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Brincadeiras de crescidos
Quando estive na Tesouraria e sempre que nos deslocávamos com dinheiro na cidade íamos de carro da empresa com um motorista e um guarda, ambos devidamente armados, não fosse o demo tecê-las.
Deste modo havia uma relação muito próxima entre nós, os caixas, e eles, os guardas.
Certa manhã fui destacado para ir fazer caixa no Balcão na Avenida da República. Fui à casa-forte levantar o dinheiro que coloquei numa mala que tínhamos para o efeito. Notas de diversos valores, moedas e alguma documentação foram depois levados pelos seguranças até à carrinha.
Já na viatura falou-se de futebol e mais futebol, que era quase sempre o tema comum a todos os colegas.
O trânsito corria sereno com os sinais luminosos a gerirem a coisa. À entrada do cruzamento da Tomás Ribeiro com a Avenida Fontes Pereira de Melo o sinal ficou vermelho e a carrinha parou. À nossa frente os peões atravessavam a avenida, uns depressa outros mais lentos.
Estava um dia primaveril e o condutor levava o vidro aberto. De súbito alguém se aproximou da janela e disse:
- Mãos no ar, isto é um assalto.
Ainda não palavras não eram ditas e uma “fusca” estava encostada ao nariz do suposto assaltante. Fora o próprio motorista que a erguera.
- Calma, calma – disse o eventual atacante – estou a brincar!
- Eh pá… não voltes a fazer isso que pode acontecer uma desgraça – devolveu o motorista já de sorriso na boca.
Assustei-me no início para logo perceber que fora apenas uma brincadeira. Por fim tentei perceber quem era o atacante em conversa com os meus colegas.
- Este tipo é polícia e faz gratificados à nossa porta. E ao conhecer-nos quis pregar esta partida.
Na verdade fiquei naquele dia vacinado contra os colegas dos serviços de segurança. Percebi que não eram gente para brincadeiras… de gente crescida!