- Alfredo se um dia eu publicar um livro gostaria que fosse prefaciado por si. Posso contar consigo?
Naquele seu ar tão característico entre a troça e a ironia respondeu-me que sim.
Mas a vida laborar alterou-se substancialmente para ambos acabando ele por ir para a reforma muito antes de mim, enquanto eu mudava de departamento. Todavia nunca deixámos de nos ver tanto mais que havia sempre aqueles almoços, a que ele raramente faltava.
Foi um amigo tardio, mas não menos importante e impactante em mim. A sua história de vida teve muitos altos e baixos. Arrisco mesmo assumir que mais momentos baixos… A morte trágica de um filho ainda muito jovem e mais tarde da filha velha derrubou-o mais que a ditadura fascista de Salazar.
Só que Alfredo era um poeta fantástico. Enveredou também pela música e com alguns outros músicos associou-se num Grupo musical que se chamou Grupo Outubro! Estávamos em 1974 e o 25 de Abril era uma fantástica realidade para a maioria da sociedade portuguesa.
Tantos concertos por esse país fora. O regresso a casa a tarde a más horas, mas jamais faltava aos compromissos laborais. Filiou-se e desfiliou-se do PCP por razões que só ele soube, mas foi sempre um homem assumidamente de esquerda. Todavia esta sua visão progressista da sociedade e do Mundo nunca toldou a sua lucidez política e social. Assumia-se estar sempre contra. Como ele próprio dizia: quando todos estão contra eu fico a favor, quando estão a favor eu estarei sempre contra.
Relacionei-me numa fase em que Coordenava um grupo de juristas e muitas vezes o ajudei nas suas bravatas informáticas que eu conseguia resolver. Daqui a nossa relação de proximidade e mais tarde de amizade.
Faleceu na quarta-feira, mas só hoje é que eu soube! Tinha 79 anos.
Força companheiro Alfredo. Será sempre, sempre, sempre a "muralha de aço"!
Já por aqui fui escrevendo e mostrando fotos dos meninos pequeninos do meu quintal.
Estão naturalmente crescidos. Daqui a nada estão a voar.
Adoro constatar que, não obstante estas crias serem vedetas, continuam bem humildes já que no seu acolhedor ninho deixaram-se ficar como se eu não existisse.
Espero sinceramente que este calor que hoje se fez sentir não venha para ficar. Na Beira Baixa onde andei quase todo o dia sob um Sol inclemente e feroz não houve água que me dessentasse.
Vale que as terras ainda contêm muita água após um Inverno e uma Primavera bem mais chuvosa que anos anteriores. Os rios ainda correm com fervor e as charcas estão cheias.
O calor beirão é conhecido pela sua pujança que só se consegue amenizar com a modernidade do ar condicionado.
A erva verde principia a secar transformando-se em feno doirado que brevemente será aconchegado em fardos, para gastar mais tarde com o gado sempre esfomeado.
Esta canícula derrete-me por completo. É por estas e por outras que continuo a gostar do Inverno.
Há dois filmes que me marcaram e confesso gosto muito de rever. Um deles é Forrest Gump com o Tom Hanks e os seus cinco òscares da Academia de Cinema Americana. Outro é "A vida é bela" do italiano Roberto Benigni que conquistou também ele três óscares.
Ambos muito diferentes no enredo, realizaçáo e interpretação ainda assim têm algo em comum: a vida!
Por muito mal que nos aconteça há que olhar a vida com outros olhos e diferentes perspectivas. Assim fez Guido no campo de concentração nazi com o seu filho de conco anos, assim fez Forrest ao salvar o seu tenente sem pernas das garras da morte.
A vida! Essa ideia estranha, mas realista de que aquela é "somente" o oposto da Morte como confessou uma figura carismática do denominado "jet-set" luso.
Aprendi no caminho de muitos anos que já levo, independentemente do que pretendo e penso fazer, algo haverá que me deixará longe da minha primeira ideia.
