Há muitos anos dois tios meus suicidaram-se separados aproximadamente por duas semanas. Ambos utilizaram o mesmo método que foi o enforcamento. Uma coisa terrível na família.
Não fui ao funeral do primeiro, mas fui ao do segundo. Na missa de corpo presente o padre pareceu-me um tanto contrariado por ter de fazer um segundo funeral por uma morte igual. Na eucaristia acabou por dizer que se mais alguém tivesse desejo de se matar ele não viria fazer o funeral.
Não houve até hoje mais nenhum caso. Felizmente.
Muitos anos mais tarde em conversa com um padre amigo falei-lhe do suicídio e acabei por questionar como a Igreja estava a aceitar a situação. Confessou o meu amigo que a sociedade estava realmente muito mudada e a igreja começava a entender que as doenças mentais eram uma realidade com desfechos obviamente diferentes.
Avancemos agora no tempo e aterramos no dia de ontem. Telefonaram-me da Beira Baixa a comunicar que certa pessoa que eu conhecia bem havia dado um tiro na cabeça. Tinha apenas 53 anos e com ele fiz alguns negócios especialmente com a venda de pinhal e outrossim de cortiça.
Acrescentaram à notícia que o homem estava com graves problemas financeiros tendo já vendido toda a manada e o rebanho de ovelhas. Mas ainda assim tudo isto insuficiente para apaziguar os credores.
Costumo dizer que a vida dá muitas voltas. Por vezes demasiadas, mas a morte nunca poderá nem deverá ser solução, pois os problemas acabam por ficar e recairem nos ombros dos eventuais herdeiros.
Entretanto a Igreja diz agora que quem se mata terá sido tentado por Satanás. Uma forma estranha, mas eficaz e excelente de aceitar o suicídio de tante gente.
Alguns bons amigos perguntam-me de vez em quando porque não entreguei os meus livros a uma editora mais conhecida e com distribuição?
Entre diversas respostas que poderia eventualmente dar há uma que sobressai e me endossa para a Feira do Livro de Lisboa.
Fui esta tarde à Feira que estava bem composta de gente anónima (portugueses e estrangeiros), alguns escritores, jornalistas e provavelmente também alguns leitores. Nos diversos palcos diferentes temas a serem debatidos e alguns livros.
Subi e desci a calçada do Parque Eduardo VII por diversas vezes. Bisbilhotei aqui, olhei ali, comprei acolá. Nas maiores editores as filas de pessoas para pagar cresciam como rabos de lagartixa. Outras faziam fila para recolher aquele autógrafo do escritor. Também notei muitas mesas vazias com autores à espera que alguém ali caísse com um livro seu. O mundo é mesmo assim... escritores sem mãos a medir enquanto outros apenas aguardam.
Será por tudo isto que prefiro publicar através de uma pequena editora, sem quaisquer compromissos futuros. Mais... não estou nada a ver-me sentado num daqueles palcos a debater as razões lógicas e ilógicas dos meus livros, perante um público que certamente não me conheceria.
Quanto ao resto da Feira... remeto para este postal escrito o ano passado!
Estou a escrever este postal assente apenas no que vou lendo e escutando na rede. Assim PS parece ganhar à AD, enquanto a IL baterá o Chega. Mais à esquerda BE, Livre e PCP lutam pelos lugares que restam. Em todos os casos será por muito pouco, o que significa que até ao final da noite muita coisa pode mudar.
No entanto há um dado que pode ser já retirado: a abstenção baixou. Não muito mas caíu! Segundo algumas sondagens poderá chegar aos 60% contra os quase 70% de 2019. Diria que o voto em mobilidade destas eleições poderá ter ajudado a esta descida.
Entretanto se o PS ficar à frente da AD, mesmo que seja com o mesmo número de deputados, prevejo uma semana assaz assanhada com Pedro Nuno Santos a tentar chegar-se à frente aproveitando esta maré moderadamente positiva para os socialistas.
Por fim diria que historicamente os portugueses votam pouco nas eleições europeias. Pensam e provavelmente com alguma razão que pouco ou nada farão os nossos representantes em Estrasburgo. A verdade como sempre estará mais ou menos a meio!
Entretanto os votos vão chegando e mais logo tudo se saberá.
Já imaginava que o meu mais recente livro originasse muitas reacções. Começo a conhecer esta boa gente e fiquei a aguardar as primeiras ditas cujas.
E estas não se fizeram esperar. Umas mais assertivas outras simplesmente carinhosas, fica a certeza de que este desafio valeu a pena.
No dia 20 de Maio a Isabel publicava no seu blogue "livrosquesãoamigos" uma espécie de editorial do livro.
Bastou rasgar-se uma só folha de calendário para a doce Ana publicar esta doçura. Mas foi também nesse mesmo dia que a poeta Ana Mestre denunciava a chegada do meu livro neste seu postal.
Eis que surge o dia 22 e a fantástica ilustradora Olga brindava-me com este belo naco de prosa. Se bem que ela é a maior e a melhor obreira desta beleza... exterior!
