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O esquecido!
O Tinoco era um daqueles técnicos juristas brilhantes. Assertivo, conhecedor a fundo do Direito, conseguia sempre arranjar uma boa solução para o problema que lhe apresentassem!
Só que este advogado tinha uma característica que lhe arregimentava alguns problemas e que se traduzia numa só palavra: esquecimento.
Conhecia as leis de frente para trás, as alíneas dos decretos e demais diplomas, mas para as coisas mais simples… era o cabo dos trabalhos. Esquecia-se sempre…
Conheci-o bem e o relato seguinte não me foi contado por ele, mas por outro colega. Então reza assim:
Estávamos em vésperas de mais um Natal. As ruas estavam pejadas de gente que subiam e desciam numa busca constante.
Naquele dia a mulher do Tinoco combinara com o marido vir a Lisboa, também para umas compras. Combinada a hora e relembrada durante a tarde com um papel em letras enormes:
Às 5 no Rossio! – escrevera ele.
Cinco minutos antes o Tinoco fecha os compêndios e parte para o Rossio para se encontrar com a esposa. Havia naquele tempo na Praça central de Lisboa um andar que servia de convívio a colegas reformados ou até a alguns que no fim do dia apareciam para uma merenda ligeira.
Esse foi assim o local de encontro entre Tinoco e esposa. Mas o causídico não estava pelos ajustes para andar loja dentro, loja fora a fazer compras. Assim concordou com a mulher ficar na sala de convívio à sua espera enquanto faria as compras.
A noite por aquela altura do ano cai muito cedo e a determinada altura Tinoco, que se embrenhara numa leitura de um livro, olhou o relógio e percebendo a hora quase tardia pôs-se a caminho do lar… sozinho.
Já estava em casa quando tocou o telefone e reconheceu a voz da mulher.
- Onde estás? – perguntou ele.
- Aqui à porta do salão à tua espera…
- Ah… pois… esqueci-me de ti!