Tinha previsto para hoje o meu costumado regresso a minha casa perto da praia, para amanhã voltar à cidade e na sexta partir mais uma vez para a praia... Um pouco simpático porém necessário vai-vém de piscinas de filas de trânsito.
Mas a vida fez com que num singelo minuto tudo se desconfigurasse, já que faleceu uma tia na aldeia.
Resultado... parto amanhã para a Beira Baixa para voltar na sexta com um velório e um funeral pelo meio. Se contar as voltas que terei de fazer... diria que vai ser um fim de semana bem prolongado e há meia dúzia de horas completamente impensável.
Temos de ser objectivamente resilientes para aceitarmos que esta tal de... vida tem muito mais força que a nossa normal vontade.
Sei que este é um tema recorrente neste espaço, mas como já escrevi noutros postais sempre gostei de números redondos ou estranhos. Por exemplo, quando antigamente apanhava um autocarro para a escola e comprava bilhete (muito tempo antes da introdução do passe social) costumava ver o número inscrito naquele pedaço de autorização para andar de transporte. Se aquele fosse uma capícua ou mais dificilmente um número redondo era certo que o guardava por esntre as páginas de alguns livros.
Certamente daqui a muuuuuuuuuuuitos anos os meus netos poderão ter a ousadia de abrir um livro desses que eu conservo e verem sair de lá pequenos bilhetes sem saberem a razão de ali se encontrarem.
Também neste mundo da blogosfera me socorro amiúde das estatísticas da SAPO Blogs para ali encontrar, de vez em quando, números curiosos.
Desta vez é um número redondo de comentários...
Se é certo que muitos deles, diria quase metade, correspondem às minhas respostas, ainda assim há muitos que não são meus e são trocas entre leitores e comentadores. Finalmente reparem neste número de há quase oito anos... Quanta mudança...
No fundo estes valores acabam por explicar muita coisa. Essencialmente porque ando (ainda) por aqui. Quiçá com menos intervenções externas, talvez já tivesse abandonado este caminho.
Mas são os meus fiéis leitores e comentadores que me fazem (e bem) andar nesta roda-viva!
Estava eu sentado a tentar encontrar algo sobre que escrever quando toca o telemóvel. Um antigo colega e agora amigo. Atendi e tivemos esta breve conversa:
- Viva João (nome fictício) com estás?
- Olá Zé, como vai a bizarria?
- Tudo fantástico.
- Telefono-te para te dizer que já recebi o teu livro?
- Boa! Foi rápido... - respondi enquanto pensava que o livro levara uma semana para fazer meia dúzia de quilómetros!
Por fim lança a fatal questão:
- Quanto te devo?
- Nada! Pediste-me alguma coisa?
- Não!
. Então... só espero que te divirtas a ler.
- Mas os livros são caros...
- Eu não levo dinheiro dos meus livros. A ninguém! - depois expliquei-lhe o que já aqui havia escrito.
O nosso diálogo acabou com este remate do seu lado:
- Ao ofereceres os livros ninguém dirá mal da tua escrita!
- Pois... és capaz de ter razão... - ri e acabámos por nos despedir.
Só que aquela última frase do meu amigo não caiu "em saco roto" e de súbito, eu que estava sem tema para escrever, encontrei o mote de hoje.
E principio com uma questão simples: será que somos capazes de ser isentos numa análise eivada de amizade?
Por este lado gosto de pensar que sim, mas o problema é que, por exemplo, os livros que me chegam dos autores são muito bons. Logo as minhas criticas tendem a ser bem positivas perante aquilo que vou lendo.
Posto isto lanço uma pergunta à comunidade: seremos realmente capazes de distinguir a amizade da competência, e fazer uma crítica com a maior isenção possível?
O lema deste meu blogue é "Escrever mesmo que a mão me doa".
