Jogos Olímpicos – O ideal ferido?
Temos todos consciência que a ideia original da criação dos Jogos Olímpicos da era moderna já foi há muito ultrapassada. Hoje mais do que nunca os bons atletas não são meros amadores – tirando algumas muito raras excepções. Fazem do desporto uma forma de vida. E nem podia ser de outra maneira, tomando em consideração que para se alcançar óptimos resultados o atleta tem de se dedicar cada vez mais à modalidade, de alma e coração.
Lembro-me, a título de exemplo, dos atletas da antiga RDA, todos eles profissionais de qualquer coisa, mas que jamais haviam trabalhado em tal. Passavam dias, semanas, meses, anos inteiros entregues aos treinos, até à exaustão. Obviamente que este empenhamento era contraditório ao trabalho. Assim durante anos a fio, os países de Leste apresentaram soberbos atletas, com performances incríveis e resultados assombrosos.
Foi partindo deste pressuposto que se começou a investir mais no desporto, tanto em dinheiro como em recursos. Mesmo em Portugal o campeoníssimo Carlos Lopes, o Fernando Mamede ou até o António Livramento, durante muitos anos tinham emprego, mas do qual estavam naturalmente dispensados enquanto atletas internacionais.
Reconheço, no entanto, que aceder aos Jogos Olímpicos deve ser uma grande emoção para qualquer atleta. E a sua participação devia conferir à intenção genuína do Barão Pierre de Coubertin um valor ainda maior.
É com base neste último parágrafo que me custou ver um atleta, surgir em palco em representação do seu país durante… 15 segundos. Um quarto de minuto foi a sua presença efectiva nestes Jogos Olímpicos.
Senti que algo está mal! Fiquei com a certeza que os Jogos Olímpicos jamais serão um palco em que cada um dos competidores apresenta as suas qualidades, mesmo que menos capazes, mas um lugar onde cada atleta pretende uma medalha para poder manter o seu estatuto durante mais tempo.
E um destes dias veremos em vez de países, patrocinadores a divulgarem quantas medalhas ganharam os atletas por si apoiados.
Lamentavelmente…