes de dizerem disparates se munissem de toda a informação possível. Só depois é que deviam falar.
Somos donos dos nossos silêncios e reféns das nossas palavras. Será bom nunca esquecer!
O título sugere que fale aqui de outros grandiosos fogos que deflagraram em Portugal nos últimos anos, porém não é esse o intuito deste texto.
Deste modo recuemos meio século nas nossas vidas. Olhemos para o país dessa altura como se tivéssemos num aparelho como aqueles que agora invadem os nossos ares: um drone.
O que veríamos? Muita pouca floresta, imensos campos cultivados fossem de semeadura ou simplesmente de pastoreio. O povo acordava cedo e cedo pegava na enxada, gadanha ou foice e calcorreava caminhos para cortar a erva, ceifar as searas, mondar as batatas ou o milho. Lembro-me, a título de mero exemplo, do meu falecido avô ter cavado uma fazenda alcatifada de pedras, numa dúzia de dias, para aí depois lançar semente à terra. Sem dúvida outros tempos!
Mas um dia Portugal achou que era tempo de se modernizar. Dos portugueses serem todos iguais, vivessem na cidade ou no campo. De terem mais direitos.
E o país cresceu, desenvolveu-se e em muitas aldeias onde a água, só existia a do poço retirada à força de braços e a luz, a que a lamparina de azeite oferecia, passou a haver luz no tecto e água nos canos. O lume da lareira que cozia as couves e as batatas em viúvas panelas de ferro, foi naturalmente substituído pelo gás de bilha.
Foi a loucura da evolução. Só que…
As pequenas matas onde se recolhia a lenha para a tal lareira deixaram de ser limpas. Depois o velho forno onde era cozido o pão ou a broa, de quinze em quinze dias, deixou de trabalhar porque alguém passava com a carrinha com pão quente todas as manhãs, acordando muito cedo a aldeia. Ora deixou então de ser necessário semear trigo, milho ou o centeio.
Em pouco tempo as matas cresceram exponencialmente. A título de exemplo uma fazenda onde hoje (ainda) existe um pinhal, foi durante muitos anos terra de semeadura e deu centenas de alqueires de milho e trigo, durante dezenas de anos.
O povo aldeão, essencialmente o mais novo, começou então a procurar nas vilas e nas cidades mais costeiras novas formas de rendimento. E diziam quando de lá vinham: em Lisboa é que é vida.
Iniciou-se assim o abandono das terras. Os pais ficavam, mas os filhos partiam. A idade, as doenças e aquela pensão que nunca imaginaram receber obstaram entretanto a que os terrenos continuassem a ser amanhados. Não havia necessidade.
E a floresta a crescer. Desordenadamente!
A terra já não dá milho nem trigo mas dá madeira. E muita e bem paga… e sem trabalho. Nascem assim os eucaliptais e os pinhais bravios. Estes alastram-se desmesuradamente. Até aos dias de hoje.
O mesmo drone que planou no nosso passado, referido acima, deixou agora de ver campos semeados, verdes ou doirados, somente enormes manchas de arvoredo que paulatinamente se estão a transformar em manchas de carvão.
Portugal soltou-se de ser um país essencialmente agrícola, como o fora durante séculos, para se tornar um paraíso em prestação de Serviços. Esplêndido… observaram muitos!
Estamos a pagar por isso.
Pela forma como a nossa classe política nunca olhou para este problema com olhos de ver. E sempre empurrou com a barriga o problema.
Pela forma como tantos técnicos especializados afirmam o que está errado e ninguém os ouve.
Pela forma como o factor climatérico evoluíu negativamente sobre as nossas terras.
O custo de tudo isto começou o país a pagá-lo faz muito tempo, mas este ano o preço, infelizmente, está pela hora da morte.