Mais um dia e mais uma reacção. De uma bloguer açoriana que conhecia pouco (e ela a mim, provavelmente!), mas que num ápice cimentámos uma boa amizade. Tão, tão bonito!
Neste mesmo dia alguém divulgava ter recebido também um exemplar. Pelo que escreveu a encomenda surgiu no momento ideal. Fico imensamente feliz por isso.
Finalmente um dia de descanso. Ufff! No entanto logo no dia seguinte, 25 de Maio, e sob a pena do meu amigo João-Afonso surgia uma análise fantástica. Só mesmo ele para entender todos os meandros. Obrigado companheiro!
Mais um dia e mais uma reacção. Desta vez de uma contadora exímia de estórias e que anda um tanto fugidia da escrita, com grande pena minha. Mas também ela reagiu ao livro que lhe ofereci . E de que maneira!
Mais uns dias de repouso nesta aventura de reacções para no dia 30 o meu amigo Manuel reagir assim. Foi um verdadeiro prazer brindá-lo com um exemplar, caríssimo amigo!
Entrei em Junho com mais uma reacção. Desta vez a ATGP agradeceu simplesmente. Vale tanto como todas as outras pois o que conta mesmo é a singeleza da palavra.
Remato este conjunto de fantásticas reacções com um texto... emblemático. Escrevi emblemático porque tanto eu como o Pedro abraçamos com fervor o mesmo emblema clubístico. Porém o remate certeiro para mais um golo na nossa amizade pode ser visto neste postal tão bem esgalhado.
Acredito que surgirão mais textos sobre o meu livro, mas até lá fico com este número primo de postais que me fizeram e fazem diariamente acreditar que valeu a pena abraçar este caminho.
Ao que percebi termina hoje a campanha eleitoral para a eleição de deputados para o Parlamento Europeu.
Uma votação quase sempre pouco concorrida, até porque se percebe que os nossos 21 deputados pouco ou nada podem contra os restantes países com maior número de representantes. A acrescer temos as ideias fixas de cada partido representado que, em vez de pensarem no seu próprio país, apenas se ocupam das suas bravatas políticas.
Espero ir votar, até porque é um dever cívico. Mais... se não vot,ar que direito terei eu em criticar seja quem for? Votando mesmo que seja em branco, tudo será obrigatoriamente diferente!
O voto branco e o nulo correspondem, quase sempre, a um voto de protesto. Não interessa a razão ou razões dessa opção, mas será uma forma real de mostrar desagrado.
Desta vez não vi nenhum debate, nem vi qualquer campanha, nem escutei nenhum dos candidatos, porque tenho mais que fazer...
Enfim, mais um acto eleitoral do qual todos os partidos vão sair todos vencedores, mesmo que percam votos!
Quando em casa oiço a palavra "supermercado" todos os meus alertas internos se acendem naquela luz vermelha, quase sempre assinalando perigo.
São diversas as razões que me levam a detestar uma ida... "às compras".
Mas antes de esplanar as minhas razões assumo que se for sozinho até nem será mau de todo, pois se me pedem para trazer três coisas, por exemplo, pão, leite e cenouras é óbvio que é isso que trago e não 3333 coisas.
Bom... a primeira razão tem a ver com a hora do acto, geralmente acontece numa altura em que a fome se aproxima. O resultado parece óbvio e acaba sempre por se comprar coisas a mais, não necessariamente desnecessárias (passe o pleonasmo!).
A segunda prende-se com os produtos e a sua duvidosa qualidade. A quase obrigação de comprar produtos da marca da casa, porque não há de outras marcas irrita-me olimpicamente.
A terceira razão advém daquela subtileza das pessoas das caixas em tentarem vender... solidariedade. Calculo que os "caixas" a isso sejam obrigados, mas a carteira é minha. Pois... mas há quem vá sempre nesta conversa dos... coitadinhos!
Finalmente o povoléu que adora passear-se no estabelecimento, acompanhado da família até ao 35 grau. Nada gastam, mas enpatam...
Hoje em conversa com um ex-colega de trabalho e hoje bom amigo, dei conta que um outro nosso companheiro estará neste mundo por pouco tempo. Um cancro na próstata a que se seguiu um dos pulmões (era um fumador inveterado) e finalmente problemas nos rins que a quimio não veio ajudar. O destino dele estará traçado para breve, suponho eu!
Tirando esta triste realidade ficámos ambos a conversar sobre outros colegas e das suas estranhas características. Algumas com graça outras nem tanto mas ainda assim... recordámos.
Depois de termos desligado as chamadas fiquei a pensar naqueles 37 anos 9 meses e 25 dias. Tanta coisa que passei, tanto que eu aprendi, tanto que terei eventualmente ensinado. Mas diria que foram bons tempos. Não obstante algumas diferenças, especialmente políticas, ainda assim alinhávamos pelo mesmo diapasão e a palavra solidariedade não era apenas... uma mera palavra. Era uma filosofia de vida.
Pelo que sei hoje tudo mudou. Estes miúdos acabadinhos de sair das faculdades com médias fantásticas e convencidos que são os melhores do Mundo e arredores ainda não perceberam que também são seres humanos e por isso candidatos a tudo de mau que acontece aos outros.
