37a9m25d - #21
O gago
Num serviço com perto de 100 pessoas e onde diarimente se mexia com muito dinheiro havia sempre necessidade de desanuviar de algum stress.
Por isso e como já referi em textos anteriores as partidas sucediam-se ou então brincava-se com os próprias características de cada um. Um era o "fala-barato" porque nunca se calava, outro o "besunta" porque parecia que estava sempre a engraxar alguém ou o "caro director" porque se assim entitular fora da empresa tentando fazer-se daquilo que não era. Mas havia muitos mais. Eu próprio depressa fui brindado com o cognome de "vidrinhos" devido às minhas grossas lentes. Havia obviamente entre todos nós um que era gago. O Almada.
O Jesus Almada, de seu nome, tinha duas outras características, para além da sua gaguez que o distinguiam dos demais colegas: tinha uma opinião sobre tudo e tinha conhecimento rápido de todas as decisões da administração. Uma verdadeira agência noticiosa interna.
Era alguns anos mais velho que eu e depressa percebi que muitos faziam-no falar para o verem gaguejar sem que ele desse por isso.
Uma estória que ficou célebre foi aquela em que lhe perguntaram o que fora almoçar. Respondeu ele muito depressa:
- Fffffui comer cu... cu... cu...
- Comer o quê?
- Cozido à portuguesa... - respondeu num rompante. E todos riram.
Mas a estária mais curiosa assisti eu. O Jesus Almada fazia criação de canários e uma tarde toca a falar da sua criação. A meio da conversa diz:
- Tenho lá um ca... ca... canário que faz... qua... qua... qua...
Diz o Américo muito depressa e em tom de brincadeira:
- Um canário que faz qua qua não é um canário, é um pato.
Devolve Almada muito depressa:
- Nã... nã... não. Faz quatro dias que não come!
Gargalhada geral!