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Uma chamada à Zé Alípio!
Estava há pouco tempo naquela tesouraria quando percebi que partidas (não as de Carnaval!!!) eram mui frequentes. As vítimas poderiam ser os maçaricos, se bem que também o fossem, mas havia no serviço outros que não sendo novatos, quase todos os dias eram brindados. Mas este será um dia tema único…
Entretanto um dos mentores das partidas era o Zé Alípio. Trabalhámos muitas vezes juntos nas caixas, lado a lado, até que um dia foi a chefe de secção e aí passei de “companheiro de luta” a colaborador. O Alípio tinha um humor muito próprio, de tal forma que nunca ninguém sabia se o que estava a dizer era a sério ou a brincar.
Conta-se que há muitos anos os colegas convenceram-no a criar, na quinta que tinha na aldeia, um porco com o intuito de num fim-de-semana todo o serviço ir lá fazer a matança e um petisco. Todas as semanas se falava no suíno e meses mais tarde acabaram por combinar ir à aldeia do Zé. Contratado um autocarro para levar o pessoal eis que na véspera do tal fim-de-semana o Zé com ar abatido chega ao serviço e confessa que tem de se adiar a matança porque o porco estava doente!
Uns riram, outros barafustaram, para logo se perceber que jamais houvera porco… Nem vivo nem morto!
Fui também testemunha de uma resposta insólita à boca da caixa. Naquele dia eu e o Zé fomos pagar cheques aos empregados da casa. No rés-do-chão do Edifício havia sido, entretanto, montada uma máquina de Multibanco. Estávamos no início desta forma de levantar dinheiro e algumas ATM,s davam sérios problemas. Eram nove e meia da manhã e chega uma colega perante o Zé com ar aflito:
- Bom dia…
- Bom dia colega – devolve!
- A máquina lá de baixo comeu-me o cartão…
O Zé na sua fleumática calma olha para o relógio e responde:
- Pudera… são nove e meia e a máquina ainda não tomou o pequeno-almoço. Deve estar cheia de fome!
Só não ri perante a senhora para a não humilhar, mas mais tarde dei vazão ao meu riso.
Mas a maior característica do Zé seria criar dúvidas, receios ou alimentar pequenas bravatas. E tinha, para isso, uma técnica assaz simples. Já como chefe e da sua secretária usava o telefone fixo para as partidas. Bastava para tal que uns certos colegas estivessem presentes na sala mesmo que não fossem para falar com ele. Pegava então no telefone e simulava estar a falar com alguém do outro lado. Por exemplo:
- Então tu dizes que qualquer pessoa com mais 45 anos pode reformar-se por inteiro?
- ….
- E ainda leva uma promoção? Isso é óptimo… Vou pensar nisso! Obrigado pela informação. Abraço!
Tudo mentira… Só que estando alguém presente, como disse, o Zé sabia que dois minutos depois toda o pessoal do serviço saberia. E era aqui que a brincadeira começava.
Normalmente vinham depois ter com ele pedir esclarecimentos e ele, obviamente, desmentia tudo… Que nunca dissera nada e nem sabia como tinham inventado.
Os que com ele trabalhavam directamente alinhavam outrossim na mentira e gozavam com as situações.
Entretanto o outro que denunciara é que ficava sempre mal visto…
Esta postura originou que durante muito tempo e já depois do Zé ter ido para a reforma ainda se falavam das “chamadas à Zé Alípio”... Sem ninguém do outro lado!