Ainda lidei com alguns que nem se dignavam cumprimentar quem quer que fosse. Todavia ainda coloquei o dedo no nariz de diversos. Ficavam muito ofendidos e fugiam de mim a sete pés. Problema deles.
Faço agora a ponte para as crianças que ora vou lidando (vulgo netos). A todos quero passar os mesmos ensinamentos que me entregaram e outros aprendidos nos caminhos da vida e que considero deveras importantes. Acima de tudo gostaria que os meus descendentes entendessem que as outros também podem ser importantes nas suas vidas. E não me refiro apenas à família. Diria mesmo que a família muitas vezes é parte do problema. Sempre fui pessoa afável. Falta-me beleza física, mas quando gosto de alguém dou-me por inteiro. Talvez por isso tenha tantas amizades (e nem falo das do feicebuque, que essas não contam para isto).
Entretanto as nossas crianças já nasceram num Mundo altamente competitivo e não gostam nem sabem perder. Vencer a todo o custo parece ser o lema.
Remato com o desejo de acordarmos as nossas crianças para uma outra realidade. Aquela onde se estende a mão a quem precisa!
Seja no animal homem seja noutro animal qualquer a vida terá em princípio dois ciclos. O primeiro começa quando se nasce. Nesse tempo todos os seres são indefesos e estão entregues aos cuidados de quem os vai criando, sejam pais ou mães. Crescem, ganham valências e finalmente capacidade para decidir. Até que um dia, quase de repente partem sem dizer nada a ninguém. É neste preciso momento que se fecha um ciclo, para logo se abrir um novo.
Vem este tema à superfície porque hoje constatei que os meus netos voadores... partiram do ninho.
Há mais ou menos um mês encontrei na minha laranjeira do quintal este ninho
e logo nesse dia aqui escrevi sobre ele. Três ovos de melra "entregues à sua sorte" pensei eu na altura.
O tempo passou célere e no 20 de Maio voltei a perscrutar o ninho para perceber se havia evolução. E havia já novidades.
Também na altura esgalhei qualquer coisa sobre este ninho.
Mais uns dias sem me intrometer na vida melriana até que encontrei estes meninos, já numa bonita postura e bem desenxovalhados.
Novo postal a dar conta desta evolução, no final do mês passado.
Ontem voltei a espreitar por entre a folhagem verde e dei conta apenas de dus crias. Provavrelmente a mais velha já voara para parte incerta.
Dois fantásticos exemplares de jovens melros que me olhavam quase com desdém. Entretanto hoje dei conta do fecho do tal ciclo de vida, ao perceber que o ninho estava completamente vazio.
A minha neta que é esperta e depois de lhe ter inventado uma estória com três melros, pergunta-me a certa altura:
A frase/pergunta do título deste postal remonta aos anos setenta aquando da entrada nas nossas casas da primeira telenovela brasileira chamada "Gabriela, Cravo e Canela" do escritor, jamais nobilizado, Jorge Amado.
Lembrei-me desta frase no passado Sábado quando me encontrava na fila para pagar combustível e reparei que a senhora que me precedia teve de se valer de um quinto cartão para poder pagar a despesa feita.
Também eu tenho vários na carteira, mas nunca tive essa necesssidade de rapar de uma série deles para que um pudesse pagar a minha dívida.
Quando trabalhava encontrei diversos casos de pessoas com seis, sete cartões e até mais, todos eles de crédito. Com um pagavam o crédito do outro e assim sucessivamente, até à altura em que os rendimentos... não chegavam para pagar as dívidas.
A literacia financeira dos nossos ancestrais avós (poupar para uma eventualidade) foi modernamente substituída pela ideia do "gastar vamos"! Com as tristes figuras que muitos fazem. Neste caso não sei se a senhora teria algum problema com cartões ou apenas buscava um onde pudesse encaixar a despesa. Todavia fico sempre desconfiado quando dou conta de casos onde as pessoas assentam a sua normal vida numa filosofia tão popular como é a do popular "maltês de bronze: ganha dez e gasta onze"!
Continuo a dizer que é necessário ensinar as crianças, desde o básico, que o dinheiro também serve para... poupar!
As crianças são o melhor que há no Mundo. Esta é uma frase conhecida e bem real. Então para mim que já carrego com três netos no meu bornal...
Talvez por isso esteja muito longe de concordar com a ideia de haver um dia especial só para as crianças, quando todos os dias do ano deveriam ser deles. Rigorosamente todos.
Não sou nada apologista dos dias especiais, sejam eles nacionais ou mundiais. Nem dia da Mulher, do homem (também há!!!), da árvore, dos animais ou dos avós! Dito assim estes dias cheiram-me sempre a esturro.
O ano passado também escrevi sobre este meu pensamento. Não pelo dia de ontem mas por um outro.
Portanto e no seguimento do que escrevi acima hoje (também) é dia da Criança. Nem que seja aquela que vive dentro de nõs e que por vezes nem damos conta.