O Fenómeno PRD
Lembram-se do PRD? Que em 1985 foi a terceira força política e que meia dúzia de anos depois já não tinha qualquer representação parlamentar? Lembram-se? Pois é, parece que estou a ver o mesmo filme no Bloco de Esquerda.
Não sou politólogo e muito menos comentador profissional, daqueles que (quase) toda a gente escuta com atenção. Todavia aprecio a política e gosto de analisar os resultados das eleições.
Então vejamos:
O PCP/CDU é uma organização pouco volátil e muito fiel aos seus princípios. Entre 2005 e 2011 ganhou (apenas) mais 7000 votos e que se traduziu em mais um deputado que em 2009 e mais dois que em 2005. Todavia perdeu cerca de 6000 votos em relação às eleições de 2009.
O CDS subiu ligeiramente assumindo-se como terceira força política, mas desta vez com um papel naturalmente mais importante na formação de um novo governo, onde terá maior preponderância e obviamente mais ministérios que na última aliança, nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes.
O PS sai derrotado nestas eleições muito por culpa de um eleitorado fiel mas que preferiu abster-se a votar contra o Partido Socialista. Obviamente que este era um resultado esperado (talvez um pouco abaixo das expectativas, tendo em conta as sondagens) pela maioria dos dirigentes socialistas.
O PSD regressa assim ao poder pela mão de um “ex-jota”, que fez uma campanha difícil, mas séria sem tentar “inventar” desculpas para os maus tempos que se adivinham. No debate televisivo conseguiu manter o nível enquanto Sócrates tentou baixar esse mesmo nível de forma a ganhar alguns pontos. O PSD ganha quase meio milhão de votos, aproximadamente o mesmo número que o PS perde no mesmo tempo (transferência de eleitores? Talvez!).
Finalmente o BE. Pareceu-me o grande derrotado da noite eleitoral porque baixa para metade a sua representação parlamentar, o que muito me admira. Pois se havia época favorável ao crescimento do BE seria agora numa altura em que há problemas laborais, sociais e económicos. Premissas perfeitas para que um partido, de cariz mais protestante, pudesse finalmente colar-se ao PCP ou até mesmo ultrapassá-lo. Curiosamente aconteceu o contrário, tendo o BE perdido metade dos votos em relação a 2009 e um terço para 2005. Cabe ao Dr. Francisco Louçã tentar explicar internamente este desaire, que não deve estar desassociado à forma como fez a campanha e à sua teimosa ausência das negociações com o FMI e o Comissão Europeia (mesmo que com elas não concordasse). Se com o PCP, todos os seus votantes são fiéis e aconteça o que acontecer o Partido leva sempre o voto, com o BE há eleitores que podem “fugir” para o Partido comunista ou até para o PS. Uma volatilidade que varia da postura dos seus dirigente.
O BE tem sido uma força interessante na AR. Todavia a forma um tanto azeda, truculenta como o seu Coordenador principal falou às pessoas nesta campanha, para além de outras opções falhadas, levou-as a ver noutras organizações (leia-se MRPP)melhores opções para o seu voto de protesto. Se o BE não tomar cuidado arrisca-se a sofrer do, a que eu chamo, “Fenómeno PRD”.
O tempo o dirá…