Quem me diria que há 12 anos quando o abri para ser "apenas" o fiel depositário de uma escrita mais elaborada, aquele se tornaria um veículo muito mais importante do que imaginei. Para ajudar a escrever o lema daquele espaço lembrei-me da frase da Amália Rodrigues (não sei a frase original é dela, mas sempre ouvi como sendo) que cantaria "até que a voz me doa". Com uma ligeira modificação tirei o substantivo voz colocando a mão e troquei a preposição (até) por um advérbio (mesmo).
A verdade é que passados esta dúzia de anos as minhas mãos não se encontram nas mesmas condições às daquela altura. Sofro de um problema denominado "dedo em gatilho" que me limita especialmente os dedos, pois consigo fechar uma das mãos mas para a abrir necessito quase sempre de ajuda da outra mão.
Contudo nada disto já me impediu de trabalhar. E curiosamente é no portátil quando escrevo que as mãos me doem menos. Já consultei um médico da especialidade que me aconselhou aquele medicamento que já uso com frequência, mas que o INFARMED ainda não deve ter registado e que dé pelo nome de... aguentocaína.
Algumas vezes receio pegar em objectos mais pesados ou frágeis pois posso correr o risco de os deixar cair, com as consequências inerentes ao acto!
Posto isto diria que escrever será, de tudo o que faço diariamente, o menos violento para as minhas mãos. Todavia pode ser complicado para a minha cabeça que trabalha quase sempre em excesso de velocidade.
´Quase todos os dias surgem aqui e ali notícias sobre alguém que bateu mais um record do Guiness! Pelo que já percebi há records para tudo, especialmente parvoíce!
Olhando para os intervenientes da coisa, pergunto a mim mesmo o que ganharão as pessoas que de dispôem a fazer certas imbecilidades?
Qual o interesse em bater records idiotas e parvos como comer bichos estranhos ou obectos cortantes? Já percebi que há concursos para bater records sobre as coisas mais aberrantes e estúpidas.
Todavia mantenho a questão: para quê?
Reconheço que há pessoas que adoram testar os seus limites físicos e mentais, descobrindo capacidades que nunca imaginaram, no entanto a maioria é gente com a mente completamente frita por Sol a mais ou alguma droga mais forte.
Finalmente não pretendo bater qualquer record... sobre nada, nem sequer do homem mais velho.
Tenho hoje para comigo, essencialmente para aquilo que escrevo, uma exigência quase fundamentalista, já que quando me iniciei na escrita ligava pouco à forma e ao conteúdo. Escrevia só porque sim ou porque sentia necessidade.
Decorreram muuuuuuuuitos anos e nestes vivi muitas vidas e a vida viveu também de mim, para agora aqui chegar, olhar para a estante e ver lá dois singelos livros com o nome deste autor na lombada. Em termos absolutos será pouca coisa, mas em termos muito pessoais é algo que conquistei.
Publicar um livro não é difícil nem extremamente caro (também depende do número de exemplares impressos!!!), mas para mim tornou-se numa bravata interior enorme. Que textos escolher e dos escolhidos qual deles deverá ser o primeiro? Devo emendar muito as prosas ou deixá-las como foram publicadas? Reescrever aqueles textos mais pobres ou mantê-los, até para que se percebe como foi a nossa evolução?
Diversas questões que ainda hoje coloco a mim mesmo e para as quais não tenho uma resposta certa... nem errada!
Como já escrevi acima publicar hoje um livro tornou-se uma coisa (quase) banal. Todavia arriscar um segundo parece algo muito mais arriscado. Se não vejamos: a matriz original da minha escrita será sempre o primeiro livro. No entanto uma segunda aventura obrigou-me a ser mais competente, a arriscar mais, a retirar de mim novas valências de escrita, isto é, a elevar a fasquia do anterior. Ainda estou para saber se consegui...
Por isso escrever é mesmo um desafio permanente, mas também com distãncia, como se fosse um jogo de xadrez onde sacrifico agora uma torre para ganhar diversos lances à frente um xeque-mate.
