37a9m25a - #22
Nota:
Termino hoje esta primeira série de pequenos relatos sobre a minha vida de 37 anos, 9 meses e 25 dias de trabalho na empresa. Vou nos próximos tempos recuperar outras histórias mais burlescas e tentar (re)escrevê-las de forma a que possam serem lidas por todos.
O José Salvador
José da Silva Salvador foi o seu nome verdadeiro. Quando entrei na Tesouraria ele já tinha alguma idade, mas isso não obstou que não nos tornássemos bons amigos. Trabalhei com ele algum tempo. Era na caixa um homem muito cuidadoso temendo sempre perder dinheiro enquanto eu fui, geralmente, mais afoito.
A minha relação com o José era franca, aberta e por vezes um tudo nada… avançada. Adorava uma boa anedota e ria-se com gosto das que eu contava.
Não obstante a sua idade não estava, ainda assim, inibido de ser também vítima das brincadeiras do restante pessoal.
Mas a mais fantástica foi criada por mim num momento repentino.
O José reformara-se havia algum tempo e todas os dias dirigia-se ao refeitório para almoçar, já que era solteiro e vivia sozinho bem perto do local onde trabalhara toda a vida. Assim, naquela passagem da manhã para a tarde vi o José Salvador do outro lado da rua quando eu regressava do almoço.
Acresce dizer que naquele tempo a Baixa Pombalina estava repleta de muita gente trabalhadora e muitos poucos turistas… Outros tempos!
Reparo então no José e do lado de cá da rua envio-lhe uma saudação:
- Olá José! Boa tarde…
Ele percebe-me, acena e com um sorriso responde:
- Viva boa tarde!
E foi nessa altura que:
- Olha lá já perfilhaste a criança?
Não o deixando responder continuei em tom acusatório:
- A miúda já teve a criança… vê se és um pai como deve ser…
Coitado do José que perante esta minha acusação em tom alto no meio da rua e perante tantos desconhecidos nem soube o que responder. Apressou o passo...
Mais tarde num jantar falei-lhe daquela partida para lhe pedir desculpas pela brincadeira parva, mas ele na sua impecável bonomia, nem me acusou, dizendo simplesmente:
- Deixaste-me embaraçado!