37a9m25d - #12
Contas (mal) feitas!
O Veiga era um tipo estranho. Nascido no Minho o seu tom de pele era tão moreno que parecia um indiano. Disseram-me que tinha uma doença de pele e por causa dela ficara assim. Por isso o tratavam por: Xico Escuro!
Muito mais velho que eu, trabalhando num serviço diferente, ainda assim tínhamos que nos relacionar profissionalmente. Mas, nunca soube porquê, este tipo não me inspirava confiança. Era arrogante, malcriado, parvo e aberrantemente grosseiro...
Seja como for o Veiga era muitas vezes uma vítima nas mãos dos colegas da tesouraria. A sua função era tão somente somar os talões de pagamento e conferir se esse valor batia certo com aquele que tínhamos lançado na caixa. Se sim arrumava tudo e ia à sua vida. Se não ficávamos horas à espera que as contas acertassem.
Ora naquele tempo usavam-se umas máquinas de somar enormes, pesadas, obviamente eléctricas e que faziam poucas funções para além das essenciais: somar, diminuir, multiplicar ou dividir. No topo om rolo de papel onde imprimia o valor lançado.
O teclado era grande, mas o pobre do Veiga nunca lançava os números sem estar a vê-los. Por isso um dia um dos caixas e antes dele chegar foi à máquina e trocou as teclas de lugar.
Onde estaria o 1 poderia estar o 9, no 2 o 8 e assim sucessivamente. O que resultou numa brincadeira parva e que ia deixando o homem à beira de um ataque de nervos.
Assim quando chegou, dirigiu-se a uma das caixas e pediu as ordens de pagamento. O colega entregou-lhas e o Veiga perante a máquina nem deu que as teclas estavam nos sítios errados.
Começa a lançar valores rapidamente, mas foi óbvio que não acertou uma conta. Pudera! Quando começou a comparar totais aquilo não batia certo…. A nenhum dos caixas!
O homem coçava a cabeça incrédulo com o que lhe estava a acontecer. Parecia impossível. Repetia e repetia… Até que um dos caixas mais antigos (na realidade fora ele a pregar a partida!) chegou-se junto do Veiga e disse-lhe com ar cândido:
- Tu hoje não acertas uma… Vai lá fora, toma um café a ver se ficas melhor.
O outro aceitou sem rodeios. E entre o ir e vir recolocaram as teclas nos sítios devidos.
Quando regressou as contas passaram a estar certas. Para alegria do próprio!