Valho-me nestes exercícios de publicação dos amigos que por aqui fui, em boa hora, arregimentado. Eles são inocentemente culpados de tudo isto que tenho feito acontecer! Dos blogues, dos desafios, dos livros e das reacções. Porque sempre me incentivaram e me mostraram o caminho, mesmo sem que disso tivessem verdadeira consciência.
No fundo é para eles todos este postal!
Com receio de olvidar algum, não divulgo os seus nomes, mas todos eles sabem (oh se sabem!) como os admiro e como lhes estou eternamente grato.
Hoje a meio da manhã a minha neta que andava a cirandar pelo jardim chama-me num tom de voz estranho:
- Avõ, avõ vem cá depressa!
Não fui qu'isto dos miúdos andarem sempre a chamar por nós por qualquer coisa menos vulgar tem de acabar. Entrou na cozinha onde eu ultimava o almoço e puxa por mim, enquanto dizia:
- Encontrei um ninho...
Entrei na brincadeira:
- A sério?
- Sim... outro!
'Pera aí! Outro? Segui a miúda!
- Olha ali - e apontou-me para uma enorme cameleira.
Coloquei-me sob o arbustro e na verdade lá estava o ninho, mais pequeno que este, mas ainda assim com "gente" dentro (leia-se ovos... ainda!).
A cachopa andou todo o dia esfusiante, mas a determinada altura expliquei-lhe que os animais desejavam mais sossego que visualizações. Algo que ela compreendeu!
Esta pequena crónica matinal fez-me lembrar um caso muito recente na minha aldeia e que se passou com a minha mãe. Reza assim o episódio:
A aldeia é um ponto de passagem quase obrigatória para os peregrinos que se dirigem para Fátima com origem na zona de Lisboa e arredores. Muitos sobem a serra por um trilho ingrato mas com uma paisagem bonita, outros preferem contornar a serra. Mais quilómetros mas menos desnivelado.
Durante muitos anos a minha mãe foi quase a única cuidadora da igreja. Daí ainda muita gente quando passa na aldeia vai bater-lhe à porta pedindo acesso à velha capela. Hoje já se escusa amiúde, mas de vez em quando lá faz o jeito de escancarar as portas do templo. Naquele fim de tarde surgiu-lhe um jovem que se identificou como sendo peregrino e a solicitar se a minha mãe poderia abrir a capela.
Respondeu que sim, mas teria de ser rápido pois tinha de dar de comer às galinhas e o sol estava quase a esconder-se. Entusiasmado o jovem questionou se via algum inconveniente em ele ver as galinhas. A minha mãe respondeu que não e levou-o às capoeiras onde o rapazito ficou, ao que parece, encantado. Depois:
- Posso lever uma delas?
- Para que queres uma galinha?
- É só para mostrar aos miúdos peregrinos.
- Hoje não que já é tarde, mas amanhã podes aparecer e levar uma delas.
O miúdo feliz levou a chave da capela para ainda antes da noite a entregar. A verdade é que no dia seguinte bem cedo o rapaz lá estava à porta de casa da minha mãe em busca da ave que levou... para mostrar aos miúdos. Passado uma hora veio devolvê-la e agradeceu!
Ora tudo isto leva-me a pensar na maneira como muiutas crianças são, não só educadas, como instruídas. A minha neta tem quatro anos, já viu galinhas, coelhos, patos, borregos, cabritos e demais animais. Não teme as lagartixas e aranhas que por aqui convivem e lida bem com todo o tipo de bichos que encontra. Agora deu conta que as aves nascem nos ninhos. Uma aprendizagem empírica que só lhe fará bem para o resto da vida!
Ao invés as crianças de e da cidade só conhecem alguns animais de os verem no pequeno ecran. Talvez por isso tenham menos consciência animal... e um escusado e bizarro receio da Natureza.